Alunos de 34 disciplinas da Faculdade de Ciências da Administração da Universidade de Pernambuco (FCAP/UPE) estão sem aulas por falta de professores. O semestre oficialmente começou na última segunda-feira (4), mas os estudantes tomaram um susto ao descobrir as ausências, que atingem todos os períodos da instituição, localizada na Madalena, Zona Norte do Recife. Segundo a Associação de Docentes da UPE (Adupe), a FCAP é apenas um dos diversos campi espalhados pelo estado que estão com déficit no quadro.
O estudante Felipe Vieira, de 24 anos, cursa o 9º (e último) período de Administração e estava ansioso para se formar. Mas, só no seu período, são quatro disciplinas sem professor. “A gente fica decepcionado, né? Passa um ano estudando, se concentrando, aí quando entra na faculdade, passa a se decepcionar com o que encontra. Eu já estava bem decepcionado, mas foi o auge chegar agora no final e descobrir que só tem um professor dando aula”, lamenta.
A falta de professor também foi um balde de água fria na estudante Maria Luíza Leite, de 18 anos, recém-chegada na universidade. “Das cinco disciplinas do 1º período, somente duas estão com aulas (Introdução à Administração e Economia I). É frustrante. Ninguém tem nem motivação para ir até a faculdade. Eles não oferecem nem o básico, que é ter professor”, reclama. “Hoje prometeram que iriam resolver essa questão, mas a gente não pode viver de promessa, né? Se eu soubesse que ia ser assim, teria escolhido estudar na Federal (UFPE). Sei lá quando vou acabar esse curso agora”, acrescenta.
Por fim, a também estudante Manuela Arruda, de 23 anos, se sente numa espécie de “limbo”. Oficialmente, está no 7º período. Mas não sabe se mantêm as cadeiras do semestre, mesmo sem professor, ou se troca por outras de períodos posteriores. “No período passado, a gente ficou umas duas ou três semanas sem aula de Sistema de Informação, porque demitiram o professor e demorou para chegar o concursado. Gosto da UPE, mas é muito desorganizada”, pontua.
Além da FCAP
O vice-presidente da Adupe, Moisés Almeida, aponta que a falta de professores é um problema que já vem de anos, e não é pontual na FCAP. Cerca de 270 disciplinas, em várias unidades do estado, começaram o semestre sem professores. “A UPE se ampliou, chegou a novas cidades, aumentou a quantidade de cursos, mas o quadro de docentes não acompanhou essa expansão. Logo no início da gestão Paulo Câmara, em 2015, conseguimos pactuar a realização de concursos, de forma escalonada. Mas, infelizmente não foi o que aconteceu”, conta.
“Os concursos que aconteceram nos últimos cinco anos não conseguiram preencher o quadro total da universidade, que é dinâmica e tem muitos professores se aposentando. E essas vagas que vem sendo repostas. Como as novas vagas não foram totalmente contempladas, a UPE acaba contratando docentes de forma precária para suprir essa necessidade a cada semestre”, prossegue Moisés, que cita como exemplo o campus de Petrolina, administrado por ele entre 2013 e 2016: “Há um período do curso de Geografia que não está com aulas porque não tem professor nenhum”.
A Adupe defende três pontos para sanar o déficit de professores: a convocação de todos os professores concursados, a criação de um novo concurso e a divulgação de uma seleção simplificada temporária – enquanto o novo edital não sai. “A seleção seria uma medida de urgência para iniciar o semestre, porque do jeito que está, não tem nem como começar direito. Sem falar que há aprovados em concursos antigos que nem foram chamados”, destaca o presidente da associação, Luiz Oscar Ferreira.
Outro lado
Sobre o déficit na FCAP, a UPE admite a falta de docentes, mas garante que “providências estão sendo tomadas pela gestão central da universidade e que não haverá prejuízos ao cumprimento do cronograma e da carga horária dos cursos”. Em 2019, 11 professores com doutorado entraram para o quadro da instituição – “contudo, o quantitativo não foi suficiente para suprir a necessidade integralmente”.
Contratos, concursos e seleções simplificadas só podem ser feitas com autorização da Secretaria de Administração de Pernambuco (SAD). Em nota à reportagem, a pasta informa que o estado “não mede esforços para a admissão de pessoal visando sanar eventuais problemas existentes. No entanto, é preciso reunir as informações necessárias para que haja autorização para a admissão de novos servidores sem ferir os limites de despesa de pessoal impostos pela Lei de Responsabilidade Fiscal”.
Ainda, a SAD afirma que “desde 2015, contratou mais de 300 profissionais para compor o quadro de docentes da Universidade de Pernambuco”.
Disciplinas sem professor
Manhã – 1º período: Matemática, Filosofia e Psicologia
Manhã – 2º período: Sociologia
Manhã – 4º período: Adm. Materiais
Manhã – 6º período: Estágio Supervisionado I, Adm. Vendas I e Adm. Produção II
Manhã – 7º período: Adm. Varejo e Economia Internacional
Manhã – 8º período: Mercado de Capitais e Gestão de Recursos Humanos
Manhã – 9º período: Gestão da Qualidade, Gestão Operacional e Adm. Pública
Noite – 1º período: Psicologia
Noite – 2º período: Economia II
Noite – 3º período: Comunicação
Noite – 4º período: Organização Sistemas e Métodos I, Adm. Mercadológica I e Adm. Materiais
Noite – 5º período: Organização Sistemas e Métodos II
Noite – 6º período: Adm. Vendas I, Adm. Produção II e Estágio Supervisionado I
Noite – 8º período: Adm. Vendas II, Adm. Distribuição e Gestão da Qualidade
Noite – 9º período: Gerência Empresarial, Gestão Empresas Serviços, Mercado de Capitais e Adm. Projetos
Noite – Turma extra: Pesquisa de Mercado e Gestão Operacional
Diario de Pernambuco