Pedro Augusto
com agências
Conforme dita a tradição católica, na Quarta-feira de Cinzas (26), um extenso volume de fiéis esteve acompanhando as missas promovidas nas paróquias espalhadas por Caruaru em celebração ao início da Quaresma. A data também ficou marcada pelo começo do vivenciar da Campanha da Fraternidade 2020, que tem como tema Fraternidade e Vida: Dom e Compromisso.
Desenvolvida e posta em prática pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a campanha visa chamar a atenção das pessoas contra atitudes de indiferença e violência em relação à vida. Ela também é inspirada na Santa Dulce dos Pobres, primeira brasileira a ser canonizada pela Igreja Católica, que dedicou sua vida inteira em prol dos mais necessitados.
Condutor da Missa das Cinzas da Matriz de Nossa Senhora das Dores, no Centro, o bispo de Caruaru, dom José Ruy, chamou atenção para a importância do início da Quaresma e da CF 2020. “O período a qual entramos é muito santo. Período este de práticas, de perdão, de muitas orações, além de muita caridade através da Campanha da Fraternidade. Ele é muito rico e bonito em que todos nós nos preparamos para celebrar o mistério da paixão, morte e ressurreição do Senhor durante a Semana Santa e, especialmente, no Domingo de Páscoa.”
Em paralelo às atividades realizadas pela Diocese de Caruaru, também na manhã da última quarta e na sua sede em Brasília, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil teve oportunidade de chamar a atenção para os alertas da Campanha da Fraternidade deste ano. “Esta campanha de 2020 nos alerta para duas atitudes: a primeira, a atitude da indiferença, marca de quem se preocupa somente com o próprio bem-estar. A segunda é decorrente da descrença em outras soluções para problemas relacionados à violência”, justificou o secretário-geral da CNBB, dom Joel Portella Amado.
Ao enumerar os motivos que levaram à definição da atual campanha, o secretário-geral da CNBB destacou, durante também o lançamento que, além da violência ostensiva, estão crescendo a pobreza, a devastação ecológica, a agressividade como solução dos conflitos, o individualismo como critério de realização pessoal e, “como insiste o papa Francisco, desde o início de seu pontificado, a indiferença diante dos sofrimentos alheios”.
“Olhando para esse conjunto de situações, a campanha deste ano nos pergunta se as agressões à vida não estão se incorporando à paisagem cotidiana, e se não estamos nos tornando acostumados com a morte em suas diversas formas. Ou, mais do que acostumados, se não estamos passando a acreditar que a morte seja a solução para muitos dos problemas que enfrentamos.”
Ainda no encontro com a imprensa, dom Joel citou a morte nas ruas, por bala perdida; a morte nas macas e nas portarias dos hospitais; além da morte por causa da fome, do desemprego e da ausência de moradia, da morte diante da inexistência de educação para todos e de ressocialização para quem errou. “Morte nos campos, morte nas aldeias indígenas; morte entre os jovens, que têm hoje índices de suicídios altíssimos”, acrescentou.
De acordo ainda com dom Joel Portella Amado, o pecado e a desumanização independem dos motivos pelos quais passa-se direto diante de quem sofre. “O simples fato de você passar adiante, cuidando da sua própria vida, já é pecado; já é desumanização. Não há motivo que justifique isso”, afirmou dom Joel, pedindo que se cuide do próximo como de si mesmo. “Nem a fragilidade pessoal pode nos isentar do cuidado e da solidariedade como critérios para a vida”, finalizou.
Em 2020, a Campanha da Fraternidade chegou à sua 56ª edição. Posta em prática pela comunidade católica em todo o país, ela ainda tem como objetivo propor a evangelização em consonância com a realidade contemporânea, resgatando necessidades vigentes de solução. Durante o ano, a igreja fomenta a participação dos fiéis e da comunidade em geral, discutindo o tema e propondo soluções centradas em relação ao mesmo. Já as arrecadações com oferta direcionadas à campanha serão enviadas ao Fundo Nacional de Solidariedade (FNS), que distribuirá a verba arrecadada entre projetos que fortaleçam as missões anuais.
Foi o que ressaltou, também durante o início da campanha, o coordenador executivo da CNBB, padre Patriky Samuel Batista. “A CF do ano passado direcionou R$ 3 milhões a 238 projetos selecionados. Com o auxílio, a ideia é de que essas ações se desenvolvam e possam gerar uma nova rede de ajuda.”
Santa Dulce
Canonizada no último dia 13 de outubro, Santa Dulce dedicou a sua vida para realizar obras de caridade e de assistência a pobres e necessitados na Bahia. Em cerimônia presidida pelo papa Francisco, ela se tornou a primeira santa da história do país. Inspiradas na Santa, as ações da CF deste ano estão centradas no compromisso de servir e ajudar aos mais necessitados com atitudes concretas.
“O importante é fazer a caridade. Sigam o testemunho de Santa Dulce e colaborem para transformar a vida de tanta gente que precisa do cuidado, carinho e amor”, pediu Maria Rita Pontes, sobrinha da santa e superintendente das obras sociais fundadas pela tia, na Bahia.
Irmã Dulce era uma freira baiana conhecida por muitos como “anjo bom da Bahia”. Ainda jovem, ingressou na vida religiosa e começou a exercer um chamado de caridade, servindo a pobres e doentes. A persistência e delicadeza foram qualidades essenciais para a criação de um dos maiores e mais respeitados trabalhos filantrópicos do país: as Obras Sociais da Irmã Dulce (Osid).
As raízes da entidade datam de 1949, quando sem ter para onde ir com 70 doentes, a religiosa pediu autorização a sua superiora para abrigar os enfermos em um galinheiro situado ao lado do Convento Santo Antônio. O episódio fez surgir a tradição de que o maior hospital da Bahia nasceu a partir de um simples galinheiro.