Com forte resistência entre bolsonaristas, o ministro da Justiça, Flávio Dino, buscou ajuda de aliados e até de um ex-adversário para driblar os obstáculos na oposição.
O ex-presidente da República José Sarney, rival histórico no Maranhão; o presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), Davi Alcolumbre (União-AP); e a relatora da CPI do 8 de Janeiro, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), foram escalados para angariar mais votos na busca pela aprovação para a vaga no Supremo Tribunal Federal (STF).
Aliados acreditam ter um piso de 50 apoios, suficiente para o sucesso da empreitada, e um teto de até 62 votos, que pode ser alcançado caso a articulação seja feita de forma eficaz. É nesse intervalo de 12 parlamentares que o grupo de Dino pretende trabalhar com mais afinco até a sabatina, agendada para o dia 13 de dezembro. A intenção é virar votos ou ao menos amenizar o clima durante a sessão de perguntas.
Dino tem dito a interlocutores que encara essa como uma de suas campanhas mais difíceis, mesmo depois de já ter concorrido inúmeras vezes ao governo do estado, Senado, Câmara e prefeitura. A estratégia da base é concentrar esforços em senadores indecisos. Há a perspectiva de que muitos sejam favoráveis à indicação, mas não querem declarar, justamente para evitar represálias diante da postura combativa de Dino e de ataques de outrora feitos a bolsonaristas.
Dino passou a ter Sarney, de 93 anos, como cabo eleitoral. O ex-presidente da República ligou nesta semana para alguns senadores pedindo para que apoiem a indicação ao Supremo. Dino foi o responsável por dar fim ao período de influência de Sarney no governo do Maranhão, mas os dois são aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e começaram uma aproximação no ano passado.
O ponto de partida foi a morte de Sávio Dino, pai do ministro da Justiça, vítima da pandemia de Covid-19. De lá para cá, Dino contou com o voto do ex-presidente da República para ingressar na Academia Maranhense de Letras e, nas eleições de 2022, costurou o apoio do PV, presidido localmente por Adriano Sarney, neto do emedebista, a Carlos Brandão, nome de Dino para o governo do estado.
Entre os alvos do grupo de aliados de Dino estão senadores de partidos como Podemos, União Brasil e até no PP. Dentro dessas legendas há nomes considerados mais de centro e que já votaram com o governo em pautas importantes durante esse ano.
Dino, no entanto, não descarta conversar com o núcleo duro da oposição, como a bancada do PL, mas sem a pretensão de mudar o posicionamento desses parlamentares, como é o caso de Damares Alves (Republicanos-DF) e de Flávio Bolsonaro (PL-RJ).
Ponte com evangélicos
Alcolumbre tem sido também um dos principais interlocutores de Dino nessa aproximação com opositores. O presidente da CCJ é pré-candidato à presidência do Senado e tem feito diversos acenos para conquistar o apoio da direita na Casa para 2025, o que facilita a interlocução.
Eliziane tem feito a ponte, principalmente, entre os senadores evangélicos. Ela tenta organizar um café da manhã da bancada religiosa com Dino, mas esbarra na resistência de parlamentares da oposição em serem vistos publicamente com o ministro da Justiça. Segundo aliados, por esse motivo, há encontros secretos sendo realizados entre o indicado ao STF e senadores fora da base do governo.
Levantamento do GLOBO com os 81 senadores mostra que 24 disseram ser a favor da nomeação de Dino para o STF. Por outro lado, 21 se posicionaram contra, número maior dos que os 18 que se opuseram à indicação do hoje ministro Cristiano Zanin, em junho, quando o ex-advogado do presidente conseguiu o aval para assumir uma vaga na Corte.
O Globo