Para 2015

Por Maurício Assuero, economista e professor

Estamos chegando ao final de 2014 com uma situação econômica muito mais complicada do que gostaríamos. As previsões para o crescimento da economia continuam, a cada divulgação, em nítida queda livre e o momento político não tem sido favorável para discutir quais são os cenários de 2015. Se considerarmos apenas as projeções, continuaremos caindo fortemente no próximo ano e até o primeiro trimestre deveremos conhecer o tamanho da recessão.

Toda economia anda em ciclos e apresenta em algum momento uma linha de ascensão até atingir um pico. Isso equivale a dizer que o produto real se aproximou do produto potencial (quando todos os fatores de produção estão empregados) ou que o hiato do produto diminuiu. Dificilmente uma economia se mantém durante muito tempo num ponto de pico. É natural que a exaustão dos recursos gere uma desaceleração. Quando a economia é sustentável, esta desaceleração acaba sendo pontual, ou seja, basta uma nova politica para colocar novamente a economia numa fase de recuperação. Ocorrem casos nos quais a queda é maior do que ascensão e a demora na recuperação é maior do que o período de pico. O Brasil é assim: quando cai faz um barulho tremendo.

Estamos nitidamente em queda e sem dispor de remédios para uso imediato ou que produzam efeitos imediatos. Das políticas utilizadas, a que mais se sobressaiu foi o incentivo do consumo. Pouco o país fez no sentido de aumentar investimento (a taxa de juros não é convidativa) e menos ainda demonstrou qualquer preocupação em conter os gastos públicos, uma medida bastante impopular para um período eleitoral. O volume de crédito como fração do PIB chegou a 56,76% (segundo o Banco Central) em agosto de 2014, mas a taxa de inadimplência tem crescido também (em agosto 2014 era 3,08%. Em janeiro de 2014 era 2,97%). Assim, não parece uma decisão salutar emprestar recursos quando a probabilidade de não receber apresenta viés de alta.

Por outro lado, conclama-se há muito que o país adote reformas prioritárias dentre as quais da Previdência. Em setembro de 2012 tínhamos um déficit de R$ 11,12 bilhões e um ano depois chegamos a R$ 11,763 bilhões negativos. Isso se explica pela antecipação do 13º salário dos aposentados além de atualizações no salário mínimo. Em agosto de 2014 a Previdência registrou R$ 5,861 bilhões negativos e quando for divulgado o resultado de setembro será simplesmente desastroso. Qual a tendência de mudança? Nenhuma, porque não há vontade política.

Em termos de arrecadação, há oscilações nas receitas via imposto de renda pessoa física, pessoa jurídica e no IPI (que foi o instrumento da política monetária do governo), mas como há uma evolução no volume de crédito, a arrecadação do governo em termos de IOF – Imposto sobre Operações Financeiras, tem acompanhado o ritmo desse crescimento. Será que esta é a razão de tanto incentivo ao consumo? Esperamos que não, mas é bom desconfiar, afinal Papai Noel não existe! Ou existe?

 

Pedro Augusto é jornalista e repórter do Jornal VANGUARDA.

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