“A gente estava conversando ali antes, vamos falar de política ou vamos falar sobre os personagens? Acho que a série tem esse hibridismo”, comentou o ator Enrique Diaz, o doleiro Roberto Ibrahim (alusivo a Alberto Youssef) de O Mecanismo, produção da Netflix livremente inspirada em eventos reais da operação Lava-Jato. De fato, a política norteou as perguntas dos jornalistas e as respostas dos atores presentes na coletiva de imprensa da segunda temporada, realizada na manhã desta terça-feira, no Copacabana Palace, Rio de Janeiro. O Mecanismo 2 estará disponível no serviço de streaming a partir de sexta, com oito episódios. O diretor José Padilha, como esperado, foi quem pegou o microfone mais vezes. Muito para falar sobre Sérgio Moro, a quem criticou publicamente e duramente no último mês.
Padilha defende que o texto, publicado na Folha de S. Paulo em 16 de abril, não questionava a atuação do então juiz Sérgio Moro na Lava-Jato, mas sim na conduta do agora ministro da Justiça Moro. “Escrevi sobre a parte do pacote que lida com a polícia, argumentei que estimula a violência policial e facilita a milícia, que coincidentemente elegeu Flávio Bolsonaro. Escrevi sobre a tragédia pessoal de Sérgio Moro, que, se for inteligente, deve estar extremamente arrependido das escolhas que fez”, declarou o diretor. “Bolsonaro não tem maioria no Congresso e está negociando de várias formas diferentes para tentar aprovar suas reformas, usando Moro como moeda de troca, ‘olha, eu tiro caixa 2 do pacote e ganha um voto do Centrão’. Então, o Moro saiu de herói nacional pra salame fatiado e entregue em pedaços ao Centrão para serem aprovadas as reformas”, completou.
A segunda temporada está melhor estruturada, na visão do elenco presente na coletiva: Selton Mello (Marco Ruffo na ficção / Gerson Machado na vida real), Carol Abras (Verena Cardoni / Erika Marena), Emílio Orciollo Netto (Ricardo Brecht / Marcelo Odebrecht) e Jonathan Haagensen (Vander / sem menção conhecida), além de Enrique Diaz. “Na temporada 2, muitas coisas se esclarecem. Ela apresenta o outro lado, muita gente vai poder ver um ponto de vista diferente”, disse o intérprete de Ibrahim.
Na coletiva, Enrique Diaz manifestou logo de cara seu posicionamento. “Abaixo o desmonte na educação pública, fora milícias, fora milicianos, fora familícias. E Lula livre”, declarou, antes de responder sobre as críticas feitas à primeira temporada da série, cuja estreia ocorreu em pleno ano eleitoral (2018) e, na visão de muitos, foi prejudicial à campanha de Fernando Haddad, por enfatizar a corrupção do PT – e outros mais, como associar a frase “estancar a sangria” a Lula, e não ao seu verdadeiro autor, o senador Romero Jucá. “A temporada 2 apresenta o outro lado, mas não tira a marca que a primeira temporada resolveu assumir, de corroborar com discurso anti-petista, num momento decisivo. Essa marca não sai. O anti-petismo teve função essencial que nos levou a uma cagada monstra”, afirmou.
Diario de Pernambuco