Em meio ao isolamento social e ao fechamento ou restrição de vários segmentos, a demanda por carga vem caindo drasticamente. Segundo pesquisa da NTC&Logística, associação que reúne 10 mil transportadoras, na média, a queda chega a 26,14% desde o início da crise do coronavírus, indicando o forte impacto provocado pela pandemia na atividade econômica.
O levantamento, divulgado ontem, mostra que, nas cargas fracionadas, o recuo é de 29,81%, enquanto nas de lotação total a redução é de 22,91%. O dado mais preocupante, contudo, é a forte retração, de mais de 55%, de transporte de cargas da indústria de embalagens, um indicador antecedente dos resultados da economia.
Lauro Valdivia, assessor técnico da NTC&Logística, explicou que a pesquisa foi realizada na segunda e na terça-feira, com 695 associados. “A ideia é fazer semanalmente, porque os resultados estão mudando muito rapidamente. Na segunda-feira, a queda geral estava em 19%, na terça aumentou para 23%. E fechamos em 26%. Vai subir mais, na medida em que atividades continuarem paradas”, alertou.
De acordo com o levantamento, na carga fracionada o setor de lojas foi o que mais cortou pedidos, com recuo de 40,74%. O setor de embalagens teve a maior redução, 55,36%, no segmento de carga completa, quando todo o conteúdo do caminhão vai para um único destino. Esse número mostra que mais queda vem por aí, uma vez que embalagem é um insumo utilizado por todas os setores da indústria. Se cai a procura por embalagem, em seguida, a demanda geral acompanha o movimento.
“A gente espera noticiar a volta da carga e não só o sumiço dela. Mas tende a piorar bastante porque São Paulo entrou em quarentena esta semana. Falei com dois grandes empresários do setor e, de ontem para hoje, a queda é de 50%”, detalhou Valdívia. Segundo ele, como o volume de cargas está caindo, o faturamento também recua na mesma proporção. Pior do que isso: os clientes não estão pagando nos vencimentos, afirmou.
O presidente da NTC&Logística, Francisco Pelucio, ressaltou que a média geral é de queda de 26,14%, mas há setores que continuam sendo abastecidos. “Não houve recuo na entrega de medicamentos. As farmácias estão sendo atendidas, houve crescimento”, destacou.
Segundo Pelucio, algumas medidas do Ministério dos Transportes são positivas, como a prorrogação do registro nacional e a liberação das balanças nas pesagens. “No entanto, precisamos de apoio nas estradas. Os restaurantes estão fechados. Para que o setor de cargas possa continuar abastecendo o Brasil precisamos que os motoristas tenham uma rede de suporte, com restaurantes, borracharias, para que cheguem ao destino”, assinalou.
Plataforma
O TruckPad, maior plataforma de conexão entre caminhoneiros e cargas da América Latina, também realizou um levantamento, a partir de uma base de mais de 10 mil contratantes de frete, e os resultados estão em linha com a pesquisa da NTC&Logística. A queda é de cerca de 25% no volume de cargas nesta semana, em relação à operação normal das transportadoras.
O movimento das cargas chamadas last mile (entregas de última milha, representando o último percurso) teve recuo de quase 30%. São as entregas realizadas em estabelecimentos comerciais, como lojas de ruas e de shopping centers. “Já para as cargas completas, também chamadas full truck load, que ocupam toda a capacidade de um veículo, a pesquisa aponta queda de 20%, demonstrando que há uma desaceleração no agronegócio, no comércio atacadista e uma boa parte da indústria”, destacou o estudo da TruckPad.
Correio Braziliense