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Que tal transformar um projeto social em um negócio sustentável economicamente? Pois é isso que muitos empreendedores brasileiros têm feito através do “empreendedorismo de impacto”. O conceito se refere a negócios que buscam resolver problemas sociais sem deixar de lado a independência financeira – “entre ganhar dinheiro e mudar o mundo, fique com os dois”, dizem os especialistas – e, segundo o Pipe Social, já foi abraçado por 579 empresas brasileiras. Mas a expectativa é que esse número cresça bastante nos próximos anos, inclusive em Pernambuco. Afinal, o Porto Digital está se preparando para dar o apoio necessário a esse tipo de empreendimento.
“Já apoiamos algumas empresas de impacto. Uma delas é a Mete a Colher, que cria uma rede de apoio a mulheres que sofreram abuso. Mas, agora, vamos oferecer um olhar mais focado para essas empresas, inclusive na nova chamada de incubação, que vai sair no fim do mês”, revela a analista de inovação do Porto Digital, Jéssica Leite, que está participando de um treinamento sobre empreendedorismo de impacto no Instituto de Cidadania Empresarial (ICE) para poder disseminar o conceito no parque de tecnologia pernambucano. “Esses negócios são autossustentáveis e têm lucro como quaisquer outros, mas precisam mensurar o real impacto das suas atividades. Por isso, precisamos trabalhar com métricas”, explica Jéssica.
Esses e outros meandros desse novo tipo de negócio, no entanto, já poderão ser conhecidas amanhã pelos empreendedores pernambucanos. É que o Porto Digital vai promover uma palestra gratuita sobre o tema no Apolo 235, a partir das 19h. E o evento vai contar com a presença da diretora-executiva do Instituto de Cidadania Empresarial (ICE), Célia Cruz, que é referência sobre o tema e diz ver muitas oportunidades para esse tipo de negócio no Recife. “O Porto Digital é referência no Brasil inteiro do ponto de vista do uso da tecnologia. E trazer essa turma da inovação e da tecnologia para essa temática pode gerar mudanças sistêmicas”, explica Célia, que vai conversar com representantes do ecossistema pernambucano durante a visita ao Recife. “Vamos discutir o assunto e apresentar empresas locais para tentar criar uma parceria”, garante Jéssica.
Entre as empresas que devem ser apresentadas à representante do ICE, estão a Ecolivery e a Salvus. A primeira criou um sistema de entrega de encomendas que usa bicicletas no lugar de motos para reduzir a emissão de gás carbônico e a poluição sonora das cidades e ainda dar oportunidades de trabalho aos menos favorecidos. “Um dos nossos ciclistas vendia água mineral na cidade. Ele ganhava R$ 20 por dia. Mas, hoje, tira R$ 1,6 mil por mês fazendo entrega. Ele ganhou uma profissão e uma renda fixa e não precisou fazer nenhum investimento para isso, só precisou da sua bike e de boa vontade”, conta o diretor comercial da Ecolivery, Amílcar Marques.
Já a Salvus controla o volume dos cilindros de oxigênio hospitalares para garantir que não falte ar para os pacientes e reduzir o desperdício do produto. “O mau uso causa até 40% de desperdício e isso aumenta consideravelmente os custos dos tratamentos de saúde. Por isso, queremos promover um tratamento mais eficiente”, conta o sócio Maristone Gomes, garantindo que os chamados negócios de impacto valem a pena. A Salvus, por exemplo, tem menos de dois anos, mas já pode atingir a independência financeira neste ano. “Vale à pena, mas é preciso se apaixonar pelo problema para entender e vivenciar as dores do seu público e levar o projeto até o final”, diz Gomes.