População de rua cresce em Caruaru

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Wagner Gil

Em Caruaru, a população de rua vem crescendo de forma considerável nos últimos meses, piorando depois que a crise econômica atingiu a todos, principalmente as pessoas inclusas nas classes C, D e E. Segundo o secretário de Ação Social e Direitos Humanos, Fernando Silva, o cenário futuro não é nada animador.

De acordo com ele, a cada dia se investe menos na área social e o crescimento ou melhora da economia não tem chegado aos mais necessitados. “Não temos nem previsão de quando vai melhorar. O cenário futuro não é nada animador. Para você ter uma ideia, vai ter um seminário no Recife onde vai se debater a redução dos gastos na ação social. Isso mesmo, a verba que temos para atender as pessoas mais vulneráveis vai diminuir”, disse.

Em Caruaru, várias praças, marquises e prédios públicos servem de abrigo para moradores de ruas. Atualmente, a situação desse pessoal é bastante complicada por vários fatores, entre eles o frio que vem fazendo na cidade nos últimos meses. “Temos madrugada aqui que a temperatura chega aos 13 graus. Não sei como esse pessoal aguenta tanto frio”, comentou Roberto Carlos Amorim, segurança de uma farmácia que fica localizada na Avenida Rio Branco, no centro da cidade.

Nossa reportagem conversou com alguns moradores de ruas e boa parte deles – a grande maioria – é de outra cidade ou estado. “Estou aqui por conta do desemprego. Sou de Feira de Santana (Interior da Bahia) e vim tentar a vida em Caruaru. A Feira da Sulanca me ajuda no sustento”, disse João Pedro. “Não estou na rua por opção, estou por necessidade”, afirmou. Indagado se utilizava os abrigos oferecidos pela prefeitura, ele disse que sim.

Também tem gente que está na rua porque foi abandonado pela família ou resolveu deixar tudo para trás. É o caso da pessoa identificada como Ronaldo. “Minha mulher e meus filhos me abandonaram depois que fiquei desempregado. Então resolvi viver pelo mundo”, disse o senhor, que sempre dorme nas proximidades da Estação Ferroviária. Nossa equipe de reportagem encontrou pelo menos oito pessoas no local e a maioria deles não deixou ser fotografada ou quis falar.

Em alguns locais, a presença do pessoal chega a causar incômodo. No Centro, alguns lojistas reclamam que boa parte dos moradores de rua deixa um rastro de sujeira e até fezes na porta de seus estabelecimentos. A Banca de Revistas Terceiro Mundo, que fica localizada em frente à Igreja Nossa Senhora das Dores, tem um funcionário para limpar o entorno todos os dias antes que comece a receber clientes. “Foi uma forma que encontrei de tirar esse mau cheiro que fica na calçada. Todos os dias ela é lavada antes das seis da manhã”, revelou Ramiro Spíndola.

Na periferia, a presença dos andarilhos também incomoda. No início da Rua Alferes Jorge, um grupo de moradores de rua tomou conta da praça local. No espaço eles fazem churrasco, consomem bebidas e deixam um rastro de depredação. “Não trago meus filhos nessa praça porque ela está entregue a esse pessoal”, disse a dona de casa Maria José Melo. “Alguns desses moradores consomem drogas, como maconha e crack. Além disso, alguns equipamentos, que seriam destinados às crianças, estão com roupas, colchões etc”, completou o pedreiro Marcone Melo.

PREFEITURA

Atualmente a Prefeitura de Caruaru oferece duas estruturas para os moradores de ruas. Numa, localizada na Rua Alferes Jorge, no Bairro Indianópolis, eles têm direito à refeição, local para dormir e lavar suas roupas. “Nós oferecemos até material para lavar a roupa e higiene pessoal”, disse a assistente social Cíntia Medeiros. “São pessoas que estão em condições muito vulneráveis. São os invisíveis da sociedade.”

Segundo o secretário Fernando Silva, em Caruaru uma média de 80 a 100 pessoas são assistidas diariamente, sendo que 80% delas são de outras cidades e até de outros estados.

Pedro Augusto é jornalista e repórter do Jornal VANGUARDA.

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