Reajuste do preço da gasolina eleva preços de alimentos

A Petrobras fez sucessivos reajustes nos preços de combustíveis este ano. No último, o aumento foi mais evidente e o valor médio da gasolina nas refinarias passou a ser R$ 2,48 por litro, um aumento de R$ 0,23 por litro, enquanto o diesel foi para R$ 2,58 por litro, R$ 0,34 a mais. A gasolina subiu 10,2% na sexta passada e o diesel, 15,1%. Com forte impacto nos setores econômicos em geral, essas elevações já refletem nos preços dos alimentos. A reportagem da Folha de Pernambuco registrou a elevação em alguns itens e especialistas dizem que a tendência é que o efeito dos reajustes da Petrobras chegue a diversos setores.

O último reajuste da Petrobras na gasolina foi o quarto no ano e o terceiro no diesel. No Centro de Abastecimento e Logística de Pernambuco (Ceasa), alguns produtos já estão mais caros, na comparação com a última semana.

Entre os produtos que já apresentam alta no preço estão alguns que são vendidos em atacado, como a caixa de 30kg da charque ponta de agulha, que no dia 16 deste mês custava R$ 810,00 e ontem subiu para R$ 821,40, segundo a cotação da Ceasa, disponível no site do Centro de Abastecimento. Já o arroz branco estava por R$ 135,90 na última semana, e ontem custava R$ 143,70 o fardo de 30kg. Outro produto que teve um aumento considerável comparado com a última semana foi o fardo de 30kg da farinha de mandioca, que custava R$ 75,00 no dia 16 de fevereiro, e ontem estava sendo vendido por R$ 80,75.

Segundo o economista Rodolfo Guimarães, o aumento do combustível vai interferir diretamente em outros produtos, já que é essencial para o deslocamento dos itens até os consumidores. “Não é algo que se deixa de consumir porque aumentou, tem a necessidade dele para transportar, impacta no custo das mercadorias. É a demanda inelástica aos preços, impacta uma série de bens, não só os alimentícios, mas no frete de encomendas, remédios”, disse.

O economista destaca que uma das formas para que o aumento não chegue diretamente ao consumidor seria o governo subsidiar o aumento, fazendo uma reorganização dos tributos. “Uma forma de coibir é fazer um subsídio explicito. O Governo que pagaria a diferença e não o consumidor, seria com recursos da receita pública. Não significa aumento de carga tributária, mas uma reorganização dos gastos. A política atual é empresarial, não faz sentido uma empresa estatal beneficiar acionistas, e prejudicar a economia”, destacou.

Como forma de não sofrer os impactos do aumento dos preços, o gerente jurídico do Procon Pernambuco orienta para que os consumidores pesquisem os produtos em locais diferentes para encontrar um preço mais acessível. “A orientação que damos é que os consumidores pesquisem, entrem no site do Procon, vejam a lista de pesquisa de preços para saber os itens que compõem, e identificar quais estabelecimentos têm preços mais elevados e acessíveis, assim ele vai ter uma vantagem”, recomendou.

Consumidores já sentem a diferença no mercado

O impacto do aumento de preços já provoca indignação e desânimo na população. Produtos como feijão, arroz e charque estão mais caros, diz a farmacêutica Andréa Apolinário, que percebeu uma alta significativa nesses produtos. “Há um mês, eu pagava R$ 6 pelo quilo do arroz integral, hoje custa R$ 9. A solução é buscar produtos alternativos, escolher o feijão mais barato, alternar o arroz com o macarrão”.

A aposentada Maria da Penha Ferraz conta que sua feira mensal para duas pessoas custava R$ 450 em 2020, subiu agora para R$ 600 e ela já calcula que vai desembolsar R$ 700 no próximo mês. “Quando a gasolina aumenta, sobe o gás, o leite, o pão. Está tudo muito caro”, desabafou.

Outra que se mostrou assustada com a alta dos preços foi a advogada aposentada Emília Dias. “A gente vai ao mercado em uma semana e, na outra, encontra tudo muito mais caro. A carne está um absurdo, por exemplo. Mas arroz e feijão também subiram muito”.

Para quem lida diretamente com o consumidor, a inflação traz o dilema de repassar ou não o aumento. Atuando há mais de 20 anos no Mercado de Casa Amarela, Marcelo Barbosa da Silva, já vem sentindo queda de 20% nas vendas de alimentos nas últimas semanas. “Muitos dos nossos clientes tiveram uma redução da renda e estão comprando menos, até porque produtos como carnes, por exemplo, nunca deixam de aumentar”.

Barbosa explica que tenta não repassar todo o aumento para o consumidor. “A situação está tão difícil que, se repassarmos na mesma proporção, os preços ficam insustentáveis. A solução é estreitar cada vez mais o seu ganho”. O mesmo acontece com o representante de vendas Flávio Leal, que tem no seu veículo, umas das principais ferramentas de trabalho. “Está tudo muito parado, não tem nem repassar a alta da gasolina”, explica. Já o marceneiro Paulo Cunha da Silva, que usa o carro para atender clientes, diz que não vai poder absorver o reajuste dos combustíveis.

Folhape

Pedro Augusto é jornalista e repórter do Jornal VANGUARDA.

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