Após o novo ministro Nelson Teich defender testagem em massa para “começar a sair do isolamento”, o Ministério da Saúde sinalizou que pretende ofertar testes rápidos para a população economicamente ativa, pessoas acima de 60 anos e portadores de doenças crônicas que apresentarem sintomas de Covid-19.
Até então, esses testes estavam restritos a profissionais da saúde e da área de segurança. A nova orientação consta em boletim epidemiológico divulgado pelo Ministério da Saúde neste domingo (19).
O texto afirma que, a partir da maior oferta de testes aos estados e municípios, o Ministério da Saúde irá recomendar que grupos de riscos e trabalhadores sejam “progressivamente” incluídos na rotina desse tipo de testagem, que verifica a presença de anticorpos contra o vírus.
A nova política de testagem, diz a pasta, “permitirá a identificação dos casos confirmados de Covid-19 com aquisição de imunidade, permitindo o estabelecimento do isolamento com maior precisão, bem como o retorno as atividades com maior segurança”.
“Em qualquer caso e como medida indiscriminada, o Ministério da Saúde reforça a necessidade dos cuidados de higiene respiratória e distanciamento social”, completa.
O ministério não deixa claro de que forma os testes seriam aplicados -em geral, a orientação é que isso ocorra após o 7o dia de sintomas, por meio da coleta de amostras de sangue.
A recomendação por manter ou flexibilizar o isolamento, no entanto, varia conforme o público. “No caso da população economicamente ativa, sem condições de risco, mesmo com o resultado negativo do teste, sugere-se a manutenção do isolamento domiciliar até o limite de 14 dias após o início dos sintomas”, diz o boletim.
Os testes para essa faixa atingiriam pessoas entre 15 e 59 anos com quadro de síndrome gripal.
Apesar de manter o isolamento, o teste ajudaria a saber quem já teve anticorpos para o vírus –o que indicaria que, após 14 dias, a pessoa poderia voltar ao trabalho.
“O resultado do teste positivo, tanto para portadores de condições crônicas como para a população economicamente ativa, indica a presença de anticorpos contra o SARS-CoV-2, o que significa que houve exposição ao vírus, não sendo possível definir apenas pelo resultado do teste se há ou não infecção ativa no momento da testagem.”
Para profissionais de saúde e segurança, o uso dos testes rápidos tem sido indicado após o 8º dia de afastamento, e após 72h sem sintomas. Neste caso, se negativo, há possibilidade de retorno ao trabalho, desde que com equipamentos extras de proteção.
Já no caso de pessoas portadoras de condições clínicas de risco, o resultado do teste negativo reduz a chance de que a pessoa esteja infectada pelo SarS-CoV-2, mas o acompanhamento clínico é necessário, informa a pasta.
A pasta recomenda que pessoas com condições de risco sejam acompanhadas, preferencialmente pelo telefone, a cada 24h, até completar 14 dias do início dos sintomas.
A orientação é que todos os pacientes com diagnóstico de síndrome gripal liguem para o 136 a fim de serem monitorados. Em caso de piora, o paciente é direcionado para avaliação presencial imediata.
O Ministério da Saúde tem dito que quer adquirir, através de compra direta ou doação, ao menos 17 milhões de testes rápidos. Contudo, não divulga cronograma de aquisição e testagem.
Nesse volume, estão 5 milhões de testes doados pela mineradora Vale, dos quais 2 milhões já foram distribuídos. Também há previsão de adquirir ao menos 12 milhões de testes por meio de um chamamento público.
O novo ministro da Saúde, Nelson Teich, tem defendido um programa de testes para entender a doença. Em seu primeiro pronunciamento, na sexta (17), ele falou que os exames são o caminho para sair da política de isolamento.
“Quanto mais a gente entender da doença, maior vai ser a nossa capacidade de administrar o momento, planejar o futuro e sair desta política do isolamento e do distanciamento. Para conhecer a doença, a gente vai ter que fazer um programa de testes. É fundamental que a gente tenha uma avaliação do que que é esta doença hoje”, disse Teich.
Neste domingo, em reunião com representantes de Saúde do G-20, o ministro ponderou, no entanto, que os testes não são suficientes para enfrentar a pandemia.
“A Coreia do Sul, que é um exemplo nessa situação, fez em torno de 10 mil testes [por 1 milhão de pessoas], a Itália que viveu situação muito mais crítica, fez 21 mil testes por milhão de pessoas. O simples fato de fazer testes não garante que a gente vai sair [da crise sanitária], são a política e as ações que você desenha com essa informação é que vão definir como a gente vai sair desse problema”, argumentou.
No início do mês, o próprio ministério da Saúde apontou “limitações importantes” nos testes rápidos doados pela Vale que foram distribuídos aos estados. Nas análises que apontam negativo para a Covid-19, a probabilidade que o resultado reflita a realidade é de apenas 25%.
As informações constam em documento distribuído a gestores estaduais e municipais, que manifestam preocupações com a baixo índice de acerto dos testes que não detectam o novo coronavírus. O ministério, no entanto, alega que o percentual aumenta conforme o protocolo aplicado e o tempo de sintomas, sendo mais eficaz após o sétimo dia de sintomas.
Diz ainda que, embora o resultado do teste não confirme nem exclua o diagnóstico completamente, é possível usá-lo em conjunto com outras informações para qualificar decisões.
Apesar da sinalização de aumento da oferta de testes rápidos a alguns públicos, o Ministério da Saúde diz em boletim que os testes de RT-PCR, que visam verificar o material genético, continuam sendo a indicação principal de testagem no país.
Um desafio, no entanto, é aumentar o processamento de amostras. No boletim, o ministério informa que quer usar laboratórios de genética forense da Polícia Civil nos Estados, estruturas da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e de unidades de saúde ligadas ao Ministério da Defesa.
Também finaliza parcerias público-privadas para aumento de testes em cidades acima de 500 mil habitantes, informa.
A atual capacidade de teste diário no Brasil é de, aproximadamente, 2.000 a 3.000 exames. “Insuficiente para o controle da epidemia em um país com a população acima de 200 milhões de habitantes, com dificuldades logísticas e de acesso”, diz o documento.
Folhapress