A operação da Polícia Civil do Rio de Janeiro que investiga a suposta existência de material inédito do cantor e compositor Renato Russo supostamente obtido de forma ilegal movimentou o cenário de pesquisadores e produtores musicais que trabalharam com a obra do artista e da Legião Urbana. Na avaliação deles, há excessos na investigação e informações desencontradas circularam a partir das buscas feitas na segunda-feira (26/10).
Produtor musical de Renato Russo, Carlos Trilha afirmou, em postagem nas redes sociais, que o que existia de material inédito “já foi totalmente espremido”. “ Não existem músicas inéditas. Existem letras não usadas por Renato que estariam sendo musicadas por terceiros”, escreveu. “As tais ‘versões inéditas’ de músicas que já existem é quase certo que sejam remixagens utilizando as vozes guia das faixas que possuíam este registro. (Renato odiaria isso)”, complementou. Trilha não foi alvo das ações da operação.
A jornalista e escritora Christina Fuscaldo, autora do livro Discobiografia legionária, avalia que as ações da operação de ontem podem ser consideradas uma espécie de censura. “Se o herdeiro do Renato Russo avançar com isso e sair vitorioso (e a gente sabe que a imprensa tem papel fundamental na crítica ao ocorrido), abre um precedente que será péssimo para nós, jornalistas, escritores, documentaristas, produtores etc. Mal comparando, isso é tipo a proibição do livro do Roberto Carlos”, escreveu também nas redes sociais.
“Amanhã, podem bater na minha (casa) alegando que, porque eu fiz um livro, ‘pode ser’ que eu tenha material inédito. Ou de outros fãs que compram, vendem, colecionam material inédito (tem muitos por aí)”, registrou. “Caso eu seja uma das acusadas pelo herdeiro, já digo logo: nunca tive material inédito, meus livros falam só de discos oficialmente lançados..”
Violência
O produtor e pesquisador Marcelo Froes afirmou, em entrevista ao Correio na noite de segunda-feira, Froes que foi surpreendido pelas buscas e apreensões da Polícia Civil. Froes, que trabalhou por anos com a família do líder da Legião Urbana e teve contato próximo com o músico, tornou-se alvo após a Polícia começar a investigar denúncias do filho de Renato, Giuliano Manfredini, a um perfil fake. Em entrevista ao jornal O Globo, o fã responsável pelo perfil fake afirmou que apenas divulgou materiais que já estavam disponíveis na rede.
“Sempre fui muito assediado por fãs para saber se ia sair alguma coisa do Renato, por esse trabalho que fiz. Casualmente, conversei com uma menina que tinha interesse muito grande pelos bastidores. Fãs eram muitos ávidos por informações e não tinha nada demais em conversar com eles. Mas, uma dessas pessoas era um fake (essa menina) que tinha um site para falar mal de gravadoras e cobrar lançamentos da Legião. Vim saber isso quando a polícia bateu na minha porta. Essa pessoa reclamava de uma forma bem agressiva, o que deve ter feito o Giuliano tomar providências”, disse Froes.“Essa situação me prejudica porque preciso do meu celular, do meu computador para fazer o meu trabalho. É uma violência.”
A assessoria de imprensa de Giuliano informou que, por ora, ela não se pronunciará sobre o assunto.