OPINIÃO: Planejamento político: por que as metas nunca são cumpridas?

Por MARCOS MORITA*

Esta semana o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, retirou de seu plano de metas sua maior promessa de campanha, o pacote viário do Arco do Futuro. Assim, ele descarta a construção de uma via paralela à Marginal do Tietê, desde a via Anhanguera até a Vila Maria, em cuja proposta estava atrair o comércio, empresas e serviços para estas regiões, rebalanceando a desigualdade entre o centro e a periferia. Em seu discurso eleitoreiro, apregoava que levaria emprego onde tem moradia e moradia onde tem emprego, reduzindo o calvário de centenas de milhares de pessoas que atravessam a cidade no trajeto entre casa e trabalho.

Talvez fosse de se esperar que, devido à importância, tal comunicado fosse proferido pelo próprio Haddad, o qual preferiu delegá-lo à secretária municipal de Planejamento em audiência realizada pela manhã do dia 16 de agosto. Ausentes estavam, além do prefeito, os 11 vereadores do partido que, com toda certeza, não se encontravam aboletados no transporte público amarrotando seus vistosos ternos. Envergonhados, mancomunados ou quem sabe já curtindo o final de semana antecipado, terão certamente que se explicar a suas bases em face da repercussão negativa sobre a notícia.

Planejado e bem costurado por algum marqueteiro – hoje fiéis aliados dos políticos – o projeto era vistoso e atraente, com direito a produção de comerciais, mapas com animações caprichadas e discurso azeitado e decorado, parecendo convincente até na modorrenta oratória de Haddad. Não obstante os protestos, a redução nas tarifas e as opiniões sobre a melhor distribuição de recursos, o fato que vale analisar é por que vivemos em um mundo de promessas não cumpridas, atrasadas ou inacabadas, as quais levam cada vez mais a frustração e irritação de eleitores que têm razão em reivindicar o voto facultativo?

Os políticos carecem de cinco características necessárias para transformar sonhos ou promessas em metas, as quais fazem parte do acrônimo SMART: specific, measurable, achievable, realistic e time bound, ou em tradução livre, específicas, mensuráveis, alcançáveis, realistas e com tempo definido. A meta de Haddad era específica e mensurável, porém não atingível e realista face aos investimentos necessários, assim como sem tempo definido para conclusão. Pare e busque as metas do prefeito de sua cidade em seu site de campanha, verificando sua adequação aos critérios. Certamente ficará boquiaberto com as inúmeras promessas que dificilmente se tornarão realidade.

Vamos para outro exemplo de falta de planejamento. Um projeto é baseado na tríade: tempo, recursos e dinheiro, que funcionam como vasos comunicantes. Sabíamos desde 2007 que sediaríamos a Copa, porém esperamos anos para começar as obras. Com prazos apertados, já que alguns estádios tinham que estar prontos para a Copa das Confederações, mais recursos e dinheiro foram gastos – algo já ocorrido nos Jogos Pan-Americanos e confirmados pelos protestos de junho. Beira-Rio, Areia das Dunas e Arena Pantanal, Amazônia e Baixada ainda estão em andamento em ritmo acelerado, criando o cenário perfeito para o superfaturamento.

Nem todos os projetos têm prazos definidos como os gramados da Copa, estourando além do orçamento a variável tempo. As obras do PAC – Plano de Aceleração do Crescimento -, cujo atraso médio beira os quatro anos, corrobora a falta de estabelecimento de critérios e índices de atingimento, um dos pilares do planejamento estratégico. As visitas do secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, e os puxões de orelha dados ao ministro do Esporte, Aldo Rebelo, não foram por acaso. Já dizia o ditado: quem tem fama, deita na cama.

Enfim, muito se debaterá nos próximos dias sobre a decisão de Haddad, com situação e oposição justificando-se e atacando-se mutuamente, como se vê diariamente nas esferas estaduais e, principalmente, na sede da Corte. Quem sabe as promessas descabidas e as metas não cumpridas pudessem ser acrescidas à ficha limpa dos candidatos. Talvez assim tivéssemos uma renovação completa no cenário político, já que poucos conseguiriam se salvar do dilúvio da falta de planejamento.

* Marcos Morita é mestre em administração de empresas, professor da Universidade Mackenzie e professor tutor da FGV-RJ.

Natural do Rio de Janeiro, é jornalista formado pela Favip. Desde 1990 é repórter do Jornal VANGUARDA, onde atua na editoria de política. Já foi correspondente do Jornal do Commercio, Jornal do Brasil, Folha de S. Paulo e Portal Terra.

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