Número de inadimplentes ainda é alto em Caruaru

Pedro Augusto

No último mês de julho, o Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo e Mercado de Consumo (Ibevar) estimou queda na taxa de inadimplência de pessoas físicas de 4,71%, em comparação com o mesmo intervalo do ano passado, concernente ao país. Já quando tomado como parâmetro o percentual contabilizado através da adoção do Sistema de Proteção de Crédito consultado pelo balcão da Câmara de Dirigentes Lojistas de Caruaru, o saldo referente ao cenário local e correspondente ao quantitativo de devedores acabou sendo um pouco mais animador em relação à projeção da Ibevar. Aqui, ou seja, no âmbito regional, houve uma redução de pouco mais de 7% de uma temporada para outra no que diz respeito aos não pagamentos de débitos.

De acordo com os dados da CDL de Caruaru, em números reais, o quantitativo de inadimplentes moradores na Capital do Agreste e municípios circunvizinhos diminuiu de 123.237 para 114.264, tomando-se como a análise o mês de julho. Embora o comparativo soe como positivo, não há muito o que se comemorar, conforme explicou, em entrevista esta semana ao Jornal VANGUARDA, o gerente operacional da CDL, Zezinho Borba. Segundo ele, vem-se consumido bem menos no comércio de Caruaru e da região, o que tem-se impactado até mesmo no saldo de devedores na praça.

“Essa crise política e econômica já tão falada e sentida por todos nós brasileiros provocou e ainda se encontra provocando muitos efeitos negativos nas vidas das pessoas como inflação alta, desemprego e interrupção de consumo. Com ela, hoje, não só os caruaruenses, mas também as populações de municípios vizinhos têm sido obrigadas a comprar o extremamente necessário, sem realizar maiores investimentos no tocante a aquisições de produtos e serviços, o que tem influenciado na redução no número de inadimplentes, haja vista que o consumo está inferior, em relação há anos passados, quando a nossa economia encontrava-se numa situação melhor. Em suma: menos compradores, menos inadimplentes.”

Tomando ainda como parâmetro a análise da CDL de Caruaru, os números de hoje, referentes à inadimplência em Caruaru e municípios circunvizinhos, encontram-se altos, mesmo com a redução inexpressiva no intervalo de um ano. “O nosso balcão de consulta ao sistema SPC é demandado não só por pessoas da Capital do Agreste, mas também de cidades vizinhas, que tem o varejo local como suas principais referências em termos de compras de produtos. Embora temos percebido essa retração de 7% no tocante ao volume de inadimplentes, o mesmo continua elevado, já que, pelo menos até agora, a economia nacional não tem apresentado tantos sinais de recuperação”, acrescentou Zezinho Borba.

Com tantos consumidores ainda devedores no cenário local, uma velha ferramenta de compras que costumava ser bastante adotada em épocas de “vacas gordas”, atualmente vem se definhando no varejo caruaruense: o crediário. Foi o que confirmou o gerente da CDL de Caruaru. “Já que hoje muitos consumidores se encontram com os seus nomes inseridos no sistema SPC, são poucas as empresas do nosso comércio que ainda vêm operando com o crediário. Dentre as lojas que vêm penando em maior proporção com a inadimplência alta no nosso comércio estão as de calçados, vestuários, eletrodomésticos e eletroeletrônicos. Contudo, com algumas medidas econômicas que estão sendo aplicadas pelo Governo Federal, a expectativa é de que tenhamos um segundo semestre um pouco mais positivo no tocante às atividades do varejo”, argumentou Zezinho.

FGTS

Uma das iniciativas elaboradas pelo governo se refere ao saque de, no máximo, R$ 500, no que diz respeito ao Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). No último dia (5), a Caixa Econômica Federal divulgou o calendário para o procedimento. Os trabalhadores poderão fazer o saque de cada conta que possuírem no FGTS, sejam ativas ou inativas (do emprego atual ou dos anteriores). Os saques começarão a ser liberados a partir de setembro deste ano e poderão ser feitos até março de 2020. Vale ressaltar que quem retirar o dinheiro continuará a ter direito à retirada integral do valor do FGTS em caso de demissão sem justa causa, além da multa de 40% sobre o valor total.

A liberação dos saques, segundo o governo, deve abranger 96 milhões de trabalhadores. Atualmente há cerca de 260 milhões de contas ativas e inativas no FGTS. Desse total, cerca de 211 milhões (80%) têm saldo de até R$ 500. A área econômica do governo estima que 23 milhões de pessoas terão condições de quitar suas dívidas com o dinheiro dos saques de até R$ 500. Segundo a Secretaria de Política Econômica do Ministério da Economia, 37,3% das pessoas com nome negativado têm dívidas inferiores a R$ 500.

Para o economista e colunista do VANGUARDA, Maurício Assuero, a medida governamental trará impactos positivos para a economia brasileira, inclusive, robustecendo a queda da inadimplência no âmbito local, mas sem maiores avanços. “Em 2017, o até então presidente Michel Temer, já havia liberado o FGTS das contas inativas, então, o montante em dinheiro disponível não é tão avolumado hoje, o quanto se aguarda, haja vista que muitas contas já foram encerradas. A ideia foi boa, mas o efeito será pouco, porque quinhentos reais para cada pessoa enquadrada na medida é relativamente baixo para eles, incluindo os caruaruenses, quitarem totalmente os seus débitos, deixando por exemplo, a inadimplência”, afirmou.

Empresas
Se para os consumidores a inadimplência tem sido uma dura realidade a tentar ser superada, o mesmo também pode ser dito em relação a várias empresas nacionais. O volume de empresas com contas em atraso e registradas em cadastros de inadimplentes, que vinha desacelerando no país, voltou a crescer a taxas mais elevadas no último mês de junho. Dados apurados pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) apontam que a quantidade de pessoas jurídicas negativadas apresentou alta de 4,02% no último mês de junho frente igual período do ano passado. O número foi superior que o constatado em maio, que fora de 2,90%, e o maior desde março deste ano, quando havia crescido 3,30%.

Na avaliação do presidente da CNDL, José Cesar Costa, o crescimento econômico em ritmo abaixo do que era esperado tem impactado a capacidade de pagamento das empresas. “Com o mercado de trabalho demorando para reagir e a capacidade ociosa das indústrias em níveis elevados, as empresas vêm enfrentando dificuldades para honrar seus compromissos. Para os próximos meses, o movimento da inadimplência de pessoas jurídicas irá depender da evolução do crédito e da atividade econômica, que ainda avança de maneira lenta”, avaliou Costa.

Pedro Augusto é jornalista e repórter do Jornal VANGUARDA.

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