Após a elevação de mais 1 ponto percentual na taxa básica de juros – a Selic, anunciada na última quarta-feira (22/09), o mercado financeiro aguarda a divulgação da ata do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), na próxima semana, e a nova prévia do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA-15) que será divulgada nesta sexta-feira (24/9), pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e deverá guiar as próximas projeções econômicas.
O reajuste do BC que elevou a taxa de 5,25% para 6,25% ao ano já era esperado pelos agentes econômicos e foi o mesmo aplicado na reunião anterior, em agosto. Os dois avanços foram mais incisivos do que os de costume – entre 0,25 e 0,75 e, ao todo, já são cinco altas consecutivas na Selic. O Comitê já antecipou que outro ajuste na mesma magnitude deverá ser realizado na próxima reunião, no dia 27 de outubro.
“Pode-se dizer que o tom do comunicado do Copom foi firme e neutro. Firme, pois a decisão atual foi unânime, foi coerente com as últimas falas dos membros da cúpula (…) e não abre possibilidades para algo diferente de 100 pontos-base na próxima reunião”, diz a equipe do banco BTG Pactual Digital, em nota.
No relatório do BTG Pactual Digital, divulgado ontem, o banco ressalta que as reduções nas projeções de crescimento das economias asiáticas, refletindo a evolução da variante Delta, apontadas pelo Comitê, adicionam risco para as economias emergentes. “Além disso, o comitê citou uma possível reversão, ainda que parcial, do aumento recente nos preços das commodities internacionais. O Copom pode usar esses elementos para uma futura redução no ritmo de ajuste na taxa de juros após a reunião de outubro”, informa a instituição financeira.
O mercado também já vem há alguns dias montando suas projeções sobre o IPCA-15 de setembro. A mediana das estimativas da pesquisa do Projeções Broadcast, do jornal O Estado de São Paulo, aponta que a inflação deverá avançar acima de 1%, batendo recorde histórico para o mês de setembro. O intervalo entre as estimativas vai de 0,90% a 1,14%.
“Com o IPCA-15 com projeção de 1,03%, teremos mais um número de inflação salgada, acima de 1%. Até o fim do mês, o índice fechado de setembro também deverá continuar bem elevado, em torno de 1 e 1,90 %, então nesse âmbito de inflação, a gente continua não vendo notícias muito positivas por enquanto”, afirma Daniel Silva, economista da Novus Capital, instituição financeira com menor margem de erro nas previsões para o IPCA, a médio prazo.
A última prévia da inflação, referente a agosto, o reajuste foi de 0,89%, acumulando alta no ano de 5,81% e, em 12 meses, de 9,30%, acima dos 8,59% observados nos 12 meses imediatamente anteriores.
Bens industriais
Silva explica que o que mais preocupa, neste momento, é o comportamento dos preços industriais. “O preço de energia elétrica, alimentos e combustíveis elevados são mais voláteis. Mesmo tirando esses componentes mais voláteis da inflação, o comportamento dos preços industriais devem continuar elevados”, alerta.
A elevação nos preços de bens industriais também é apontada como ponto de observação pelo BTG Pactual Digital, que destaca que, no curto prazo, os custos de energia elétrica também preocupam. O banco explica que, apesar do cenário desafiador, ainda não há como garantir que o BC saíra da previsão de reajuste abaixo de 100 pontos-base.
“Mesmo com um balanço de riscos mais negativo para as expectativas de inflação até a próxima reunião do Copom, o cenário externo mais desafiador e os componentes domésticos que mais preocupam neste momento não garantem mais 100 pontos-base em dezembro, sob risco desta decisão deprimir ainda mais as expectativas do PIB para 2022”, alerta o BTG, que mantém a projeção de mais 1% de alta na reunião de outubro e 0,75% em dezembro, o que levaria a taxa Selic a 8,0% no fim do ano.
Impactos da alta Selic
Mesmo que o BC aumente a Selic aonde precisar para controlar a inflação, a ferramenta traz impactos negativos, como a redução de investimentos, explica a economista Catharina Sacerdote. “A Selic é uma ferramenta para controle da inflação, mas tem outros impactos como a redução da liquidez de recursos para consumo, empréstimos mais caros, mas oferece também taxas de juros atraentes para poupar. Isso também tem impacto na redução de outros tipos de investimentos, já que todo investidor avalia a taxa de retorno de projetos como os de infraestrutura com base nos juros do país, ressalta a especialista em investimentos.
Segundo Sacerdote, também é preciso considerar o reflexo da disponibilidade de crédito e recursos através dos auxílios que, na avaliação da economista, aumentam o consumo. “Não há uma fórmula, nem uma única ferramenta para controlar a inflação. Mas o aumento dos juros reduz a liquidez de recursos disponíveis para consumo, tanto porque os empréstimos ficam mais caros, quanto porque fica atraente fazer investimentos e poupar”, pontua.
Dólar
Apesar de aguardar novos indicativos para as próximas previsões, o mercado financeiro já responde aos resultados da reunião do Copom e do Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos. Nesta quarta-feira (23/09), nem mesmo a tranquilização com relação à Evergrande, que afirmou que honrará um pagamento de US$ 35,9 milhões, manteve a moeda norte-americana em baixa, que fechou em alta de 0,09%, a R$ 5,30.
A ata da última reunião do Copom será apresentada na próxima terça-feira (28/09). Até lá, o BTG Pactual Digital admite que não há como dar certezas. “(A Ata) pode trazer informações sobre o ciclo de alta da Selic suficientes para nos fazer acreditar que a taxa terminal será mais elevada”, informa.
Correio Braziliense