Oficial foi morto por disputa judicial com a ex-esposa pela guarda da filha, conclui inquérito

A Polícia Civil de Pernambuco (PCPE) concluiu o inquérito que investigou a morte do oficial de Justiça Jorge Eduardo Lopes Borges, de 42 anos, que ocorreu na noite do últmo dia 4 de setembro, na Estrada do Arraial, no bairro da Tamarineira, Zona Norte do Recife. A investigação revelou que a motivação do crime foi uma disputa judicial de guarda da filha de 7 anos com a ex-esposa, a médica Silvia Helena de Melo Souza, apontada como mandante do crime.

Os detalhes da investigação foram divulgados na manhã desta quinta-feira (24), no auditório da Sede Operacional da PCPE.

Além da médica, mais três pessoas estariam envolvidas na morte de Jorge, dois homens que foram os intermediários do crime e o executor. Os dois intermediários do crime confessaram e deram detalhes sobre o encontro e como tudo foi feito. Já a mandante e o executor permaneceram em silêncio e não confessaram o crime. Os quatro envolvidos permanecem presos.

De acordo com o delegado Luiz Alberto, da 5ª Delegacia de Polícia de Homicídios/ DHPP, a suspeita de mandar matar Jorge não aceitava a convivência da filha com o pai. Além disso, a médica tentava fazer com que a filha considerasse o novo marido dela como uma figura paterna. Jorge não aceitou a situação e queria conviver com a filha. Segundo o delegado, a médica tinha uma relação possessiva e um comportamento doentio em relação à filha.

Os familiares da vítima tentaram convencer Jorge a não ter mais contato com a menina, justamente pelo medo de que algo pudesse acontecer, “porque a ex-esposa era complicada”, relatou o delegado. Jorge, por sua vez, dizia que a filha iria saber que ele lutou por ela até o fim.

Em agosto deste ano, decisões desfavoráveis já tinham sido referidas a Silvia Helena com relação à guarda da criança. A indiciada não aceitou e já planejava meios de mandar executar o ex-marido, concluiu a investigação.

“A gente percebeu que, no dia 15 de agosto, ela teve um agravo de instrumento que foi rejeitado pelo pleno do Tribunal de Justiça e, no dia seguinte, ela procurou um tio dela para que ele intermediasse junto a uma milícia para que desse cabo à vida da vítima”, afirmou o delegado.

Porém o tio negou ajuda à médica e, de acordo com a polícia, ele entregou o celular pessoal com as conversas trocadas com a sobrinha, colaborando com as investigações. Nas mensagens, a médica oferecia dinheiro para o tio ajudar no crime, mas ele não aceitou. Ao ver a negativa, ela desconversou e afirmou que era para uma amiga.

No dia 1º de setembr,o Jorge ganhou uma espécie de guarda compartilhada. O juiz teria dado à vítima o direito de visitar e de passar os finais de semana com a filha.

De acordo com o delegado, um dos envolvidos no crime era paciente de Silvia Helena e havia sido solto recentemente. “Já no dia 2 de setembro, ela [a ex-companheira] se encontra com dois dos envolvidos no crime no Hospital Português. Um dos investigados é um paciente dela na Bomba do Hemetério e, ao descobrir que ele era ex-presidiário, ela nutriu uma aproximação maior com ele e propôs a ele participar do crime”, esclareceu o delegado Luiz Alberto.

Após concordar em ajudar a médica, o suspeito buscou ajuda com uma terceira pessoa até chegar ao executor do crime e quarto participante.

“Ele tinha sido solto recentemente, buscou ajuda com um comparsa, e chegaram ao profissional que é o executor do crime. O executor do crime, no dia 4, após receber uma quantia, praticou o crime como um profissional. Em fevereiro, no Carnaval, ele tinha praticado um crime com as mesmas características. Ele para uma motocicleta atrás de um carro e efetua os disparos nas mesmas regiões das duas vítimas”, disse o delegado.

O segundo investigado, paciente da médica, confessou toda a participação no crime. Ele relatou à polícia que a méduca começou perguntando o porquê de ele ter sido preso e conversou sobre o “problema” que ela teria. O homem afirmou que ela já tinha pagado uma quantia para uma outra pessoa fazer o crime anteriormente, mas teria fugido com o dinheiro.

“Com isso, ele foi falar com essa terceira pessoa, que já era envolvido com a criminalidade no Alto de Santa Terezinha, inclusive ele trabalhava junto com esse rapaz”, explicou o delegado.

O crime aconteceu no primeiro final de semana que Jorge passou com a filha. Após deixar a criança com a mãe, ele foi perseguido e morto.

“Ele foi deixar a filha dele na 17 de Agosto e, a partir de então, passou a ser seguido pelo motoqueiro. Assim que ele deixa a filha, a ex-companheira pega o telefone, começa a ligar e falar com alguém desconhecido. A gente tem essas imagens flagradas, acreditamos que ela estava passando as características do veículo e informando ao algoz que ele ia sair dali naquele momento. Ele começa a ser seguido já na 17 de Agosto pela motocicleta e, na Sebastião Alves com a Estrada do Arraial, ocorre o crime”, acrescentou Luiz Alberto.

De acordo com a polícia, todas as diretrizes de investigação, como a linha do tempo e participação dos envolvidos, foram exploradas. “Não há mais uma linha que possibilite a participação de mais uma pessoa no crime”, esclareceu a polícia.

Folhape

Pedro Augusto é jornalista e repórter do Jornal VANGUARDA.

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