Relatório do Banco Mundial prevê queda de 5% no PIB do Brasil em 2020

A atividade econômica brasileira deve encolher 5% neste ano por causa da crise provocada pelo novo coronavírus, projeta o Banco Mundial. O organismo multilateral divulgou ontem um relatório em que analisa os impactos da pandemia na América Latina. No conjunto da região, o PIB deve sofrer uma contração de 4,6% em 2020, segundo o Banco Mundial. A projeção não inclui a Venezuela, que já enfrentava uma forte crise antes da eclosão da pandemia da Covid-19.

Os dados fazem parte de um relatório semestral do escritório do economista-chefe do Banco Mundial para a América Latina e o Caribe, intitulado A economia nos tempos da Covid-19. Segundo o documento, o forte choque sofrido pelas economias exige respostas de políticas em diversas frentes: para apoiar os mais vulneráveis, evitar uma crise financeira e proteger os empregos. A fim de socorrer os vulneráveis a enfrentar a perda de renda motivada pelo isolamento social, os programas atuais de proteção e assistência social “devem ser rapidamente ampliados e ter sua cobertura estendida”. Ao mesmo tempo, os governos devem considerar apoiar as instituições do setor financeiro e as principais fontes de emprego, diz o relatório.

“Precisamos ajudar as pessoas a enfrentar esses enormes desafios e garantir que os mercados financeiros e os empregadores sobrevivam à tempestade”, afirma o vice-presidente interino do Banco Mundial para a região, Humberto López. “É preciso limitar os danos e lançar as bases para a recuperação o mais rapidamente possível.” Ao fazer suas projeções, o próprio Banco Mundial reconhece que as circunstâncias econômicas estão mudando diariamente. A análise tomou como base informações dos países disponíveis até 10 de abril de 2020.

Entre os grandes países da América Latina, o Brasil só não deve ter desempenho pior em 2020 do que México (-6,0%), Equador (-6,0%) e Argentina (-5,2%). Países do Caribe sofrerão um baque devido aos impactos da pandemia sobre o turismo, uma fonte importante de renda nesses locais. A recuperação no Brasil também deve ser mais lenta do que na média da região. O Banco Mundial espera avanço do PIB brasileiro de 1,5% em 2021 e de 2,3% em 2022. Para a América Latina e Caribe, a alta esperada é de 2,6% tanto em 2021 quanto em 2022.

Na avaliação do Banco Mundial, a pandemia da Covid-19 contribui para um grande choque do lado da oferta. A demanda da China e de países desenvolvidos deve cair drasticamente, afetando os exportadores de commodities da América do Sul e os exportadores de serviços e bens manufaturados da América Central e Caribe.

Muitos países da região, porém, estão enfrentando a crise com um espaço fiscal limitado. “Os governos da América Latina e do Caribe enfrentam o enorme desafio de proteger vidas e ao mesmo tempo limitar o impacto das consequências econômicas”, diz o economista-chefe do Banco Mundial para a região da América Latina e Caribe, Martin Rama. “Isso exigirá políticas coerentes e direcionadas em uma escala raramente vista antes”, completa.

Informalidade
O Banco alerta, ainda, que níveis mais elevados de informalidade no mercado de trabalho latino tornam mais difícil a assistência social às famílias. A proteção de todas as fontes de emprego também é mais incerta. “Muitas famílias vivem ‘da mão para a boca’ e não dispõem de recursos para suportar os bloqueios e quarentenas necessários para conter a propagação da pandemia. Muitos também dependem de remessas internacionais, que estão em colapso”, diz a instituição, que defende a ampliação de programas de assistência social.

“Ao mesmo tempo, os governos terão que arcar com grande parte do prejuízo. Socializar esse prejuízo pode exigir a aquisição de participação em instituições do setor financeiro e empregadores estratégicos por meio de recapitalização. Esse apoio será essencial para preservar os empregos e possibilitar a recuperação”, afirma o relatório.

Para o Banco Mundial, o risco de uma crise financeira não pode ser totalmente descartado, em razão da magnitude do choque, por isso a necessidade de dar apoio a instituições desse setor. O Banco ressalta, no entanto, que qualquer medida nesse sentido deve ser transparente, com acordos sólidos para administrar os ativos recém-adquiridos.

O organismo multilateral ressaltou, ainda, que a América Latina assiste a uma saída de investimentos externos em portfólio muito maior do que na época da crise financeira global de 2008. “No nível doméstico, muitos devedores não serão capazes de cumprir suas obrigações ou solicitar renegociações, ou simplesmente ficarão inadimplentes”, diz o documento.

O Banco Mundial informa também em seu relatório que distribuirá até US$ 160 bilhões em apoio financeiro nos próximos 15 meses para ajudar os países a proteger os pobres e vulneráveis, apoiar as empresas e fortalecer o processo de recuperação econômica.

Acordo da Opep reduz produção
A Organização dos Países Produtores de Petróleo e seus parceiros, grupo denominado Opep +, definiram ontem o que consideram “o maior corte na produção da história” para sustentar os preços do óleo em meio à pandemia do novo coronavírus. O grupo superou o impasse com o México e definiu redução de 9,7 milhões de barris por dia (bpd) em maio e junho. O pacto encerra a guerra de preços entre Rússia e Arábia Saudita, que derrubou as cotações da commodity, em meio à queda na demanda por conta do coronavírus. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, aprovou o acordo. Em uma rede social, disse que o pacto salvará “centenas de empregos” no setor de energia americano. Trump também parabenizou o presidente russo, Vladimir Putin, e o rei saudita, Salman bin Abdulaziz Al Saud. “(Foi um) ótimo acordo para todos”, escreveu Trump.

Correio Braziliense

Pedro Augusto é jornalista e repórter do Jornal VANGUARDA.

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