Pesquisa inédita conduzida por Alberto Guerra (professor da FGV e pesquisador da FIA), em colaboração com os professores doutores Flávia Ghisi (FIA e Fundação Dom Cabral) e Marcos Angeli (FEA), indica baixa credibilidade nas ações do varejo brasileiro na Black Friday. Segundo o estudo, 74% dos consumidores ouvidos acreditam que poucas promoções são reais, pois muitas são mascaradas, e metade destes não vê vantagens na maior parte das ofertas.
A pesquisa foi realizada no primeiro semestre de 2017, com 752 entrevistados de todas as regiões brasileiras. A amostra inclui consumidores com diversos níveis de renda e escolaridade, dos quais 58,2% são mulheres, 75,3 % têm idades entre 32 e 60 anos, 60,2% são casados e 56,4% têm filhos.
O levantamento amplia questões sobre perspectivas da ação e expectativas dos consumidores, identificando pontos de atenção. Segundo Alberto Guerra, 69% dos consumidores acreditam que as promoções da Black Friday não incluem apenas produtos de lançamento, mas, também, produtos fora de linha ou obsoletos. “Este é o principal motivo de frustração por parte dos consumidores, uma vez que a Black Friday é uma ação promocional originalmente de sobras de estoque e produtos de gerações ou coleções anteriores, inclusive nos Estados Unidos. Produtos de lançamento normalmente não entram na promoção, o consumidor que vai às compras buscando isso vai se decepcionar”, alerta.
Segundo o pesquisador, o descrédito também é reflexo dos primeiros anos da promoção no Brasil, a partir de 2010. “Alguns varejistas começaram a aumentar o preço dos produtos nas semanas anteriores à data, o que resultou no meme Black Fraude, com tudo pela metade do dobro do preço”, lembra o especialista. “Com a atuação dos órgãos de fiscalização e a profissionalização da gestão do varejo, essa imagem começa a ser revertida na prática”, embora a pesquisa ainda aponte fortes resquícios dessa imagem negativa. Nesse sentido, o estudo indica potencial de crescimento para a ação, pois mais de um terço dos consumidores brasileiros (36%) ainda não efetuaram compras na Black Friday, por falta de confiança nos descontos ou por julgarem que as ofertas são pouco atrativas.
Por outro lado, o varejo ainda acredita na Black Friday como importante ferramenta para alavancar suas vendas. Estas expectativas otimistas se justificam pelo desempenho da ação nos últimos anos. “A Black Friday cresce em faturamento acima de dois dígitos a cada edição, o que não ocorre com nenhuma outra data comercial do varejo como Dia das Mães, Dia das Crianças ou Dia dos Pais”, destaca Alberto. Entre aqueles que já compraram na Black Friday, 53% declaram estar propensos a gastar mais ou pelo menos o mesmo que em 2016.
A pesquisa também revelou que 52% dos consumidores ouvidos não se preparam para comprar na Black Friday e que 48% se preparam com antecedência de até 30 dias. Como hábitos de consumo, ficou evidente que a maioria (73%) não aproveita a Black Friday para antecipar as compras de Natal, que os produtos comprados são para uso próprio ou de consumo frequente, com preferência por produtos de valor mais alto. As categorias com maior interesse de compra pelos consumidores na Black Friday 2017 são eletrônicos/eletroportáteis (40%), roupas e calçados (25%) e livros/discos/filmes (22%).