A Polícia Federal de Minas Gerais reabriu o inquérito sobre o atentado a faca sofrido pelo presidente Jair Bolsonaro durante a campanha de 2018. A informação foi confirmada nesta quinta-feira pelo delegado Rodrigo Morais, que recebeu um ofício do Tribunal Regional Federal da 1ª Região autorizando o acesso aos dados do celular do advogado Zanone Manuel de Oliveira Júnior, que atua na defesa do autor da facada, Adélio Bispo.
O delegado afirmou que a decisão da TRF-1 permitirá esclarecer a “única lacuna” que ficou no inquérito concluído em maio de 2020 – se os advogados de Adélio foram contratados por um terceiro ou se eles resolveram assumir o caso por conta própria devido à exposição midiática. Além do conteúdo do celular, a PF deve analisar as imagens das câmeras de segurança do escritório do advogado e pedir a quebra do sigilo fiscal e bancário dele.
A Polícia Federal chegou a abrir dois inquéritos para investigar o ataque ocorrido durante ato de campanha de Bolsonaro em Juiz de Fora (MG), em setembro de 2018. E nas duas investigações, que levaram mais de um ano, a corporação concluiu que Adélio havia agido sozinho, sem a participação de terceiros.
Criminalista experiente, Zanone Júnior foi alvo da PF no fim de 2018. Mas o material recolhido em seus endereços não puderam ser verificados pela PF devido a uma decisão liminar do desembargador Néviton Guedes, do TRF-1. O juiz acatara a um pedido da OAB que reclamava de violação do sigilo funcional da defesa.
Essa liminar foi derrubada pelo plenário do TRF-1 por 3 votos a 1 no início de novembro. Na ocasião, os magitrados argumentaram que o objeto da questão não era o relação do advogado com o cliente, mas o esclarecimento pleno do crime.
Em depoimento à Polícia Federal, o advogado contou que foi procurado por um desconhecido para atuar no caso – sem revelar o seu nome. Na ocasião, ele teria informado a essa pessoa quanto costumava receber para trabalhar em processos do tipo – 150.000 reais -, mas aceitou baixar o valor para 25.000 reais.
Os investigadores da PF sempre desconfiaram dessa versão propalada pelo advogado, o presidente Jair Bolsonaro e seus apoiadores. E, no inquérito fechado em maio de 2020, escreveram que Adélio Bispo “agiu sozinho, por iniciativa própria, tendo sido o responsável pelo planejamento da ação criminosa e por sua execução, não contando, a qualquer tempo, com o apoio de terceiros”. O texto diz ainda que o agressor atentou contra a vida do então candidato à Presidência da República “com o claro propósito de tirar-lhe a vida”.
O Ministério Público Federal acatou à conclusão da PF e pediu o arquivamento da investigação, em junho de 2020. Um ano antes, a Justiça Federal de Juiz de Fora (MG) considerou que Adélio Bispo era “inimputável” por ter sido diagnosticado com transtorno delirante permanente e determinou a sua internação sem prazo determinado.
Agência O Globo