Mãe de estudante morta na Nicarágua reclama de falta de apoio

Mãe da universitária brasileira assassinada segunda-feira (23) na Nicarágua, a aposentada Maria José da Costa disse hoje (25) que, até o momento, não recebeu qualquer tipo de informação ou ajuda das autoridades brasileiras. A maior preocupação dela agora é com o traslado do corpo. Maria José também quer que a embaixada brasileira atue no sentido de ajudar as autoridades nicaraguenses a identificar e punir os responsáveis pelo assassinato de sua filha única, Raynéia Gabrielle Lima, que há seis anos cursava medicina naquele país.

“Estou às cegas. Minha filha morreu há mais de 24 horas e ninguém toma providências. Eu quero que ela volte o mais rápido possível para Pernambuco, para ter o enterro que merece”, disse Maria José ao participar do Revista Brasil – programa da Rádio Nacional de Brasília ancorado pelo jornalista Valter Lima, veiculado pela Empresa Brasil de Comunicação (EBC).

Maria José se emocionou em diversos momentos, ao longo da entrevista. “Estou sem condições de fazer algo na minha vida. Sem condições até para respirar. Minha filha estava estudando para realizar o sonho que não conseguia realizar no Brasil. Retiraram para sempre todo o sonho dela, que desde os oito anos de idade dizia querer ser doutora para ajudar as pessoas.”

Diante dessa situação, Maria José aproveitou o programa veiculado pela EBC para fazer um apelo ao governo brasileiro. “Pelo amor de Deus, tragam o corpo de minha filha, que está há mais de um dia em uma gaveta congelando. Tragam o mais rápido possível para que ela tenha seu descanso eterno. É muita dor, muito sofrimento, que estamos passando.”

Segundo ela, Raynéia Gabrielle não era de participar de manifestações políticas nem passeatas. “Raynéia não gostava disso. Era uma filha dedicada que a toda hora falava que me amava. O que vai ser da minha vida agora, sem ela? Essa dor nunca vai passar. Quem tirou a vida dela vai ter de pagar por isso”, disse Maria José, ao cobrar ajuda das autoridades brasileiras.

As poucas informações que tem de sua filha foram dadas pelo sogro de Raynéia, que é quem pagava pelo curso de medicina da estudante na Nicarágua. “Ele [o sogro] não era de ligar para mim. Quando recebi a ligação pensei de imediato que algo de ruim havia acontecido com minha filha. Entrei em desespero”, disse a aposentada.

De acordo com as informações repassadas à mãe da estudante, Raynéia havia saído do hospital onde fazia residência para se dirigir à casa de uma amiga. Foi ao longo desse percurso que ela foi assassinada, quando estava sozinha dirigindo seu carro.

“Minha filha já tinha tudo planejado para o seu retorno ao Brasil. Até julho ela viria para o Recife, onde iria fazer a prova do Revalida, para poder exercer a profissão de médica por aqui e ajudar a salvar vidas”.

Itamaraty
Contatado pela Agência Brasil, o Itamaraty disse ter entrado em contato com o pai de Raynéia, Ridevando Pereira, e com o meio-irmão da estudante, Sandro Diego Mendonça, além da ex-cunhada Juliana Holanda. Disse ter sido feito também uma tentativa de contato com Maria José por volta das 18h15 de ontem (24), mas que, em função do estado emocional dela no momento da ligação, foi solicitado pela família que o contato fosse feito posteriormente – o que segundo Maria José acabou não ocorrendo.

O Ministério das Relações Exteriores informou que permanece em contato com familiares de Raynéia Gabrielle Lima, por meio do Núcleo de Atendimento a Brasileiro em Brasília e do Escritório do MRE em Recife.

“A Embaixada do Brasil em Manágua está prestando todo o apoio cabível no sentido de obter a documentação necessária para a liberação do corpo e providenciando o levantamento dos custos pertinentes, informando-os à família. Os procedimentos médico-legais são de competência exclusiva das autoridades da Nicarágua, responsáveis pela liberação do corpo. O governo brasileiro e a Embaixada em Manágua têm insistido junto às autoridades nicaraguenses sobre a necessidade imperiosa de pronta elucidação do caso.”

Ontem (24), o Itamaraty chamou, para consultas no Brasil, o embaixador brasileiro na Nicarágua, Luís Cláudio Villafañe Gomes Santos.

A embaixadora da Nicarágua no Brasil, Lorena Del Carmen, também foi convocada para prestar esclarecimentos sobre o caso. Por meio de nota, o Itamaraty manifestou indignação e exigiu que as autoridades nicaraguenses mobilizem todos os esforços necessários para identificar e punir os responsáveis pelo assassinato da estudante.

No texto, o governo brasileiro condenou “o aprofundamento da repressão, o uso desproporcional e letal da força e o emprego de grupos paramilitares em operações coordenadas pelas equipes de segurança” e repudiou a perseguição a manifestantes, estudantes e defensores dos direitos humanos.

A estudante brasileira Raynéia Gabrielle Lima foi morta, na noite de segunda-feira, com um tiro no peito que, segundo o reitor da Universidade Americana (UAM), Ernesto Medina, foi disparado por um “um grupo de paramilitares” no sul da capital Manágua.

Da Agência Brasil

Pedro Augusto é jornalista e repórter do Jornal VANGUARDA.

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