Relatório mostra que fim de Auxílio Emergencial aumentou pobreza

Estima-se que a pobreza e a desigualdade aumentaram no Brasil após a redução substancial e eventual descontinuação do Auxílio Emergencial em 2021, em meio ao desemprego persistentemente alto e a elevação do custo de vida. Segundo o Relatório de Pobreza e Equidade no Brasil, publicado pelo Banco Mundial, isso evidencia a dependência das famílias brasileiras do suporte do Estado diante de más condições no mercado de trabalho.

O levantamento mostra que a deterioração do mercado laboral diminuiu a renda domiciliar proveniente do trabalho, com os 40% mais vulneráveis da população sendo os mais atingidos. De acordo com Gabriel Lara Ibarra, economista sênior do Banco Mundial, o mercado passou a oferecer menos vagas e menores salários, o que acentuou a necessidade de medidas de assistência social.

“A dependência existiu nos últimos anos. Uma maneira de interpretar isso é que, em 2020, a pobreza foi menor do que em 2021 e em 2019. Por isso, a pobreza diminuiu tanto na pandemia, pois as famílias mais pobres, que já tinham baixíssima renda, ganharam um benefício enorme e essencial para sobreviver. Num cenário de alta inflação e menor remuneração, é inevitável olhar para a assistência do governo como uma saída possível para os mais pobres”, disse Ibarra.

Educação
O estudo também reafirmou que a parcela mais pobre da sociedade costuma ter pouco acesso à tecnologia e ao capital humano, o que ficou mais evidente com o cenário imposto pela pandemia da Covid-19. A falta de aula nas escolas foi um reflexo de como a educação e a qualificação profissional foram prejudicadas durante a quarentena.

De acordo com a publicação, em julho de 2020, uma em cada cinco crianças em idade escolar não estava matriculada em alguma escola (4,4%), ou não tinha acesso a qualquer atividade escolar (15,7%). Quatro meses depois, essa parcela ainda estava acima de 10%, com alto nível de desigualdade: 27,8% das crianças do Norte e do Nordeste não estavam matriculadas ou não tinham acesso a atividades escolares.
Além disso, uma pesquisa feita por telefone indicou que as crianças que frequentavam escolas públicas eram muito menos propensas a seguir aulas presenciais, mesmo considerando-se as modalidades híbridas (42,8%, contra 76,6% das crianças no ensino particular).

O Professor de Economia da Universidade de Brasília (UnB), Carlos Alberto Ramos, afirma que, quando as atividades foram para a forma remota, quem não tinha acesso aos recursos foi penalizado, o que afeta as perspectivas futuras quanto à educação e ao desempenho do país. “Isso vai se refletir por décadas. Ou seja, isso não se recupera e vai gerar menor rendimento do país quando essas crianças se incorporarem ao mercado de trabalho.”

Correio Braziliense

Pedro Augusto é jornalista e repórter do Jornal VANGUARDA.

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