A produção industrial vem desacelerando mês a mês e, ao que tudo indica, o cenário deverá se manter nos próximos meses. Pesquisa divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta mais uma queda — desta vez, de 0,7% em agosto, ante julho. Com o resultado, o terceiro recuo consecutivo, a indústria voltou a um patamar 2,9% abaixo do verificado em fevereiro do ano passado, antes da pandemia, e 19,1% inferior ao nível recorde de produção, registrado em maio de 2011.
Os dados do IBGE mostram que a queda em agosto foi puxada, principalmente, por produtos químicos (-6,4%), derivados do petróleo e biocombustíveis (-2,6%), veículos automotores (-3,1%), produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-9,3%) e pela produção de coque — carvão utilizado na redução do minério de ferro a ferro metálico.
Com recuo de 3,4% no mês, a categoria bens de consumo duráveis teve a oitava queda seguida, acumulando, no período, recuo de 25,5%. O segmento abrange a indústria de automóveis, que tem sofrido há meses com a escassez de componentes. “Esse setor é conhecido pela dificuldade que enfrenta na obtenção de insumos, como os semicondutores usados na produção de veículos, que tem sido muito impactada”, explicou o gerente de Políticas Tributária e Fiscal da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Mário Sérgio Carrara.
O representante da CNI observou que a indústria acumula retração superior a 8% em 2021. “Isso é muito influenciado pela queda dos bens de consumo, principalmente dos chamados bens de consumo duráveis, que tiveram retração de 20% somente este ano”, afirmou. Segundo Carrara, além de problemas estruturais, como o alto custo da energia elétrica, a indústria também voltou a sofrer concorrência de produtos importados. “As importações cresceram em quantidade próxima de 6%, e parte da queda na produção nacional de bens de consumo é por causa dos importados que estão voltando a ganhar o mercado”, pontuou. De acordo com o gerente da CNI, o sistema tributário beneficia os produtos importados em relação à produção doméstica.
Apesar das quedas recentes, a indústria acumula ganho de 9,2% no ano e de 7,2% nos últimos 12 meses. Já na comparação com agosto de 2020, o setor recuou, também, 0,7%, interrompendo 11 meses de crescimento nesse indicador. A base de comparação muito baixa da pior fase da pandemia, em 2020, foi o principal fator para as altas, aponta o gerente da pesquisa do IBGE, André Macedo. “As bases de comparação dos meses anteriores estavam muito depreciadas. Isso justificava, inclusive, taxas de crescimento de dois dígitos. Chegamos a esse primeiro resultado negativo depois de 12 meses de crescimento na produção”, disse Macedo.
Para Sérgio Carrara, da CNI, a tendência é de novas quedas à frente, entre outros motivos, pelo aumento das taxas de juros promovida pelo Banco Central para segurar a inflação. Por enquanto, a alta dos juros ainda não se traduziu em redução da demanda industrial. “Mas, em alguns meses, vai começar a ter efeito e aí teremos redução da demanda doméstica, com novo impacto sob a produção da indústria”, afirmou.
Marco ferroviário passa no Senado
O Senado aprovou ontem, em votação simbólica, o PL nº 261/2018, que cria o novo Marco Legal das Ferrovias. O principal avanço é liberar um novo regime ferroviário no país, chamado de “autorização”. Nele, novos traçados são construídos exclusivamente pelo interesse da iniciativa privada, sem licitação. Muito comum em países como EUA e Canadá, o modelo nasce para atender demandas específicas do transporte de cargas, identificadas pelos próprios produtores e empresas. O PL ainda deve passar pela Câmara.
Correio Braziliense