O ministro da Justiça, Sergio Moro, silenciou sobre as declarações do presidente Jair Bolsonaro (PSL) em relação à Polícia Federal. O ex-juiz federal ficou apenas três minutos em um evento marcado pela pasta nesta quarta-feira (4) e foi embora sem responder a perguntas.
O ministério convocou a imprensa para uma entrevista sobre a terceira fase de uma operação de combate à pedofilia, deflagrada nesta manhã (4). A presença de Moro estava confirmada, ao lado de secretários e diretores da pasta.
O ministro fez o discurso de abertura da entrevista, falou por cerca de dois minutos e meio e disse que teria de ir embora para um outro compromisso. A reportagem perguntou a Moro, enquanto ele se retirava da sala do ministério da Justiça, sobre a troca de comando da PF. Ele não respondeu, acenando com a mão, dando tchau.
Um dia antes, à Folha de S.Paulo, Bolsonaro afirmou que o comando da Polícia Federal precisa dar uma “arejada” e chamou de “babaquice” a reação de integrantes da corporação às declarações dele sobre trocas em superintendências e na diretoria-geral.
Bolsonaro disse ainda que já teve uma conversa com Moro sobre uma possível mudança na direção da PF, subordinada ao ministro da Justiça. “Está tudo acertado com o Moro, ele pode trocar [o diretor-geral, Maurício Valeixo] quando quiser.”
A assessoria do Ministério da Justiça não soube informar para qual compromisso o ministro foi ao deixar a entrevista. Em sua agenda disponível no site, havia uma reunião com a desembargadora Rosane Portella Wolff, às 11h. O evento com a imprensa começou às 10h35.
Desde o início da crise com a PF, o ministro falou sobre o assunto apenas em uma entrevista apara a GloboNews. “Veja, como eu tenho as várias funções aqui do Ministério da Justiça, as coisas eventualmente podem mudar, mas ele está no cargo, permanece no cargo, tem a minha confiança”, disse, em 28 de agosto.
Em compromissos do ministério, Moro tem marcado eventos sem contato direto com a imprensa, fazendo apenas pronunciamentos. A agenda desta quarta, porém, foi o primeira convocada no formato de entrevista coletiva, que pressupõe a dinâmica de perguntas e respostas.
Como mostrou a Folha de S.Paulo, o silêncio do ministro da diante dos sucessivos movimentos de interferência do presidente Bolsonaro na Polícia Federal causou estranheza na cúpula do órgão.
No primeiro episódio da crise, Bolsonaro atropelou a PF e anunciou uma troca na superintendência do Rio, sugerindo inclusive um nome para a mudança. Depois, o presidente colocou em xeque a permanência do diretor-geral, Maurício Valeixo, à frente do órgão. À Folha, nesta quarta, Bolsonaro manteve o tom e reafirmou a necessidade de mudança na PF.
Entenda o caso
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Em julho, Bolsonaro anunciou que Ricardo Saadi seria substituído por Alexandre Silva Saraiva na Superintendência da PF no RJ. A direção da PF, contudo, havia escolhido Carlos Henrique Oliveira Sousa, da Superintendência de PE
Interferência
O anúncio foi malvisto pela corporação como uma interferência do presidente em assunto interno
Quem manda
Em meio a tensões, Bolsonaro alfinetou o ministro Sergio Moro (Justiça)e afirmou que se não puder trocar um superintendente do órgão, pode mudar o diretor-geral
Adiamento
Com a crise, a direção da PF decidiu paralisar temporariamente o processo de indicação do novo superintendente no RJ
Folhapress