Plano Biden para as famílias: cobrar dos mais ricos e recuperar a classe média

US President Joe Biden addresses a joint session of Congress as US Vice President Kamala Harris and US Speaker of the House Nancy Pelosi applaud at the US Capitol in Washington, DC, on April 28, 2021. (Photo by Melina Mara / POOL / AFP)

Para estimular a competitividade dos Estados Unidos e recuperar sua classe média, o presidente Joe Biden propôs na quarta-feira um novo e gigantesco plano de gastos em auxílios para as famílias e para a educação, que ele deseja financiar ao cobrar que os riscos paguem uma taxa de imposto “justa”.

O “Plano para as Famílias Americanas” representa investimentos de 1,8 trilhão de dólares em 10 anos. O pacote se une ao plano de infraestruturas de US$ 2 trilhões já apresentado pelo presidente democrata, mas que ainda está longe de ser aprovado pelo Congresso.

Também sucede o pacote de ajuda para superar a pandemia de Covid-19, de 1,9 trilhão de dólares, que já permitiu a entrega de cheques de 1.400 dólares às famílias americanas.

“Estamos competindo com a China e outros países para vencer o século XXI. Temos que fazer algo mais que reconstruir, temos que construir melhor”, disse Biden em seu primeiro discurso ao Congresso, com um apelo para que as pessoas comprem produtos feitos nos Estados Unidos.

“Para vencer esta competição, temos que fazer os investimentos de uma geração em nossas famílias”, continuou o presidente.

Para financiar os gastos, uma das principais medidas do plano reverte os benefícios concedidos às classes mais ricas pelas reformas fiscais de 2017 de Donald Trump.

“É o momento de que as empresa americanas e o 1% mais rico dos americanos paguem sua parte justa”, disse o presidente.

De acordo com a proposta de Biden, a taxa de imposto máxima para as pessoas físicas aumentaria de 37% a 39,6%, mas isto afetaria apenas 1% das famílias mais ricas.

O mesmo aconteceria com os lucros de capital, como as operações na Bolsa, que atualmente desfrutam de uma taxa de imposto de 20% e que podem ser tributadas também em 39,6% para aqueles que recebem mais de um milhão de dólares por ano. Os americanos mais ricos representam apenas 0,3% dos contribuintes, segundo o governo Biden.

O Tesouro americano espera que as medidas gerem 700 bilhões de dólares de financiamento ao longo de 10 anos.

O plano também contempla a modernização da agência tributária com investimentos de 80 bilhões de dólares, depois que o Tesouro destacou que 1% dos mais ricos não declaram ao fisco quase 20% de seus rendimentos. Isto representa um déficit na receita tributária de US$ 175 bilhões, de acordo com o governo.

“Os críticos temem que o aumento dos impostos sobre os ganhos financeiros reduza o retorno dos investidores e provoque a queda dos preços das ações, mas os investidores particulares possuem na realidade apenas apenas um terço das ações no mercado”, afirmou o instituto de pesquisas Tax Policy Center.

Investir na classe média
Na opinião do analista de mercado Peter Cardillo, da Spartan Capital Securities, os aumentos de impostos propostos sobre lucros financeiros já foram descontados pelo mercado. “Não acredito que vai prejudicar o mercado ou o sentimento dos investidores”, disse.

O governo Biden pretende investir o que arrecadar na classe média.

O plano se concentra na educação, da pré-escola até a universidade. Em caso de aprovação, o projeto vai proporcionar matrícula gratuita para os dois primeiros anos do jardim de infância e também para dois anos de estudos em universidades comunitárias.

De acordo com o governo, a escolarização a partir do jardim de infância concederia ao PIB do país três vezes mais do que o custo.

O projeto também pretende aumentar os créditos fiscais para as famílias com filhos e subsidiar o custo das creches, com base na renda.

Os republicanos criticam os gastos, que também preocupam os partidários da ortodoxia orçamentária.

“O Congresso deveria seguir o exemplo do presidente”, admitiu o Comitê para um Orçamento Federal Responsável, uma organização centrista.

“Mas não devemos perder de vista as perspectivas de uma carga de dívida elevada e crescente”, completa a organização, pois a dívida pública americana já equivale ao PIB do país.

Para a conservadora Heritage Foundation, o apoio financeiro previsto pelo governo é uma interferência: “As famílias americanas estariam melhores se conservassem suas rendas para gastar com o que sabem ser melhor para elas, em vez de deixar o governo pegar seu dinheiro e redistribuí-lo por meio de benefícios decididos por políticos”, disse uma porta-voz.

AFP

Pedro Augusto é jornalista e repórter do Jornal VANGUARDA.

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