A eleição do presidente Jair Bolsonaro, no ano passado, começou a esboçar um cenário de otimismo e expectativas positivas para a economia brasileira junto aos investidores, de todo o mundo, atentos às oportunidades do Brasil a partir deste ano. Mas as possibilidades de investimentos ainda são esparsas e a roda do mercado de trabalho deve continuar a girar lentamente na recomposição do emprego formal, especialmente em Pernambuco.
Desde o ano passado, de acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), que passou para o âmbito do Ministério da Economia com a extinção do Ministério do Trabalho, o Brasil vem retomando a empregabilidade, com um saldo de 529.554 postos criados em 2018. “Conseguimos reduzir bastante a taxa de desemprego. Tivemos um pico em março de 2017 e março de 2018, com queda significativa, terminando o ano em 11,6%. Com a inclusão de janeiro de 2019, a taxa chegou a 12%, representando um universo de 12,7 milhões de pessoas em desemprego aberto”, afirma o economista e sócio-diretor da Ceplan Consultoria Econômica e Planejamento, Tarcísio Araújo.
Para ele, o resultado é positivo mas do ponto de vista social, a redução de desemprego está longe do ideal. “Isso só será resolvido com um crescimento sustentável. Temos, porém uma vantagem que ocorre a cada recessão: ter uma grande capacidade ociosa, que deve estar além de 40%. Podemos retomar a produção, havendo as condições ambientais favoráveis ao crescimento, sem imediatamente incorrer em novos investimentos”, analisa.
A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, divulgada pelo IBGE no último dia 15, mostra que a recessão, vivida a partir de 2014, deixou sequelas que só o tempo e os investimentos que ele pode trazer vão sanar. Em 2012, o Brasil tinha 32,93 milhões de empregados da iniciativa privada com carteira assinada. O número passou a 36,61 milhões dois anos depois e, no último trimestre de 2018, estes trabalhadores eram 32,99 milhões. Não bastasse a diferença negativa, há o agravante do aumento da força de trabalho que, entre 2017 e 2018, ganhou mais 778 mil pessoas.
“Houve um grande desarranjo no mercado de trabalho, tivemos uma precarização do emprego nos últimos cinco anos, com aumento da informalidade e de mão de obra subutilizada. Milhões de pessoas ficaram desempregadas, enquanto a força de trabalho e a população estão aumentando. A economia tem que crescer não apenas para reempregar quem perdeu o posto, mas para absorver quem está entrando no mercado”, comenta o também economista e sócio-diretor da Ceplan, Jorge Jatobá, ex-secretário da Fazenda de Pernambuco.
Tempestade perfeita
Em Pernambuco, os resultados do Caged de 2018 são ainda mais impactantes. O saldo entre trabalhadores demitidos e admitidos no mercado formal aiu do vermelho de -6.498 de 2017 para 2.023 no ano passado – muito pouco em relação às necessidades dos seus 651 mil desempregados, volume que resultou de uma baixa de 16,7% para 15,5% na taxa de desemprego, segundo a Pnad Contínua, divulgada no mês passado.
“Pernambuco teve um crescimento pífio do emprego formal, com saldo de 2.023 postos, apenas 0,38% do que foi gerado no País no ano passado”, aponta Jorge Jatobá. Com uma economia centrada em serviços, que representa 65% do seu Produto Interno Bruto (PIB), o Estado sofreu queda de 1% no setor em 2018 e mais ainda com a redução de 7,3% nos serviços de administração técnica e profissional, que refletem a baixa de -3.800 empregos na indústria de transformação e de -1.631 na construção. “A construção tem dificuldades porque depende muito de contratações pelo governo e investimentos em infraestrutura , além das incorporações imobiliárias que reduziram muito os lançamentos de imóveis. As perdas de vagas na construção são consecutivas nos últimos cinco anos”, ressalta.
O baixo nível de emprego no Estado se confronta com uma reação positiva à crise e à recessão representada pelo crescimento do PIB de 2,2% até o terceiro trimestre de 2018 em relação ao mesmo período de 2017. As explicações para esta incoerência, segundo Jorge Jatobá, passam por três hipóteses importantes. A primeira é que as novas empresas que vieram para Pernambuco são altamente automatizadas, robotizadas, com vasta inovação tecnológica e alta produtividade no trabalho, “gerando muito valor agregado com poucos empregos”. A segunda é que quem sobreviveu à crise passou por processos de enxugamento, de inovação e saiu dela empregando menos do que antes e, finalmente, pelo peso do Estado como condutor da empregabilidade.
“Em Pernambuco, assim como no Nordeste, o investimento público estadual caiu muito por conta da politica fiscal, isso afeta a geração de emprego. Não tem mais o Estado contratando muitas obras para investimentos em rodovias, portos, aeroportos, em toda infraestrutura. Pernambuco tem investido, com apoio da Caixa, em recursos hídricos, por causa da transposição. Caiu muito o investimento do Estado como proporção da Receita Corrente Líquida”, avalia Jatobá, acrescentando que esta queda nos investimentos estaduais impacta no restante da economia porque não gera massa salarial.
Saída pela qualificação
Secretário de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco, Bruno Schwambach acredita que a qualidade da mão de obra pernambucana, somada ao polo educacional formador de mão de obra qualificada colabora para a atração de investidores que podem atenuar o desemprego. Como exemplo, ele cita o Porto Digital, no Bairro do Recife, que há 18 anos, criou um ambiente de negócios favorável para que pessoas pudessem montar suas empresas, gerar serviços, produzir renda e atrair grandes empresas.
“Temos 300 empresas faturando R$ 1,5 bilhão. Nossa projeção e compromisso é dobrar de tamanho em quatro anos. As empresas que têm vindo para o Estado experimentam a qualidade da mão de obra e se surpreendem. Conseguimos ter uma produtividade maior com custo bem menor que outros centros”, declara. Segundo ele, uma prova é a Accenture, player mundial em TI que começou com um escritório e 30 pessoas, mas foi dobrando de tamanho e resolveu montar seu centro de inovação da América Latina no Recife, com 2.500 empregos, e já projeta chegar a 5 mil em dois anos, vendendo serviços para o mundo inteiro.”
Outro exemplo é o centro de inovação da Fiat Chrysler Automobiles (FCA), que começou pequeno e hoje tem 80 engenheiros e vai para 300 nos próximos quatro anos. A gente tem dito onde vai: venha experimentar Pernambuco e ver que tem gente trabalhadora, muito produtiva, que consegue agregar valor para as empresas que apostam aqui”, diz Schwambach.
Janeiro de 2019
Confirmando a previsão dos especialistas, dado do Caged do mês de janeiro revelou que enquanto no cenário nacional foram gerados 34,3 mil postos de trabalho com carteira assinada, em Pernambuco a situação foi oposta. O estado foi um dos que mais fechou vagas, com saldo negativo de 7.242 postos formais. O resultado foi diretamente influenciado pelo desligamento no setor do comércio, responsável por 9,3 mil desligamentos no mês.
“Já se esperava esse resultado negativo, pois existe a questão do fim dos contratos dos empregos temporários de dezembro. O comércio não vai ficar com um funcionário que foi contratado especificamente pelo aumento da demanda. Seria manter uma equipe grande para atender um número bem menor de clientes”, explica o economista da Fecomércio-PE, Rafael Ramos.