Marcelo Pereira e Priscila Miguel
Sustentabilidade se tornou um tema extremamente relevante no mundo corporativo há alguns anos. Mas quando falamos de B2B e da relação entre comprador e fornecedor, esse termo não se limita apenas às questões ambientais, mas também à longevidade. Ou seja, ao tipo de parceria estabelecida entre as partes e o quanto ela se mantém saudável ao longo do tempo.
Em um cenário igual ao que estamos vivendo hoje, de riscos, crise e instabilidade econômica, a continuidade no relacionamento é extremamente importante para enfrentar o momento delicado e não prejudicar nenhum lado da cadeia. Pensar nisso, antes de cortar custos, por exemplo, é essencial para o período pós-pandemia.
É comum que a primeira coisa a se pensar diante de uma crise seja proteger a saúde financeira, mas reduzir gastos a qualquer custo pode não ser a melhor maneira de minimizar o risco – é necessário pensar no pós-crise. Por exemplo, será que vale a pena cortar o contrato e ameaçar a sobrevivência de um fornecedor que atende sua empresa satisfatoriamente? Ou é melhor tentar uma negociação que seja boa para ambas as partes e fortaleça ainda mais o relacionamento? Com certeza, a relação sairá fortalecida, quando a turbulência passar.
Quem souber ser criativo e criar uma rede de colaboração entre empresas e fornecedores, terá resultados melhores. O mundo corporativo funciona como uma colmeia. Cada decisão de negócio que um empresário toma afeta outras empresas – sejam elas clientes ou fornecedoras. É necessário agir em conjunto, e não pensar só no curto prazo, dialogar com as companhias que fazem parte da mesma cadeia e tentar encontrar saídas que preservem a parceria e a confiança entre aliados estratégicos.
Estamos passando por uma crise sem precedentes, não existem respostas prontas. No entanto, depois de cinco meses de vivência neste cenário, percebemos que as empresas que estão conseguindo se reinventar, reconfigurar processos e revisar recursos de maneira cuidadosa – entendendo, de fato, se a melhor estratégia tem realmente a ver com custo mais baixo – estão se fortalecendo. E esse processo passa, também, pela capacidade de decidir não apenas cortar custos, de maneira aleatória. É necessário saber onde enxugar para não pôr em risco a saúde e o futuro da empresa. Trocar de fornecedor levando em conta apenas o fato de pagar mais barato, sem considerar outros critérios, pode comprometer a qualidade das entregas e a satisfação dos próprios clientes, por exemplo.
Em linhas gerais, é necessário atuar na crise sem ignorar que ela vai passar – sim, vai passar! Em muitos casos, as decisões mais assertivas levam em conta a importância de manter parceiros e continuar trabalhando com materiais e serviços de qualidade e personalizados para seu negócio. Assim, de fato, a empresa estará preparada para voltar à produção normal no momento de retomada da economia.
*Marcelo Pereira, especialista de gestão de fornecedores no Mercado Eletrônico, e Priscila Miguel, coordenadora do FGV-CELOG (Centro de Excelência em Logística e Supply Chain da FGV EAESP)