Municípios brasileiros que implementaram melhorias na educação básica chegaram a ter uma queda de 25% nas taxas de homicídios e óbitos por causas externas, um aumento de 200% nas taxas de empregos entre os jovens, e a ampliação de 15% nas matrículas no Ensino Superior.
Os dados fazem parte de um estudo, cuja conclusão aponta o impacto positivo de uma educação de qualidade na primeira infância para o aumento das perspectivas dos jovens.
O documento foi elaborado por Naercio Menezes Filho, professor do Insper e da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP, junto ao aluno de mestrado da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto da USP Luciano Salomão.
“Isso acontece porque eles estão mais bem preparados para o futuro. Mostra que conseguiram desenvolver habilidades cognitivas e socioemocionais”, afirma Naercio.
O trabalho criou um novo índice de qualidade no ensino básico nos municípios, chamado Ideb-Enem. Com ele, foi possível correlacionar diferentes indicadores de saúde, segurança, empregabilidade e acesso ao Ensino Superior.
O Ideb-Enem combina a proporção entre estudantes de 6 e 7 anos matriculados no início da educação básica que aos 17/18 anos prestaram o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), e suas notas alcançadas no exame. Com isso, mede quanto cada município contribui para a progressão (o aluno passar de ano) e o aprendizado dos jovens no seu sistema escolar.
“Dessa forma, as redes que retiverem seus alunos e deixarem somente os melhores atingirem o ensino médio serão penalizadas pelo índice, ao passo que as redes em que grande parte dos alunos do ensino médio decidem participar do Enem seriam beneficiadas, pois conseguiram elevar as expectativas de seus alunos”, diz o estudo.
Outra característica do Ideb-Enem é a de que tanto redes municipais (responsáveis pela educação infantil e fundamental) quanto estaduais (que atuam no ensino médio) precisam ser bem sucedidas para garantir uma trajetória sem repetências, com interesse em realizar o Enem e um bom desempenho no exame.
“A beleza desse estudo é que ele desagrega os dados do ensino médio por municípios, o que não é comum de ser feito. Com isso, capta onde houve melhor desempenho e acha indícios bastante claros de que quando as redes conseguem bons percursos inteiros podemos ver efeitos e indicadores sociais na vida desses jovens”, diz David Saad, diretor-presidente do Instituto Natura, que patrocina a pesquisa.
O documento analisou como as variações na qualidade do ensino básico, medidas pelo novo índice entre 2009 e 2014, estão relacionadas com diferentes indicadores de saúde, violência e mercado de trabalho de jovens de 22 e 23 anos entre 2014 e 2019.
“É interessante que para ter sucesso nesse indicador é preciso que deem certo todas as fases: manutenção de todos na escola, não repetência de ano e, no ensino médio, de responsabilidade do estado, o estímulo para fazer Enem e ir bem no exame. Assim, o poder público está entregando um jovem que fez todo o caminho como deveria ter feito”, pontua Naercio.
Em estudo recente, os pesquisadores Francisco Soares, José Aguinaldo Silva e Maria Teresa Alves mostraram que apenas 53% dos estudantes brasileiros tiveram, no período entre 2007 e 2015, uma trajetória que possa ser considerada regular ao longo do ensino fundamental, sem evasão e repetência.
Com pouco mais de 100 mil habitantes, a cidade de Ubá, na Zona da Mata mineira, foi uma das 50 no Brasil que mais aumentaram seu Ideb-Enem neste período, segundo o estudo. A cidade ganhou mais de 500 novos universitários em 2019 em comparação com 2014.
“Ter mais universitários na cidade é muito positivo. Significa que Ubá terá, no futuro, mão de obra mais qualificada e melhor prestação de serviços. É um ganho de mais professores, fisioterapeutas, advogados…”, analisa Samuel Gazolla Lima, mestre em Gestão e Avaliação da Educação pela UFJF/Caed e secretário municipal de Educação de Ubá.
Gazolla, que já havia ocupado o cargo entre 2009 e 2012, afirma que o município viu, apesar de mudanças na prefeitura, uma continuidade das políticas educacionais. Uma delas é a Prova Carinhosa, uma avaliação diagnóstica aplicada no ensino fundamental da cidade.
” Ela foi a base para a gente estabelecer metas de cada escola para alcançarmos e, com isso, planejar nossas ações. Essa estratégia, aliada a investimentos constantes nesses anos todos em infraestrutura, nos proporcionou importantes avanços no Ideb”, avalia Gazolla.
De acordo com o estudo do Insper, os efeitos mostram que um aumento de um ponto no Ideb-Enem está associado a um aumento de 19 matrículas, em média. Eles são identificados especialmente nas matrículas em instituições privadas. Já para as matrículas em instituições públicas, foram percebidos aumentos, mas não estatisticamente significantes para a variação do índice.
“Esse é um índice com duas variáveis. Então, para crescer um ponto dele, é preciso melhorar a quantidade de alunos que fazem o Enem sem repetir nenhum ano ou o desempenho deles no exame”, diz o exame.
Para o estudo, os pesquisadores utilizaram dados públicos externos como DataSus, Censo Demográfico do IBGE, Censo Escolar e do Ensino Superior do Inep, além de Microdados RAIS e CAGED do Programa de Disseminação das Estatísticas do Trabalho (PDET), do Ministério do Trabalho.
Agência O Globo