OPINIÃO: Meu filho reprovou

Por MENELAU JÚNIOR

O réveillon de muitas famílias não será muito agradável. Nas últimas semanas de dezembro, as escolas costumam divulgar o resultado de suas avaliações finais. E quando o resultado do jovem é a reprovação, “a casa cai”. O que fazer?

Como professor, sei o quanto uma reprovação pode mudar o destino de um jovem. Para melhor ou para pior. E isso depende muito mais da família – especialmente dos pais. Se eles não souberem como lidar com a situação, o que poderia servir de reflexão e posterior crescimento pessoal para o adolescente pode transformar-se em mais um motivo para o descaso e a falta de limites.

Primeiramente, parece-me equivocado buscar culpados. Em especial os professores ou a escola. Hoje, muito mais que antigamente, as chances de um aluno ser reprovado são remotíssimas. Além de quatro provas bimestrais, ele tem recuperações paralelas e, não consegundo, ainda há uma prova final. Traduzindo: nove provas (noventa pontos) para conseguir 28 pontos – ou menos, dependendo do cálculo da prova final. Convenhamos: exige-se muito pouco.

Jogar a culpa exclusivamente no jovem também é muito fácil. Existem adolescentes que fazem tudo para não estudar – e nisso a internet e os amigos de farra são grandes companheiros. Compensadas algumas exceções – raríssimas, diga-se de passagem – em que os alunos têm realmente muita dificuldade de aprendizagem, a maioria que chega à situação da reprovação está ali por falta de estudo mesmo, de compromisso com o conhecimento. E os pais, no fundo, sabem disso. Mas em alguns casos se abstêm de tomar atitudes mais rígidas com medo de contrariar os filhos. É cruel admitir, mas alguns pais se tornaram reféns dos filhos.

São jovens que passam a madrugada “mexendo” no celular e dormem durante as aulas. Passam os fins de semana na farra, bebendo com amigos. São adolescentes que não aceitam a reprovação porque não são contrariados dentro de casa. Mimados e com todos os seus caprichos realizados, não conseguem compreender que a sociedade – e , portanto, a escola – reprova o descaso e a falta de compromisso.

Nessa hora difícil, apenas punir o adolescente também não é o caminho. A reprovação já é, para eles, uma punição. Talvez seja o momento de sentar, conversar, refletir sobre os passos errados dados durante o ano letivo. Aceitar transferência de responsabilidades não fará o jovem crescer como pessoa e como estudante. Ele precisa reconhecer que estudou pouco – ou que estudou muito apenas nos últimos dias de aula.

Pergunto aos pais: o que acontece quando um funcionário é faltoso, não cumpre suas responsabilidades, faz “corpo mole” durante todo o ano e decide trabalhar apenas no mês de dezembro? Fatalmente será demitido. Na escola, ocorre mais ou menos a mesma coisa. Quem deixa para estudar depois da terceira unidade deve saber o risco de sua negligência. Às vezes, com uma filinha do colega ou mesmo com a ajuda do próprio sistema, que sempre favorece os pouco estudiosos, dá para passar. Às vezes não. E quando “a casa cai”, os pais têm o dever de mostrar como se constrói um edifício de alicerce seguro. Culpar a escola ou os professores é isentar aqueles que tinham a obrigação de pôr os tijolos: os alunos, nossos filhos. Na hora do recomeço, uma conversa franca faz bem. Limitar as baladas e o uso da internet também.

Até a próxima semana.

menelau blog

 

Menelau Júnior é professor de língua portuguesa. Escreve para o blog todas as quintas-feiras. E-mail: menelaujr@uol.com.br

Natural do Rio de Janeiro, é jornalista formado pela Favip. Desde 1990 é repórter do Jornal VANGUARDA, onde atua na editoria de política. Já foi correspondente do Jornal do Commercio, Jornal do Brasil, Folha de S. Paulo e Portal Terra.

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