Projeto estabelece a Capoeira como Patrimônio Cultural de PE

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Reconhecida desde 2008 pelo IPHAN como Patrimônio Imaterial do Brasil, e em 2014, como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) – assim como o Frevo – , a Capoeira caminha para se tornar Patrimônio Cultural Imaterial também de PE. A intenção é do Projeto de Lei Nº 1709/2017, apresentado pelo Deputado Estadual Zé Maurício na Assembleia Legislativa de PE.

Prática social brasileira que possui uma incontestável riqueza histórica, gestual, musical, ritualística, artesanal, dentre outras acumuladas com, na e para a coletividade. A capoeira está atrelada a historicidade brasileira e figura lócus importante para ações-reflexões-ações que transformaram, transformam e podem transformar paradigmas, ou, pelo menos, contribuir para humanizar relações com suas diferentes possibilidades de trato com notórios conhecimentos ancestrais de coletivos que foram e são oprimidos por diferentes tipos de violência.

Versatilidade na ginga

Em inúmeros países do mundo, a Capoeira é exemplo de possibilidade de política pública para diferentes demandas da sociedade como xenofobismo, etnia, gênero, ecologia, educação, inclusão, dentre outras que, trabalhadas com cantos e encantos, são desenvolvidas, muitas vezes de maneira voluntária e com mínimas condições estruturais, por diversos agrupamentos comprometidos com a melhoria de suas comunidades.

“O nosso Estado é um dos pontos de referência mais representativos da história da capoeira no Brasil, juntamente com o Rio de Janeiro e a Bahia, sendo que aqui ela foi determinante para a cultura do passo do frevo, elemento de expressão da identidade do povo pernambucano”, comenta o deputado Zé Maurício, sobre a importância da aprovação da medida para a ampliação da valorização da prática, que é ponto importante da formação cultural do Estado.

A opinião do parlamentar, fomentador de iniciativas como o Jovens de Sucesso (projeto focado no desenvolvimento cidadão de crianças e adolescentes, por meio também da capoeira, realizado em 22 polos na Região Metropolitana do Recife), é reforçada pelo Professor Henrique Kohl, do Departamento de Educação Física da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), que também é Contramestre de Capoeira e responsável pelo estudo técnico que embasa o PL Nº 1709/2017.

Identidade coletiva

“Pernambuco está tão intimamente ligado à construção de uma historicidade da capoeira nacional que, no fim do século 19 (momento de forte repressão à prática), muitos capoeiristas aqui – assim como em outros focos da capoeira no Brasil – foram perseguidos, presos em casas de detenção locais. Noutros tempos, por exemplo, a Ilha de Fernando de Noronha-PE, era espaço para institucional detenção para praticantes da Capoeira”, explica Kohl.

Para o pesquisador, que também é um dos responsáveis pelo Núcleo de Ensino, Pesquisa e Extensão de Artes Marciais, Modalidades Esportivas de Combate, Lutas e Capoeira (Nepex-DEF-CCS-UFPE) e projeto “Capoeira COM a UFPE: Gingados Transformadores ao Ritmo de Epistemologias Críticas”, foram acumuladas inúmeras tendências oriundas de intercâmbios locais, estaduais, nacionais e/ou internacionais, de outras figurações da capoeira, bem como das diversas esferas sociais.

Isso, somado às diferentes (re)leituras e (re)interpretações da Capoeiragem, da Capoeira Angola, da Capoeira Regional, da Capoeira Contemporânea, entre outras formas de identificar a capoeira pelos(as) capoeiras; agregaram elementos essenciais para a complexidade da capoeira, em especial, para a Capoeira de Pernambuco que conectada numa ampla rede de relações, de fato, possui seu forte núcleo identitário que segue encantando, transformando, motivando, emocionando e educando gerações de praticantes e simpatizantes que possuem orgulho de ter alguma relação com a Capoeira de PE. “É uma expressão cultural complexa, cuja identidade foi construída fortemente para, com e na coletividade”, pontua Tchê.

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