A Opep e seus parceiros produtores concordaram neste domingo com o “maior corte na produção da história” na esperança de elevar os preços do petróleo em meio à pandemia de coronavírus e apesar das tensões entre Moscou e Riade.
A reunião “terminou com um consenso dos produtores da Opep+ sobre o corte da produção a partir de maio”, escreveu o ministro da Energia saudita Abdul Aziz bin Salman no Twitter.
“O grande acordo de petróleo com a Opep está concluído. Isso economizará centenas de milhares de empregos no setor de energia nos Estados Unidos”, tuitou o presindente dos Estados Unidos, Donald Trump.
“Gostaria de agradecer e felicitar o presidente (Vladimir) Putin da Rússia e ao rei Salman da Arábia Saudita. Acabei de falar com eles do Salão Oval. Um grande acordo para todos!”, acrescentou.
De Moscou, o Kremlin também ressaltou a “grande importância” do acordo dos Países Produtores de Petróleo (Opep) e seus parceiros, denominado Opep+, com o objetivo de sustentar o revés nos preços e equilibrar o mercado.
De acordo com uma declaração do Kremlin, Trump e Putin “ressaltaram mais uma vez a grande importância do acordo de formato ‘Opep+’ para reduzir a produção de petróleo”.
Os dois líderes também tiveram uma conversa por telefone com o rei saudita Salmán. Seus países são os principais produtores de petróleo do mundo.
A ministra de Energia do México, Rocío Nahle García, também elogiou no Twitter o acordo “por unanimidade dos 23 países participantes” e falou de uma redução de “9,7 milhões de barris de petróleo” a partir de maio.
Cortes considerados “históricos”
O secretário geral da Opep, Mohammad Barkindo, descreveu como “histórico” os cortes acordados neste domingo.
Esses cortes são “os maiores em volume e de maior duração, pois estão planejados para durar dois anos”, avaliou, acrescentando que o acordo “abriu o caminho para uma aliança global com a participação do G20”.
Por sua vez, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, disse na televisão que, com o acordo a partir de segunda-feira “os preços do petróleo se estabilizarão, o mercado do petróleo se estabilizará e servirá de base para a recuperação financeira, comercial e econômica” do mundo pós-pandemia.
Enquanto isso, o ministro do petróleo do Kuwait, Khaled al-Fadhel, elogiou o “acordo histórico” no Twitter.
Segundo Bjornar Tonhaugen, analista da Rystad Energy, “hoje a Opep+ conseguiu concluir um acordo histórico para fazer o maior corte na produção da história”. Embora os cortes na produção sejam menores do que o mercado precisava, o pior já foi evitado por enquanto”, disse o colega Magnus Nysveen.
A Opep retomou neste domingo por videoconferência a reunião que começou na quinta-feira com o cartel da OPEP + liderado pela Rússia, o segundo maior produtor mundial.
Esta reunião foi possível depois de Riade e Moscou darem uma trégua à guerra de preços que travaram desde a última conferência do grupo, em 6 de março, em Viena, Áustria, onde fica a sede da Opep.
Os dois exportadores foram surpreendidos com a rápida disseminação do coronavírus, que atingiu a demanda de petróleo diretamente, em uma época em que já havia uma oferta excedente.
“Na minha opinião, as ações [da Arábia Saudita, que aumentaram sua produção] eram irracionais, pois um aumento na extração em meio a uma queda na demanda é um tanto irracional, também do ponto de vista da teoria econômica”, declarou neste domingo o ministro da Energia da Rússia, Alexander Novak, citado pela agência russa TASS.
Alguns meses atrás, o preço do barril estava em torno de 60 dólares, mas no início da semana passada caiu para níveis nunca vistos desde 2002. O preço do barril, segundo a Opep, está abaixo de 21 dólares.
Queda drástica
Após longas negociações, na sexta-feira de madrugada, a Opep e seus parceiros concordaram, com exceção do México, em reduzir em maio e junho a produção mundial em 10 milhões de barris por dia.
O México considerou excessivo o esforço exigido (redução de sua produção em 400.000 barris por dia) em comparação com outros países. Os Estados Unidos, por sua vez, concordaram em ajudar o México a alcançar sua cota de redução para chegar a um acordo global e conter a queda nos preços.
Mas no sábado, os ministros da Energia dos países do G20 fracassaram em acordar uma queda na produção.
O comunicado conjunto divulgado após a cúpula virtual incluiu compromissos para cooperação futura na luta contra a pandemia, mas não mencionou nenhuma redução. Embora um acordo seja anunciado neste domingo, vários analistas duvidam que esses cortes aumentem os preços.
“Um corte de 10 milhões de barris por dia em maio e junho impedirá o alcance dos limites de armazenamento e os preços não cairão no abismo, mas não restaurará o equilíbrio de mercado desejado”, segundo analistas da Rystad Energy.
Os Estados Unidos não fazem parte da aliança Opep+, mas, segundo Novak, “apoiam o acordo”, que pode dar um alívio à sua indústria de petróleo de xisto, que passa por grandes dificuldades.
Segundo Novak, Washington estaria disposto a cortar a produção. “Ouvimos números de 2 a 3 bilhões de barris por dia”, disse o ministro russo.
AFP