As redes home based, cujas operações não exigem que o franqueado tenha uma loja ou escritório e permitem que ele trabalhe em casa, estão entre as que mais cresceram na pandemia.
Em 2020, esse segmento respondia por 7,1% do total de franquias no país; neste ano, passou para 10,3%, segundo a ABF (Associação Brasileira de Franchising).
O crescimento foi ainda mais expressivo dentro do setor de microfranquias, cujo investimento inicial não ultrapassa R$ 90 mil. “Das dez maiores redes em número de unidades, 60% trabalham fortemente com o modelo home based”, diz Felipe Buranello, coordenador da comissão de microfranquias da ABF.
Entre os atrativos estão a possibilidade de investir pouco e operar com baixos custos fixos nos mais variados segmentos, de finanças a limpeza.
Em dezembro do ano passado, os sócios Misael Carvalho, 33, e Matheus Santana, 30, decidiram abrir uma microfranquia da Suporte Smart, especializada em consertos de celulares. Racharam o investimento inicial, de R$ 7.994, e fizeram o curso de capacitação -a rede não exige experiência prévia no ramo.
Em abril, os dois iniciaram os atendimentos, que podem ser feitos na casa deles, em São Paulo, ou na dos clientes. Até o momento, a dupla fez 30 consertos. Os serviços mais requisitados são troca de tela (a partir de R$ 180) e de bateria (R$ 105).
“Cada um fica na sua casa e quem inicia o atendimento pega o serviço. Como já conquistamos boas avaliações nas redes sociais, tem sido mais fácil atrair novos clientes”, diz Misael.
Sócio-diretor da Suporte Smart, Vinicius Rochesk, 29, promete aos franqueados do modelo home based o retorno do valor aplicado em até seis meses. Das 360 unidades da rede, somente 13 são lojas físicas, que têm investimento inicial R$ 35 mil.
“Desde o início da pandemia, vendemos 160 franquias home based, sendo que 80% dos empreendedores não tinham experiência nesse tipo de serviço”, afirma.
A PremiaPão, especializada na comercialização de espaços publicitários em sacos de pão, também apostou no modelo. O franqueado só precisa ter um computador e um telefone, para fazer contato com os anunciantes, e deve assumir a distribuição dos saquinhos pelas padarias.
Segundo os fundadores, Raphael Mattos, 31, e Pedro Machado, 33, a receita das 111 unidades da rede disparou durante a pandemia.
Donos de uma franquia da PremiaPão em Recife (PE) desde 2018, os sócios Gilsemir de Lima Junior, 39, Thiago Silva, 32, faturaram R$ 331 mil no ano passado.
A tarefa dos dois é conquistar empresas que queiram veicular sua publicidade em sacos de pão, que são distribuídos às padarias. O anúncio básico, do tamanho de um cartão de visitas, impresso em 30 mil unidades, custa R$ 500.
Segundo Raphael Mattos, o foco inicial do negócio eram pequenos anunciantes de bairro, sem verba para pagar por espaços publicitários de grande circulação. Hoje, porém, a PremiaPão já tem companhias de maior porte entre a clientela, como operadoras de celular e aplicativos de delivery.
Para garantir a atenção dos consumidores, os saquinhos estampam códigos para sorteios -os prêmios vão de eletrodomésticos a automóveis.
A franquia mais barata, que custa R$ 10 mil, permite que o empreendedor atenda a uma região de cem mil habitantes. A mais cara tem o dobro do preço e permite atingir uma área com o triplo de pessoas.
“A pandemia ajudou nosso negócio, porque as padarias continuaram funcionando e mantiveram a relevância desse canal de divulgação, enquanto vários outros, como os outdoors, deixaram de fazer sentido”, afirma o empresário.
De acordo Felipe Buranello, da ABF, por mais vantagens que as franquias home based ofereçam, o empreendedor precisa levar em conta alguns requisitos básicos antes de assinar o contrato.
Mesmo que trabalhe de casa, ele precisa gostar de lidar com o público. Também deve ter afinidade com o produto ou serviço oferecido.
É importante pesquisar sobre a reputação da rede e conversar com outros franqueados para se certificar a respeito da idoneidade da empresa.
Além disso, é fundamental que o profissional tenha a organização necessária para tocar a empresa de casa. Ele deve trocar de roupa antes de iniciar o expediente, ter rituais definidos e saber a hora de desligar, orienta Buranello.
Quem comanda uma equipe home based deve confiar nos seus empregados. “Aquele líder da velha guarda, que fica ligando o tempo todo para confirmar se os funcionários estão a postos, não serve para esse tipo de negócio.”