Opinião: Política e religião não se discutem

Por Tiê Felix

Depois de uma semana conturbada neste início de ano uma reflexão política e religiosa é necessária frente ao que fomos telespectadores. Quando dizem que política e religião não se discutem a verdade não está longe de tal caso. O problema não é que a religião e a política realmente não se discutem, mas que as pessoas que estão envolvidas nestes temas não permitem discussão. Esse é o problema.

Os atentados ao Charlie Hebdo revelam aquilo que todo mundo já sabe: a religião tende a ser radical quando confrontada com seus opostos, com aquilo que a nega.Isso não se aplica tão somente ao Islão, mas a todas as manifestações dogmáticas. Lendo o livro de Karen Armstrong “Em nome de Deus” sobre o fundamentalismo judaico, cristão e Islão pude perceber que a necessidade de legitimidade por parte de um dogmatismo exige algumas vezes o recurso à violência. A não aceitação das transformações sociais e do consequente relativismo que se apresenta faz com que alguns grupos resolvam manifestar seu apreço à ideia absoluta de forma radical. Assemelha-se a desrazão de alguém que age violentamente porque não possui outro recurso senão a agressão. Essa é a verdade a respeito não só do Islão quanto de qualquer outra manifestação dogmática.

Por outro lado, vê-se claramente a intenção de construir uma imagem midiática do Oriente, transformando as múltiplas manifestações e produções de sentido daqueles povos resumindo-os a meros radicais. O que não é verdade. E agora remeto ao livro “orientalismo” de Edward Said onde ele mostra que o Oriente não é nada mais que um discurso constituído pelo Ocidente, desde longa data. Confirmo a veracidade deste fato por ter visto com muita frequência a oposição ocidente/oriente na boca dos jornalistas e intelectuais na mídia. Esse modo de ver sempre remete a uma suposta superioridade dos ocidentais frente a suposta “ignorância” dos orientais, o que é terminantemente falso.

Ainda levando em consideração o radicalismo como expressão vê-se o surgimento ocasional da extrema-direita na França promovendo sua afirmação como o partido que poderá resolver os problemas do radicalismo islâmico, trazendo ao debate a ideia de que se paga a violência com a mesma moeda. A extrema-direita manifesta sua ignorância inicialmente pelo fato de querer a todo custo o poder no uso de palavras desnecessárias do Le Pen pai: “Eu não sou Charlie Hebdo”. Tal modo de pensar apenas revela que o conflito deve ser continuado senão não haverá oposição.

No Brasil o problema se manifesta na cegueira Petista que não consegue entender que o dogmatismo de qualquer espécie é simplesmente danoso, e só isso!

Tiê Felix é professor.

Natural do Rio de Janeiro, é jornalista formado pela Favip. Desde 1990 é repórter do Jornal VANGUARDA, onde atua na editoria de política. Já foi correspondente do Jornal do Commercio, Jornal do Brasil, Folha de S. Paulo e Portal Terra.

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