Por MAURÍCIO ASSUERO*
Devo ter perdido a noção do tempo ou as coisas estão de uma forma bem mais maleável. Refiro-me ao balanço da PETROBRAS divulgado no dia 22.04. De um modo simplista a presidente Dilma colocou que a divulgação do balanço virava a página e pronto: a partir de agora está tudo bem… diga-se, muito bem.
A empresa teve um prejuízo de R$ 21,6 bilhões decorrente da perda de ativos, da defasagem de preço em relação ao mercado internacional e, principalmente, decorrente da corrupção. Então, no entendimento de Dilma parece que a coisa é mais ou menos assim: “agora vocês já sabem o resultado dos exames do paciente, a doença que ele tinha é mais complicada do aquele que fizemos vocês acreditarem, mas vamos fazer uma “vaquinha” para comprar o remédio certo para o doente não morrer”. Em momento algum, a presidente deu uma palavra sobre o “tratamento” que o doente deve ter, ou seja, nenhuma palavra sobre qualquer mecanismo de recuperação de ativos, de modificação na política de preços, sobre as inúmeras dúvidas que pairam sobre os investimentos internacionais, enfim… agora está tudo bem!
É preciso destacar, ou reconhecer, a importância da divulgação do balanço. De fato, sem ele a PETROBRAS estaria definhando numa velocidade maior porque sempre estaria sob a suspeita de que outros danos imorais pudessem, ainda, aflorar. Por outro lado, o número divulgado está bem longe daquele encontrado no balanço do terceiro trimestres de 2014, que foi divulgado por Graça Foster, que estimava “uma baixa contábil” de R$ 88 bilhões. Entre estes dois fatores não se observou nenhum fenômeno que justificasse tamanha diferença, mas é mais simples – embora pouco crível – que a ex-presidente da estatal cometeu um erro de avaliação. No fundo, a análise de balanço acaba sendo uma mera formalidade. É uma consulta ao mercado ou como se diz mais popularmente: você finge que me conta a verdade e eu finjo que acredito. Pronto.
Um segundo ponto que merece destaque é que a PETROBRAS está no mercado em busca de crédito. Conseguiu US$ 3,5 bilhões de investidores chineses; tem proposta de crédito sendo analisada pelo Banco do Brasil, pela Caixa Econômica e pelo Bradesco. Primeiro, a entrada do Banco do Brasil ou da CEF como credor da PETROBRAS deveria ser repensada. Na verdade estes bancos deveriam declinar da análise e passar a bola para agentes privados. Estes bancos pagam as contas do governo e, por isso, ficará esquisito identificar o que dinheiro de crédito e o que é um simples repasse. Se ocorrer o governo estará institucionalizando a “pedalada fiscal”. Então, tudo se resume a transferir o “osso” para bancos privados? Não é isso! Os bancos privados sabem que não possuem a máquina do governo para socorrer e só entrariam numa proposta dessa e enxergassem retornos.
O que precisamos, realmente, é acabar com essa celeuma, mas não na base do “esqueça o que passou e eu lhe prometo…”. É estranho a PETROBRAS recorrer a empréstimos quando poderia se capitalizar via debêntures ou ações. Mas nós sabemos a razão: olha o preço da ação!
*Maurício Assuero é economista e professor da UFPE