Logo após o impedimento da presidente Dilma Rousseff (PT), que ocorreu na última quarta-feira (31), o presidente do Partido Socialista Brasileiro (PSB), Carlos Siqueira, concedeu entrevista onde tece muitas críticas ao Partido dos Trabalhadores. Diz que o novo governo deve manter as conquistas sociais dos últimos anos, além de rechaçar o argumento de ‘golpe’ utilizado pelos petistas e a ex-presidente, que logo após a aprovação do impeachment, concedeu entrevista dizendo ser vítima de um ‘golpe parlamentar’.
Siqueira lembrou que desde que o processo democrático foi instalado no país, o PT protocolou vários pedidos de impeachment, que vão desde a Era Collor até o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que antecedeu o petista Luiz Inácio Lula da Silva. “Primeiramente e, até mesmo por dever de ofício, devo rechaçar com veemência a ideia de que o processo de impeachment, que foi conduzido por meio de regras orientadas por nossa côrte suprema, o Supremo Tribunal Federal, possa se caracterizar como um golpe de estado, ou como golpe parlamentar”, disse Carlos Siqueira. “Vejam se o presidente Collor sofreu o impeachment; se na época o PT contribuiu decisivamente para o impedimento, prática que entendeu ser democrática, cidadã. Hoje nos parece no mínimo estranho que aquele partido veja essa mesma situação transmutada para a condição de um golpe parlamentar”, completou.
Para Siqueira, tanto Dilma quanto Collor foram eleitos com milhões de votos. “Por que os eleitores de Collor seriam piores do que os de Dilma? O PT solicitou o impedimento de José Sarney, de Fernando Henrique Cardoso. Será que isso é correto, será que só é golpe quando se trata do PT? Quando a situação se refere a outro candidato, a outro partido, não é golpe? No caso do ex-presidente Collor, o PT teria cometido um golpe contra a democracia, logo no início do seu restabelecimento em 1989? Na política é fundamental ter coerência e se evitar o oportunismo, o exclusivismo. A regra que serve para um, deve servir outros e para todos”, reafirmou.
Segundo ele, o apoio do seu partido ao afastamento de Dilma se deu em sintonia com o sentimento das ruas. “Gostaria de agradecer imensamente aos meus companheiros da Executiva nacional, que por longo tempo discutiram conosco, com o conjunto do partido, e tomaram uma decisão clara, objetiva e favorável ao processo de impedimento, sintonizados, partido e a grande maioria de seus membros com as ruas”, reconheceu o socialista. “Agradeço também, de modo muito especial, as bancadas do PSB na Câmara dos Deputados e no Senado Federal que, por sua amplíssima maioria votaram, na Câmara, pela autorização do impeachment e, no Senado, pela pronúncia e pelo impedimento da então presidente”, agradeceu.
Indagado como as bases do PSB receberam a decisão da Executiva em apoiar o impedimento de Dilma, ele foi direto: “Essa pergunta é interessante porque me dá a oportunidade de agradecer à nossa militância Brasil afora, que deu a mim e a muitos de nossos parlamentares amplo apoio. Faço o reconhecimento do valor de nossos companheiros que se posicionaram contra, apesar de estar convencido de que a opção eleita por eles não é a que melhor serve ao Brasil”, pontuou.
Siqueira fez uma avaliação dos problemas causados pelo Governo do PT e que levaram ao impeachment. “O impeachment é decorrência do fracasso de um conjunto de políticas públicas que levaram o país a uma condição sem precedentes. A economia, por três anos consecutivos, pela primeira vez em nossa história, está em recessão profunda. Essa situação foi prevista e nosso presidente à época, Eduardo Campos, chamou a atenção para esse risco, em diálogo com a própria presidente”, relembrou o presidente nacional do PSB. “Afinal de contas, a dívida pública quando o presidente Lula assumiu estava em torno de R$ 560 bilhões e hoje está na casa de R$ 3 trilhões. Isso tem implicações gravíssimas”, reconheceu. “Não por acidente, a indústria de transformação brasileira regrediu a patamares, em termo de participação no PIB, inferiores ao fim da era Getúlio Vargas. Regredimos décadas, em lugar de andar para frente”, completou.
Siqueira fez ainda uma avaliação do governo de Dilma, lembrando que ela faz parte de um ‘projeto político que fracassou’. Ele disse que “Lula gozou do maior capital político do país”, mas não aproveitou a onda para fazer as reformas necessárias. “Lula conseguiu ter uma aprovação alta, a maior de um presidente, e, nessa condição, nesse período, não se fez a reforma política. Não se propôs, sequer, uma reforma que pudesse modernizar o sistema político brasileiro, que permitisse realizar o financiamento público de campanhas, que tivesse o condão de aprimorar as práticas políticas. Não se fez a reforma do Estado, a reforma administrativa, não andamos com uma única vírgula na reforma tributária, de tal modo que os pobres, proporcionalmente a sua renda, continuam a pagar mais impostos que os ricos”, avaliou Carlos Siqueira. “É lamentável, portanto, depois de um longo período, que o saldo seja tão negativo, sobretudo para as populações mais pobres”, disparou.
Indagado sobre sua avaliação do novo governo, ele reiterou a legalidade do governo de Temer. “Quero ressaltar que se trata de um governo que goza de perfeita institucionalidade e que se instalou em conformidade estrita com aquilo que prevê nossa Constituição. Cabe a ele criar as condições para que o Brasil volte a crescer, criar empregos e pacificar politicamente o país”, orientou. “Para que essas missões sejam realizadas, todas as forças políticas responsáveis deverão se somar e ajudar na tarefa de reconstrução, sem que isso implique, evidentemente, conferir ao presidente Temer um cheque em branco”, finalizou o socialista.