Mais de dois meses após o senador Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE) ter entregue o cargo de líder do governo no Senado, ao se sentir traído pelo Palácio do Planalto na disputa por uma vaga no Tribunal de Contas da União (TCU), o posto permanece vazio. O presidente Jair Bolsonaro (PL) tem encontrado dificuldade para escolher um nome adequado à função, que tem como papel principal negociar com as bancadas aliadas a votação de projetos de interesse do governo, além de orientar os senadores integrantes da base governista sobre como votar nas sessões em plenário. Sem a figura do líder, parlamentares tem passado propostas contrárias ao entendimento da equipe econômica, e o Planalto pode ter dificuldade com a tramitação de medidas consideradas prioritárias.
No mês passado, Bolsonaro tentou emplacar Alexandre Silveira (PSD-MG) na liderança, mas ouviu uma negativa após a repercussão ruim no partido de Silveira — que assumiu, na Casa, a vaga deixada por Antônio Anastasia (PSD-MG), nomeado ministro do TCU.
A preferência agora é de que o novo líder do governo no Senado seja do PL, sigla presidida pelo ex-deputado Valdemar da Costa, à qual Bolsonaro se filiou recentemente. O atual líder do governo no Congresso, Eduardo Gomes (MDB-TO), que deve se filiar à legenda na janela de troca partidária, é um dos nomes ventilados nos bastidores. Porém, teria de acumular as funções. Outro nome citado é o do vice-líder do governo, Marcos Rogério (PL-RO).
André César, cientista político, sócio da Hold Assessoria, avalia que o Senado virou uma trincheira contra Bolsonaro. “Nesse sentido, é difícil um parlamentar assumir a liderança do governo na Casa, embora se trate de posição estratégica para o Planalto, justamente no momento que antecede as eleições”, observou.
O cientista político Cristiano Noronha, da Arko Advice, ressaltou que a disputa pela escolha do líder do Senado sofre impacto da disputa eleitoral. “O senador Alexandre Vieira, por exemplo, não aceitou o convite porque houve resistência no partido Del. E Kassab (Gilberto Kassab, presidente do PSD) tem um projeto próprio de ter candidato da República, fazendo oposição, de certa forma, ao governo de Bolsonaro. Então, foi uma opção a menos.”
Além disso, Noronha avalia que muitos dos políticos considerados para o posto têm feito exigências, como a de que os acordos fechados na Casa sejam, de fato, cumpridos. “Especialmente em ano eleitoral, a cobrança de senadores é muito forte. Então, eles estão exigindo liberdade para negociar, o que pode esbarrar na equipe econômica, que tem muita preocupação com projetos de impacto fiscal relevante. Esses entendimentos eleitorais e pressão internas tem dificultado essa escolha, mas há uma expectativa de que isso ocorra ainda nesta semana”, completou.
Na análise do cientista político André Rosa, desde a redemocratização, em períodos eleitorais, os governos se mostraram inexpressivos em termos de articulação no Congresso. Além disso, normalmente o ano legislativo tende a ser mais curto, com algumas votações até maio.
“Isso se dá em razão dos parlamentares de modo geral estarem disputando reeleição e, em outros casos, envolvidos em campanhas estaduais. Além disso, alguns senadores que ainda possuem mais quatro anos de mandato por vezes se envolvem em articulações da legenda, o que impossibilita uma atividade legislativa intensa, tal como a atividade de líder. Em linhas gerais, a atividade de liderança exige muito esforço e articulação política, o que inviabiliza o sucesso eleitoral nas eleições. As votações costumam retomar após o mês de novembro”, afirmou André Rosa.
Correio Braziliense