Todos os 414 profissionais cubanos ocupando vagas em Pernambuco deixaram de trabalhar na quarta-feira (21). O Ministério da Saúde informou o desligamento automático às secretarias de Saúde. Caso trabalhassem, estariam cometendo crime de exercício ilegal da profissão, já que estavam aptos a trabalhar somente por meio do Programa Mais Médicos.
Os dois primeiros embarcam nesta quinta (22) no Aeroporto Internacional dos Guararapes com destino a Havana. O medo de quem se acostumou a ser bem cuidado aumentou. Eliete Braga, 58 anos, é a cuidadora do marido, Carlos Fernandes, 69, em Xicuru, bairro dez quilômetros afastado do centro de Caruaru, no Agreste. Moram a três casas da Unidade de Saúde da Família (USF) justamente pela necessidade do marido. “Ele passou por três cirurgias cardíacas e o médico o desenganou. Disse que tinha 3% de chance de viver. Está vivo, com o pós-operatório todo acompanhado sistematicamente pelo médico atual. Ele tem diabetes e insuficiência renal. Aí, as taxas sobem. Uma série de problemas que ele resolvia com toda paciência”, conta.
Antes, Eliete vivia em Firmeza, na Zona Rural de Caruaru. Lá, onde o acesso era muito mais difícil, também era atendida por uma cubana frequentemente. “Temos sentido a diferença. Ela ia lá em casa. O médico anterior passava um dia e atendia 50 pessoas de uma vez. Agora, sem ninguém, temos um caso delicadíssimo a uma distância enorme até a UPA”, reclamou.
O médico esteve no USF ontem, apesar de não poder trabalhar. Tinha ido se despedir dos amigos que fez. Caruaru já tinha quatro vagas de profissionais do Mais Médicos. Em Brejo da Madre de Deus, também no Agreste, uma médica cubana acompanhou os sete meses de gestação de Jucilene da Silva, 34, que exibe a barriga com orgulho. “Aqui sempre teve um médico responsável, mas fixo mesmo, só a cubana”, relatou. Hoje, o posto ao lado de sua casa já está vazio e ela precisará ir até a UPA da cidade, a cinco quilômetros de distância, para qualquer problema de saúde. Essa dificuldade de ter a atenção básica como porta de entrada do sistema de saúde preocupa os secretários, onera e sobrecarrega os hospitais, como mostrado ontem pela Folha de Pernambuco.
A necessidade de ir até a UPA é a mesma das vizinhas Anatiane Silva, 29, e Michelle Silva, 21, que moram em frente à USF de Barra de Farias. Mas o motivo não é a falta dos cubanos. “A médica daqui é brasileira, de Caruaru, mas chega depois das 9h, começa a atender às 10h e, às 12h, já voltou para casa”, reclamou.
Sem a presença dos cubanos do Mais Médicos, algumas unidades do Agreste já estavam esvaziadas ontem. Das visitadas pela reportagem, seis no total, uma nem chegou a abrir as portas: o Posto do Trevo, na entrada de Brejo da Madre de Deus. Para o secretário de Saúde de Brejo, José Edson, a USF mais difícil de colocar médicos é a de Mandaçaia, pela distância. A cubana que trabalhou até anteontem na unidade informou, por meio de um vizinho, não poder ter contato com a imprensa, por ordens de Cuba, que podia “prejudicá-la” quando voltar ao país.
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