Correio Braziliense
A força-tarefa do Ministério Público de Goiás (MPGO) que investiga as denúncias de abuso sexual supostamente cometidas por João de Deus quer a prisão preventiva do médium. O pedido foi protocolado do Fórum de Abadiânia (GO), na tarde desta quarta-feira (12). A cidade goiana abriga a Casa Dom Inácio de Loyola, onde o médium faz os atendimentos espirituais e aconteceram os crimes, segundo as denunciantes.
Um dos argumentos do pedido de prisão é o bom desenvolvimento do processo. Os promotores temem que, com o acusado em liberdade, vítimas se sintam amedrontadas e deixem de denunciar.
A assessoria de imprensa do MPGO confirmou o pedido de prisão, mas não deu detalhes pelo fato de o caso estar em segredo de Justiça. Até a última atualização desta reportagem, não havia informação sobre o nome do juiz que vai analisar o pedido da força-tarefa. O Correio ainda não localizou o advogado Alberto Toron.
Caso a prisão seja decretada, funcionários de João de Deus garantem que ele irá se entregar, logo que seu advogado negociar um local e prazo para que isso ocorra. Nessa terça-feira, o médium estava em São Paulo. Hoje, irá passar a noite em Goiás.
Desde a última sexta-feira (7), João tem sido alvo uma série de denúncias de violência sexual. O MPGO recebeu, até as 17h desta terça-feira (11), 206 atendimentos a mulheres que se apresentam como vítimas de João de Deus. Duas delas moram no exterior, uma nos Estados Unidos, outra, na Suíça. O formato de seus depoimentos ainda será definido.
A maioria das possíveis vítimas fez contato (156 até o momento) por meio do canal criado exclusivamente para essa finalidade, o e-mail denuncias@mpgo.mp.br. Elas se identificaram como sendo de Goiás, do Distrito Federal, de Minas Gerais, de São Paulo, Paraná, do Rio de Janeiro, de Pernambuco, do Espírito Santo, do Rio Grande do Sul e do Mato Grosso do Sul.
Uma força-tarefa do MPGO coordena as investigações. A Delegacia Estadual de Investigações Criminais (Deic), em Goiânia, também apura o caso. Lá, pelo menos cinco vítimas foram identificadas.
A data do pedido de prisão coincide com a volta do líder espiritual à Casa Dom Inácio, onde ele esteve na manhã desta quarta-feira, dia de atendimentos. No entanto, ele chegou com duas horas de atraso e permaneceu no recinto por só 8 minutos. Assessores disseram que ele foi embora rápido por estar passando mal, com pressão arterial alta.
Dentro da casa, o médium goiano disse que está à disposição da Justiça brasileira. “Irmãos e minhas queridas irmãs, agradeço a Deus por estar aqui. Quero cumprir a lei brasileira. Estou nas mãos da Justiça. O João de Deus ainda está vivo”, declarou.
Repórteres e cinegrafistas que aguardavam João de Deus no local foram agredidos com socos e até mordidas. Alguns fiéis ameaçaram os profissionais de imprensa. “Vocês terão câncer e voltarão todos aqui para se curar. Você se arrependerão do que estão fazendo”, gritava uma mulher. “Lamentamos o que aconteceu, não é de nosso costume, mas foi uma situação que saiu do controle”, comentou Cláudio Prujar, voluntário da Casa Dom Inácio que ficou responsável por atender a imprensa.
João de Deus deixou Abadiânia logo após o almoço. Acompanhado de assessores, seguranças, advogados e de pessoas próximas, ele deve retornar ao município nesta quinta-feira. Existe a possibilidade de ele conceder uma entrevista coletiva. Os detalhes ainda não foram acertados.
O religioso está medicado e sendo acompanhado por médicos. “Ele está muito abalado. Não está acostumado com esse tipo de agitação. Graças a Deus ele tem boa saúde, mas está muito abalado”, destaca um interlocutor do médium, que pediu para não ter o nome divulgado.
Mesmo com a presença dele, não houve movimentação em sua casa, em um bairro no centro do município.
A organização da Casa de Dom Inacio de Loyola já prepara um plano para a segurança dos atendimentos de amanhã. Uma das ideias é não liberar o acesso da imprensa.