Conseguir quitar as dívidas e sair do vermelho é o sonho de muitas famílias pernambucanas. Um recorte local feito pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Pernambuco (Fecomércio-PE), com base na Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), elaborada pela CNC, revelou que 80,8% dos núcleos familiares do Estado estavam endividados em abril deste ano. Além disso, 30% enfrentavam contas em atraso e 15,8% não podiam pagar suas dívidas.
Dos gastos que levam os pernambucanos ao endividamento, o cartão de crédito representou 93,7% das dívidas, seguido por carnês (24,8%) e crédito pessoal (6,8%). O atraso médio no pagamento era de 62 dias, comprometendo 30,8% da renda.
“O recente aumento do endividamento e da inadimplência em Pernambuco está diretamente relacionado à maior acessibilidade ao crédito disponibilizada aos consumidores, impulsionada pelo atual cenário de redução das taxas de juros no mercado. Vale ressaltar que esse comportamento não é exclusivo de Pernambuco, mas sim uma tendência nacional. O endividamento é uma ocorrência esperada entre consumidores com menor disponibilidade de renda; no entanto, a preocupação está no avanço da inadimplência, que voltou a crescer após cinco meses de recuos”, apontou o economista da Fecomércio-PE, Rafael Lima.
Conscientização
Com os números preocupantes, é necessário que haja uma conscientização sobre educação financeira de maneira efetiva, além da consolidação de programas e políticas de negociações de dívidas, antes que essa factualidade dê espaço para mais dores de cabeça nos lares das pessoas.
“Há vários fatores que fazem com que esses índices sejam altos, com que tenham mais de 70 milhões de brasileiros que estejam nessa situação. O importante é ter uma estratégia para sair dessa situação e, claro, se esforçar para não voltar para ela. A primeira coisa que as pessoas precisam fazer é consultar o CPF e ver qual é o cenário real. Onde que ela está devendo, qual é a situação da dívida”, destacou Clara Aguiar, especialista em educação financeira da Serasa.
A ideia é entender a origem e o contexto deste saldo devedor para visualizar as pendências e organizar uma estratégia para negociar os débitos. A dica que a especialista dá é priorizar as dívidas negativadas, que não foram quitadas na data de vencimento, resultando no registro do nome do devedor em órgãos de proteção ao crédito.
“A prioridade é que comece pelas dívidas negativadas. Em segundo lugar, buscar aquelas que têm maior incidência de juros, que são justamente de bancos e cartão de crédito. Elas costumam começar pequenas, mas podem se tornar estratosféricas e difíceis de resolver” acrescentou.
Quem já se endividou sabe que chega uma hora que é necessário decidir o que fazer com as dívidas e ignorar o problema não é mais uma opção sábia. Neste momento, o discernimento deve falar mais alto.
Para a autônoma Jayza Fagundes, um problema de saúde causou as dívidas. “Sem poder pagar um plano de saúde, tive despesas médicas muito altas e acabei recorrendo a empréstimos e cartões de crédito, resultando em dívidas que hoje giram em torno de R$ 60 mil. Para reduzir os gastos, precisei cortar algumas despesas, como academia, personal trainer, café da manhã na padaria, restaurantes nos finais de semana e gastos com lazer”, comentou.
Essas mudanças impactaram bastante seu estilo de vida e, também, sua saúde mental. “Eu finjo que estou bem, mas sigo abalada pelos hábitos que tive que abdicar e por ainda continuar nessa situação. Minhas estratégias para reduzir os gastos foram exatamente essas: cortar onde der. Não estou utilizando e nem pretendo utilizar nenhum programa governamental para negociação, apesar de achar que todos os recursos são úteis para sair das dívidas”, acrescentou Jayza.