Por Maurício Assuero
Depois de muita espera o governo divulgou, na sexta 22.05, o tamanho do corte imposto ao nosso combalido orçamento: R$ 69,9 bilhões! Quase que Levy ia embora do governo porque ele queria mais e nem apareceu para anunciar as medidas junto com Nelson Barbosa (Ministro do Planejamento). Levy queria mais e, no fundo, ele tem razão porque sua vontade seria resolver a questão de uma vez por todas e não precisar, num segundo momento, justificar a necessidade de novos cortes. Foi complicado convencê-lo a permanecer, mas a equipe continua.
Nós já tivemos oportunidade de dizer, neste espaço, que o corte é necessário (embora o momento de ter sido proposto está defasado de uns quatro anos), agora mais uma vez o governo passa o recibo de infantilidade porque cortou valores de ações fundamentais para o crescimento econômico. O ministério da saúde perdeu R$ 11,9 bilhões e visto dessa forma o governo prefere o trabalhador doente, fora do sistema produtivo, entregue ao sistema de saúde, gerando mais despesas. Neste ano a quantidade de casos de dengue, zika, e outras mazelas cresceu mais do que o PIB ao longo dos 12 anos de governo petista.
Retirar R$ 9,32 bilhões da educação, atingido programas como o Ciência sem Fronteira (lembre que este programa foi criado para incrementar o desenvolvimento tecnológico do país), ou mesmo ser obrigado a alterar as condições do FIES por absoluta falta de planejamento, é simplesmente idiotice. Cabe lembrar que as medidas contingenciais afetam diretamente os trabalhadores (abono salarial só será pago com 90 dias de trabalho e não mais 30; o seguro desemprego só terá acesso aquele que tiver mais de doze meses de trabalho com carteira assinada, etc.) e não há uma linha sequer em relação aos programas sociais, famigerados programas sociais, que simplesmente agem como um cordão umbilical gerando uma dependência infinita dos beneficiários perante o governo e que se transforma em votos. Esse é o X da questão: os partidos não estão interessados em equilibrar as contas. Estão interessados em se manter no poder.
Vamos mais uma vez falar do Programa Bolsa Família. Não há dúvida de que ele foi importante para melhorar o índice de miséria do país. Agora, comemorar o aumento de pessoas beneficiadas com o programa é burrice! A gente tem que comemorar é a quantidade de pessoas que saem do programa e se saem o fazem porque encontraram um trabalho digno, um trabalho que resgate a cidadania. Note que os beneficiados do programa não geram um centavo sequer para o PIB, para a previdência porque se trabalham estão na informalidade. Enquanto isso, um trabalhador de carteira assinada tem seu emprego ameaçado pela situação econômica que o governo gerou. A política está errada porque está retirando recursos do sistema produtivo e aí fala-se do aumento da produtividade como a saída para o crescimento econômico. Pode até ser, no entanto, hoje é uma questão de sobrevivência: se uma empresa tem 100 empregados demite 10 para se enquadrar num nível de custos adequado. Agora o fato é que os 90 que ficaram precisam trabalhar pelos 100. Aumento de produtivo assim é sobrevivência.