Após o impacto com a força do bolsonarismo no primeiro turno, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva reuniu-se, ontem, com sua coordenação de campanha para revisar as estratégias e definir o que precisa ser feito visando a rodada final das eleições ao Planalto. O encontro ocorreu em um hotel de São Paulo.
“Nós retardamos um pouco (a vitória), talvez, por culpa nossa mesmo”, avaliou Lula, após a reunião. Ele citou que a polarização com o presidente Jair Bolsonaro, candidato à reeleição, está presente desde o início do ano, e a chamada terceira via não conseguiu mudar o cenário. “A gente, na verdade, vai aproveitar o segundo turno para fazer o debate que não foi possível fazer no primeiro. A partir de amanhã (hoje), nós já estamos em campanha. Nós ainda temos que fechar algum acordo”, ressaltou.
Participaram da reunião os principais líderes da coligação e coordenadores da campanha, como a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann; o candidato a vice Geraldo Alckmin; a ex-presidente Dilma Rousseff; o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP); a deputada federal eleita Marina Silva (Rede-SP); e Márcio França, que perdeu a disputa ao Senado por São Paulo.
A medida imediata para Lula, definida como a mais importante no encontro, é atrair o apoio dos demais presidenciáveis e seus partidos. Gleisi Hoffmann afirmou já ter iniciado as negociações. “Nós tivemos contato com o presidente do PDT, o (Carlos) Lupi. Dissemos a ele que gostaríamos muito de ter o Ciro Gomes na nossa campanha”, informou, em relação ao quarto colocado no pleito, com 3% dos votos. “Também estamos marcando horário com o MDB e com o União Brasil. Vamos procurar também o PSDB.”
Projetos
A expectativa é de que até esta quarta-feira esse novo rol de apoios esteja definido. É esperada uma declaração de apoio de Ciro após a negociação entre Lupi e Gleisi. Os dois conversaram ontem e concordaram em acrescentar três propostas presentes no Plano Nacional de Desenvolvimento do pedetista em troca da aliança: os projetos de renda mínima e de educação integral e o plano para zerar dívidas no SPC.
A orientação do PDT é a favor do apoio, e Lupi acredita que Ciro a seguirá. Na reunião de ontem, Marina Silva se ofereceu para fazer a ponte com o pedetista. “Neste momento, vamos precisar de todo mundo. E ele sabe disso”, declarou a deputada eleita.
A campanha de Lula também espera receber apoio de Simone Tebet — terceira colocada, com 4,1% —, embora o MDB possa deixar seus diretórios livres para votar em quem quiserem.
Presidente do União Brasil, Luciano Bivar disse que a legenda se pronunciará até amanhã. O deputado, reeleito no domingo, é a favor de respaldar o ex-presidente, mas seu partido tem fortes laços com Bolsonaro, como em São Paulo, compondo a chapa de Tarcísio de Freitas, e na Bahia, onde ACM Neto disputa contra Jerônimo, do PT.
Ontem, o ex-presidente do PSDB e senador Tasso Jereissati (CE) declarou apoio ao petista. “Minha posição é Lula. Evidente que o partido tem de discutir alguns pontos com a equipe dele, mas o que está em jogo para nós é a democracia, e a democracia acima disso tudo. E esperando que Lula se comprometa com um governo de pacificação”, ressaltou Tasso ao Estadão.
No discurso de ontem, Lula destacou que, agora, “a escolha não é ideológica”. “Vamos conversar com todas as forças políticas que tenham voto, representatividade, significância, para que a gente consiga somar em um bloco os democratas contra aqueles que não são”, comentou.
O ex-presidente citou que 60% da população rejeitou o atual governo no pleito e que foi a primeira vez que um presidente perdeu no primeiro turno. “E vai perder muito mais feio no segundo. Se eu não estou enganado, não costumo ter menos de 60% no segundo turno”, acrescentou.
Nas próximas semanas, o foco será no Sudeste, especialmente em São Paulo. Maior colégio eleitoral do país, o estado foi o grande calcanhar de Aquiles do petista, já que as pesquisas eleitorais não capturaram a vitória de Bolsonaro na região, com 47,71% dos votos.
“O Lulinha paz e amor está pronto para conversar com todo mundo”, brincou o petista.