Em mais um capítulo da crise interna do PSDB, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, negou, ontem, que tenha pedido ao governador de São Paulo, João Doria, o adiamento da vacinação contra a Covid-19.
O episódio veio à tona na última quarta-feira. Numa entrevista, Eduardo Leite contou que, em janeiro, recebeu um telefonema do ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Luiz Ramos, pedindo que o início da imunização contra o coronavírus fosse atrasado em São Paulo. O telefonema ocorreu às vésperas do começo da campanha, em 19 de janeiro.
Leite sustentou que ligou para Doria apenas com o intuito de “relatar a conversa”, e não para pedir o adiamento. “O que fiz foi, a partir de um telefonema que recebi do ministro Luiz Ramos, fazer contato com o meu colega de partido para relatar aquela conversa, que nada mais era do que um esforço de conciliação política para a vacinação no Brasil”, alegou o governador gaúcho, em coletiva de imprensa.
Para Leite, a retomada do assunto é uma tática dos adversários esquerdistas para desmoralizá-lo. Ele acredita ser alvo de um ataque “injusto, imoral, antiético e oportunista”. “Não pedi e nunca pediria que se adiasse vacinação no Brasil, jamais faria um pedido desta natureza”, enfatizou.
Leite, Doria e o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio disputam as prévias do partido, no domingo, para definir quem será o candidato da legenda à Presidência da República.
Apoiadores dos dois governadores travam uma guerra interna. Nas últimas semanas, o aplicativo de votação também se tornou outro motivo de desentendimento nas prévias. O software enfrentou desconfianças do grupo de Doria, já que foi desenvolvido por uma fundação ligada à Universidade do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Fontes ouvidas pelo Correio, afirmaram que a confusão é ainda maior entre os militantes e em grupos de WhatsApp dos filiados. Na defesa de seus candidatos, eles trocam acusações e ofensas. As brigas provocaram um desconforto tão grande que alguns já estão de malas prontas para deixar a legenda. Não somente filiados, mas também parlamentares estão descontentes com os rumos que o partido tem tomado. Eles consideram a situação como preocupante e veem a legenda perdida diante do cenário de polarização política no Brasil.
Divisão
O cientista político Cláudio Couto, professor da Fundação Getulio Vargas de São Paulo (FGV/SP), mencionou que existem dois grupos maiores que são contra a candidatura do governador de São Paulo: apoiadores do deputado Aécio Neves e simpatizantes do ex-governador paulista Geraldo Alckmin.
Couto também destacou filiados do Rio Grande do Sul e do Nordeste, onde o gestor paulista não teria um “bom trânsito”. “Tem muita gente fora de São Paulo que vê Doria como alguém que quer impor a vontade e não tem como unir o partido. De qualquer forma, mesmo que ele ganhe, vai sair arrebentado das prévias, considerando o grau de animosidade”, frisou.
Correio Braziliense