Por MENELAU JÚNIOR
O quadro “Você só tem uma chance”, exibido pelo Fantástico, tratou no último domingo do ataque de cachorros. A resposta para escapar do ataque era “FINGIRIA-SE DE MORTO”. Detalhe: a forma “fingiria-se” não é usada na norma culta.
Não se deve colocar o pronome oblíquo depois de verbo no futuro: essa é uma das regras básicas quando o assunto é colocação pronominal. Ou seja, a ênclise é errada com um verbo nesse tempo. Nesses casos, recomenda-se a mesóclise, forma que deixou de ser usada no Brasil há pelo menos 50 anos.
Sim, a forma “fingir-se-ia” de morto seria a adequada à norma culta. A questão é que ninguém a emprega. O Fantástico poderia ter escrito “Se fingiria de morto”, mas essa também é forma rejeitada pela norma culta, ainda que muito comum no Brasil. Em textos formais, não se deve começar um período com um pronome oblíquo.
Enfim, a forma “fingiria-se” serve para comprovar que a mesóclise (colocação do pronome “no meio” do verbo) já não é mais usada. Nem pelos meios jornalísticos, que normalmente adotam a norma padrão. Construções do tipo “Encontrar-te-ei”, “convidá-lo-emos” e “adorar-te-ei” já não são vistas no português falado (e escrito!) do Brasil faz muito tempo.
Então, o que dizer da arte que apareceu no quadro do Fantástico? Bom, é até compreensível que os editores tenham rejeitado a forma “fingir-se-ia”, certamente por achá-la estranha à maioria dos telespectadores. Optar por uma construção menos formal (“se fingiria”) seria uma opção. Mas escolher “Fingiria-se”, além de contrariar a norma culta, sequer encontra respaldo na língua usada no Brasil.
Até a próxima semana.
Menelau Júnior é professor de língua portuguesa. Escreve para o blog todos os sábados. E-mail: menelaujr@uol.com.br