Os prós e os contras de ser a cidade mais populosa do Interior

População de Caruaru é a maior do Interior do Estado. Foto: Pedro Augusto

Pedro Augusto

O estudo mais recente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que abrangeu todos os municípios e estados nacionais e foi divulgado no último dia 28, no Diário Oficial da União, ressaltou um dado interessante a respeito de Caruaru. De acordo com o levantamento, a Princesa do Agreste permanece contando com o maior volume populacional dentre todas as cidades que compõem o Interior de Pernambuco. Pela data de referência, de 1º de julho de 2019, a Capital do Forró possui, atualmente, 361.118 habitantes contra os 314.912 computados no censo de 2010. Ainda neste contexto, o único município interiorano que vem se aproximando de Caruaru em termos de soma de população é Petrolina, com 349.145 moradores.

No âmbito geral, ou seja, incluindo as cidades do Recife e da RMR, Caruaru continua ocupando a quarta posição no ranking populacional, perdendo apenas para a capital pernambucana, com 1.645.727 habitantes; para Jaboatão dos Guararapes, com 702.298 moradores, e para Olinda, com 392.482 residentes.

Ainda de acordo com os números do IBGE, municípios circunvizinhos a Caruaru e que também possuem relevância no tocante à economia da região, a exemplo de Santa Cruz do Capibaribe, Toritama, Bezerros e Gravatá, hoje, se encontram dispondo de um quantitativo populacional, respectivamente, de 107.937, 45.219, 60.798 e 84.074.

Para o especialista em finanças e colunista do VANGUARDA, Maurício Assuero, a soma volumosa de moradores de Caruaru levantada e divulgada recentemente pelo IBGE é mais um reflexo da grandeza econômica desta cidade. “Não é à toa que ela é conhecida como a Capital do Agreste, haja vista que exerce um papel muito importante no que se refere à economia do Interior do Estado. É uma cidade polo na disponibilização de produtos e serviços nos mais variados setores e tem atraído cada vez mais pessoas, que têm enxergado nela a oportunidade ideal de alcançar rendas suficientes para garantirem as suas sobrevivências ainda em tempos duros de crise”, disse.

Se por um lado, em metrópoles como Caruaru, o aumento populacional costuma causar alguns efeitos positivos como, por exemplo, a dinamização da economia, por outro, ele acaba provocando certos “inchaços” a terem de ser encarados de frente pelo poder público. Foi o que destacou Maurício Assuero. “É claro, também, que por outros fatores, mas este crescimento populacional apontado pelo IBGE do último censo até julho de 2019 é mais um reflexo da crise política e econômica que vem se arrastando nos últimos anos o país.

Com o desemprego em alta, milhares de pessoas de todo Pernambuco e de estados vizinhos estão migrando para Caruaru, que possui uma economia forte, para encontrarem novas oportunidades de subsistência. O problema é que quanto mais pessoas presentes, maiores ficam as demandas de saúde, segurança, educação, transporte etc. É imprescindível, então, que os governos em todas as suas esferas trabalhem em sintonia, para por em prática as ações públicas necessárias para o bom andamento da cidade”, acrescentou Maurício.
“Em tese, o aumento da população pode contribuir com o crescimento da produção, mas isso é mais concreto quando esse acréscimo é originado de um êxodo de pessoas qualificadas, porque, quando não, os problemas acabam ficando maiores do que os benefícios”, finalizou o especialista.

Dentre os grandes gargalos que têm sido observados em metrópoles como Caruaru, que vêm contabilizando aumentos constantes em termos de população, é a exclusão social. Tomando como parâmetro o cenário local, este tipo de problema se faz presente na atualidade, porém, de acordo com o sociólogo e professor Arnaldo Dantas, está sendo combatido, principalmente, pela gestão municipal.

“Na medida em que se há investimentos maciços nos setores da educação, saúde, segurança, emprego, responsabilidade social, dentre tantos outros essenciais para o bom andamento de um município, a tendência é de que essa chamada exclusão passe a dar lugar à inclusão social. Desde que assumiu a Prefeitura, em meados de 2017, que a prefeita Raquel Lyra, através de suas secretarias, inclusive de Ação Social, vem aplicando as ações necessárias para dotar a população caruaruense de uma cidade organizada e voltada para atender às demandas sociais. Caruaru é muito grande, desta forma, esse problema ainda é percebido e não acaba de uma hora para outra, mas estamos no caminho certo”, avaliou.

História
A própria história evidencia que não é de hoje que a Capital do Forró possui uma gama habitacional significativa, quando comparada aos demais municípios pernambucanos. Especialmente para o VANGUARDA, o professor e historiador Walmiré Dimeron pontuou de que forma a Princesa do Agreste se tornou a cidade mais povoada do Interior do Estado. “Caruaru, desde o seu surgimento, foi contemplada com alguns aspectos que propiciaram a sua liderança no ranking populacional do Interior de Pernambuco. Ou seja, até o presente momento, não há qualquer registro histórico que prove o contrário quanto a essa liderança”, afirmou.

“O primeiro fator que podemos mencionar se refere a sua localização geográfica privilegiada. Caruaru nasceu numa área territorial extremamente movimentada, haja vista que, ao lado da Fazenda de José Rodrigues de Jesus (o fundador dela), o que hoje corresponde ao percurso de algumas ruas do Centro até o Alto do Moura, o Governo Imperial estabeleceu um dos caminhos das boiadas que foram abertos no Interior do Brasil. Ou seja, nesse trecho territorial específico, onde o gado era escoado, havia uma circulação muito grande por parte de vaqueiros, tangerinos e mascates, o que acabou influenciando na fundação e habitação, posterior, de muitas pessoas naquela que se tornaria a nossa cidade.”

“Além desse aspecto inicial, outros fatores contribuíram ao longo da história para com o crescimento populacional de Caruaru. Foram eles: as atividades prósperas da feira, a chegada do trem, o beneficiamento do Caruá, o clima saudável com temperaturas recomendadas por médicos, além do grande marketing cultural, que foi encabeçado pelos irmãos Condé escrevendo sobre as riquezas do município durante as suas vidas. Sem falar no forró, no barro e na própria sulanca, que também acabaram criando, no imaginário coletivo, uma percepção favorável no que diz respeito a Caruaru e seus segmentos. Ela ainda é cortada por duas rodovias importantes (232 e 104), que também vêm exercendo as suas influências no que se refere ao aumento habitacional da Capital do Agreste”, complementou Walmiré.

Censo 2020
O IBGE, com sede em Caruaru, realizou a primeira Reunião de Planejamento e Acompanhamento do Censo na tarde da última terça-feira (10), na Sala de Monitoramento da PMC, no Centro. Na oportunidade foram divulgados à imprensa local de que forma ocorrerá a produção do censo 2020, na cidade. O levantamento, de acordo com o coordenador de Área do Censo Demográfico 2020, Heitor Vitor Galindo, acontecerá no próximo mês de agosto, gerando diversas vagas de empregos temporários.

Pedro Augusto é jornalista e repórter do Jornal VANGUARDA.

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