Da Folhape
O ex-secretário de Obras do Rio Hudson Braga afirmou ontem (2) que usou em benefício pessoal R$ 3 milhões provenientes de “sobras de caixa dois de campanha” do governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (PMDB).
Negociando delação premiada com a PGR (Procuradoria-Geral da República), Braga foi coordenador de campanha de Pezão em 2014 e braço-direito do governador quando este ocupava o cargo de secretário de Obras, na gestão de Sérgio Cabral (PMDB) -Cabral e Braga foram presos em novembro na Operação Calicute, desmembramento da Lava Jato.
Não é a primeira menção a caixa dois na campanha de Pezão. A informação consta também na delação de executivos da Odebrecht, segundo a qual ele foi beneficiário de R$ 23 milhões via caixa dois. A contribuição, segundo os depoimentos, foi solicitada por Cabral.
O nome do peemedebista também já havia sido identificado em bilhetes apreendidos durante a operação, que indicam supostos pagamentos mensais do esquema.
Os R$ 3 milhões, segundo Braga, estava guardado na Transexpert, empresa de guarda de valores. O ex-secretário disse que usou os recursos para adquirir um empreendimento em Volta Redonda.
O Ministério Público Federal questionou se havia mais recursos disponíveis na empresa e quem tinha poder para usar as “sobras de campanha”. Braga disse que só responderia questões sobre o processo de Operação Calicute, que trata de propinas pagas pela Andrade Gutierrez.
“Esses fatos estão relacionados a outros fatos. Quero colaborar, mas em outra situação”, disse ele.
Salários
Braga assumiu também que cobrou da Andrade Gutierrez 1% dos valores dos contratos da empreiteira com o Estado como propina, a chamada de “taxa de oxigênio”.
Ele disse que a taxa tinha como objetivo “melhorar o salário das pessoas envolvidas” nas grandes obras do Estado. Segundo ele, recebiam os valores presidentes de empresas públicas, subsecretários, superintendentes e assessores especiais.
Ele afirmou que a iniciativa da cobrança e definição do percentual partiu do ex-secretário Wilson Carlos, braço-direito de Cabral. Todos estão presos desde novembro após a deflagração da Operação Calicute, um desdobramento da Lava Jato.
“O Wilson Carlos me chamou no fim de 2007, início de 2008, e disse que era para ser cobrado o valor. Existiam queixas de salário pagos pelo Estado. Essa taxa era para melhorar o salário das pessoas envolvidas nos projetos. Eu organizava isso com o Wagner Garcia [assessor da pasta, também preso]”, disse Braga ao juiz Marcelo Bretas.
Ele mencionou especificamente o pagamento da Andrade Gutierrez pelas obras na favela de Manguinhos, parte do chamado PAC das Favelas.