Número de brasileiros com empregos informais bate recorde histórico

A taxa de desemprego no Brasil recuou para 9,3% no trimestre encerrado em junho, o menor patamar para o período desde 2015, quando foi de 8,4%. Por outro lado, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad), divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de trabalhadores informais foi o maior da série histórica iniciada em 2015, estimado em 39,3 milhões. O rendimento médio real habitual dos trabalhadores ficou estável na comparação com o primeiro trimestre, em R$ 2.652. No ano, porém, houve queda de 5,1%.

Fazem parte da população de informais os trabalhadores sem carteira assinada, empregadores por conta própria sem Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ), além de trabalhadores familiares auxiliares. Na comparação com o trimestre anterior, houve um crescimento de 2,8%, o que representa mais 1,1 milhão de pessoas nessa categoria.

O professor de economia do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec) Jackson de Toni destacou que a recuperação parcial do emprego se deve a uma melhora na economia. No entanto, houve uma precarização do mercado de trabalho. “É um emprego diferente do que existia antes, um emprego de mais baixa qualificação, mais precário e que paga menos, muito em função da grande informalidade. Quase metade da população economicamente ativa vive na informalidade, isso significa menos proteção social, menos salário, mais insegurança e mais incerteza”, afirmou.

Despesas

Marcelo Barros, de 32 anos, mora em Planaltina-GO e é microempreendedor individual (MEI) desde 2020, mas não por opção. Ele era pesquisador concursado do IBGE, mas o vínculo temporário terminou e Marcelo precisou contornar o desemprego para contribuir com as despesas domésticas. Há três anos trabalha como fotógrafo. “Comecei por hobby, mas por causa da pandemia e do fim do contrato, atuo profissionalmente agora. Continuo estudando para concurso, que tento desde os 17 anos. A situação nos últimos tempos é pior, porque a remuneração permaneceu igual, só que o preço de tudo aumentou. O que mais impacta é a alimentação, está muito cara”, disse.

De acordo com o IBGE, a população desocupada recuou 15,6% frente ao trimestre anterior, ficando em 10,1 milhões de pessoas, enquanto o número de trabalhadores por conta própria, formais e informais, foi estimado em 25,7 milhões, o maior contingente para um trimestre encerrado em junho. Houve crescimento de 4,3% ante o mesmo período do ano passado.

Já entre os empregados sem carteira assinada no setor privado, o aumento foi de 6,8% frente ao último trimestre. O número de trabalhadores domésticos sem carteira cresceu 4,3% no período, o equivalente a 180 mil pessoas. Com a alta, essa categoria passou a ser formada por 4,4 milhões de trabalhadores.

De acordo com a coordenadora da pesquisa, Adriana Beringuy, o crescimento no número de informais está relacionado a algumas atividades do setor de serviços, que foi bastante impactado pelas medidas de isolamento social durante a pandemia. “Parte importante dos setor, como os serviços pessoais prestados às famílias, tem grande participação de trabalhadores informais e está influenciando essa reação da ocupação. Isso também tem ocorrido na construção, setor com parcela significativa de informais. Então, a informalidade tem um papel importante no crescimento da ocupação”, explicou.

Luiara de Assis tem 27 anos e mora em Taguatinga. Há três anos desempregada, ela precisou recorrer à informalidade. Hoje, Luiara produz alfajores em casa e os vende na linha de ônibus BRT. Ela sustenta o filho sozinha e, por isso, diz buscar melhor condição financeira. “É muito ruim, porque só dá para sobreviver e não tem segurança nenhuma, nem para mim nem para meu filho. Um dia a menos de trabalho e já é aperto. Isso desgasta muito. Não tem respiro”, desabafou.

Na avaliação do economista do Ibmec, apesar da recuperação, o Brasil tende ainda a passar por momentos de crise diante da pressão inflacionária mundial. Para ele, dificilmente nos próximos meses, ou mesmo no próximo ano, o país atingirá uma taxa de desemprego em torno de 5%, como foi visto em 2014. “Só vai ser revertido à medida que os indicadores internacionais e a estabilidade trouxerem mais investimentos e mais oferta de emprego. Empregos de boa qualidade, boa remuneração, que geralmente vêm da indústria e não da área de serviços, como é o que está acontecendo hoje”, avaliou Jackson de Toni.

Pedro Augusto é jornalista e repórter do Jornal VANGUARDA.

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