Juros do cheque especial voltam a subir para o consumidor

Correio Braziliense

O encolhimento da taxa básica de juros (Selic) pouco sensibilizou os bancos e financeiras, que encareceram diversas linhas de financiamento, conforme dados divulgados ontem pelo Banco Central (BC). No cheque especial, por exemplo, a taxa anual passou de 323%, em dezembro de 2017, para 324,7%, em janeiro de 2018. Mesmo estando mais baixa do que a taxa do primeiro mês do ano passado, de 328,3%, a queda de 3,6 pontos percentuais é bem inferior ao corte de 6,25 pontos da Selic no mesmo período. Em janeiro de 2017, os juros básicos estavam em 13% ao ano.

No cartão de crédito, quem recorre ao rotativo e paga pelo menos 15% do valor da fatura, terá que arcar com juros anuais de 241%. O valor é 7,1 pontos percentuais maior do que o cobrado em dezembro passado. No caso dos juros para parcelamento da fatura, a taxa subiu pelo sétimo mês consecutivo e chegou a 171,5%, o maior percentual desde o início da série histórica, em março de 2011.

No caso do crédito pessoal, os juros médios tiveram um acréscimo de 1,8 ponto percentual, para 46,1%. A maior elevação se deu no crédito pessoal não consignado, que disparou 9,3 pontos percentuais, para 122,6%. Nem o consignado, a linha de financiamento mais barata, com desconto em folha, se salvou dos aumentos. Para trabalhadores do setor privado, por exemplo, o aumento foi de 0,8 ponto percentual, para 40,6% ao ano.

O chefe do Departamento de Estatísticas do BC, Fernando Rocha, explicou que o aumento de 7,1 pontos percentuais na taxa do rotativo regular do cartão de crédito em janeiro, para 241% ao ano, ocorreu porque um número reduzido de bancos aumentou os juros para o produto. “Mas a maior parte das instituições manteve as taxas relativamente estáveis”, ressaltou. No caso do parcelamento do cartão de crédito, Rocha argumentou que a alta se deve à maior demanda pela modalidade, após as mudanças promovidas pelo BC, com a limitação do rotativo a 30 dias.

A falta de concorrência no mercado bancário é apontado por diversos analistas como um dos principais fatores para justificar os juros praticados no Brasil. Com cinco bancos dominando o mercado, as taxas tendem permanecer elevadas. Em estudo divulgado no ano passado, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) apontou que os custos financeiros, operacionais e tributários, além da inadimplência são os principais fatores que pressionam as taxas de juros no Brasil.

Explicação

Segundo a entidade, a ausência de informações sobre bons e maus pagadores leva as instituições financeiras a serem conservadoras na hora de emprestar recursos aos clientes. Com isso, todos pagam taxas maiores para cobrir eventuais calotes. Uma projeto de lei para alterar o cadastro positivo está em tramitação no Congresso Nacional e foi definido pelo BC como prioridade para 2018. Pelo texto, todos serão incluídos na lista e precisarão solicitar a exclusão. Atualmente, é necessário pedir para fazer parte do ranking.

A ausência de leis que garantam a retomada dos bens dos clientes inadimplentes também é apontada pela Febraban como um impedimento à queda nos juros. Conforme a entidade, enquanto o índice médio de recuperação desses bens é de 16% no Brasil, chega a 69% na média mundial.

Alheio ao debate, o mestre de obras Leandro Martins, 33 anos, precisou usar o limite do cheque especial, há um ano, para pagar parcelas da casa própria. Desde então, paga mensalmente em juros metade do valor liberado pela instituição bancária, já que a dívida acumulou. “Eu peguei R$ 1 mil no banco para pagar algumas parcelas do meu imóvel e estou pagando em torno de R$ 500 só de juros mensais”, explica.

O débito está atualmente em R$ 2 mil e Martins critica as altas taxas de juros. “É um absurdo. Se eu soubesse que teria que pagar tão caro, nem teria pedido o crédito do cheque especial”, reclama. “Até para tentar fazer um acordo é complicado. Mas espero que até julho eu esteja com essa dívida quitada”, planeja.

Já para a servidora pública Luciana Borges, 65 anos, quitar o empréstimo que fez para pagar o seguro-caução do aluguel e as contas de cartão de crédito atrasadas não foi nada fácil. “Eu fiquei dois anos com dívida, porque, sempre que atrasava algum pagamento, os juros eram quase o valor do meu débito. E isso acabou virando uma bola de neve”, conta.

Para ela, se as taxas fossem menores, não teria ficado dois anos no vermelho. “Seria tudo mais simples e o número de pessoas endividadas iria despencar”, criticou.

Pedro Augusto é jornalista e repórter do Jornal VANGUARDA.

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