Folhapress
O dono do veículo suspeito de ter sido usado por criminosos no assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL), no Rio de Janeiro, apreendido na cidade mineira de Ubá na madrugada do domingo (18), foi localizado e ouvido pela polícia. Segundo a Polícia Civil de Minas Gerais, a princípio seu envolvimento no crime foi descartado. Só um laudo pericial confirmará, porém, se seu carro foi usado no assassinato de Marielle e do motorista Anderson Pedro Gomes.
O carro de Marielle foi atingido por nove tiros na noite de quarta (14), em ação que a polícia acredita ter sido premeditada. Ela levou quatro tiros e Anderson, três. Uma assessora que também estava no veículo não foi atingida. Imagens de câmeras de segurança divulgadas no sábado (17) mostram dois carros de cor prata seguindo o veículo de Marielle, que participava de um evento na Lapa. Assim que a vereadora partiu, um veículo que estava estacionado logo atrás começou a sair da vaga. Antes, deu seta e deixou outro carro, que pode ser o segundo envolvido, passar.
O veículo da vereadora seguiu por quatro quilômetros até o Estácio, na região central da cidade, até ser interceptado pelos criminosos por volta das 21h30.
Entenda o caso
A vereadora Marielle Franco (PSOL), 38, foi morta na noite de quarta (14) na zona norte do Rio. Ela e o motorista do carro em que estavam foram baleados e ambos morreram. Uma assessora que a acompanhava sobreviveu. Ela voltava do evento “Jovens Negras Movendo as Estruturas”, uma roda de conversa na Lapa (centro), quando foi interceptada pelos criminosos.
A vereadora era aliada de Marcelo Freixo, que ficou em segundo lugar na eleição para prefeito do Rio. Segundo ele, nem o partido nem a família de Marielle sabiam de ameaças contra ela. A morte ocorreu no momento em que a intervenção federal na segurança pública do Rio completa um mês. A medida, inédita, foi anunciada pelo presidente Michel Temer (MDB) em 16 de fevereiro, com o apoio do governador Luiz Fernando Pezão, também do MDB.
Temer nomeou como interventor o general do Exército Walter Braga Netto. Ele, na prática, é o chefe dos forças de segurança do estado, como se acumulasse a Secretaria da Segurança Pública e a de Administração Penitenciária, com PM, Civil, bombeiros e agentes carcerários sob o seu comando.
O Rio de Janeiro passa por uma grave crise política e econômica, com reflexos diretos na segurança pública. Desde junho de 2016, o estado está em situação de calamidade pública e conta com o auxílio das Forças Armadas desde setembro do ano passado. Não há recursos para pagar servidores e para contratar PMs aprovados em concurso. Policiais trabalham com armamento obsoleto e sem combustível para o carro das corporações. Faltam equipamentos como coletes e munição.
A falta de estrutura atinge em cheio o moral da tropa policial e torna os agentes vítimas da criminalidade. Somente no ano passado 134 policiais militares foram assassinados no estado.
Policiais, porém, também estão matando mais. Após uma queda de 2007 a 2013, o número de homicídios decorrentes de oposição à intervenção policial está de volta a patamares anteriores à gestão de José Mariano Beltrame na Secretaria de Segurança (2007-2016). Em 2017, 1.124 pessoas foram mortas pela polícia. Em meio à crise, a política de Unidades de Polícia Pacificadora ruiu -estudo da PM cita 13 confrontos em áreas com UPP em 2011, contra 1.555 em 2016. Nesse vácuo, o número de confrontos entre grupos criminosos aumentou.
Apesar da escalada de violência no Rio, que atingiu uma taxa de mortes violentas de 40 por 100 mil habitantes no ano passado, há outros estados com patamares ainda piores. No Atlas da Violência 2017, com dados até 2015, Rio tinha taxa de 30,6 homicídios para cada 100 mil habitantes, contra 58,1 de Sergipe, 52,3 de Alagoas e 46,7 do Ceará, por exemplo.