Senador Douglas Cintra e Wolney Queiroz, são contra impeachment

Wagner Gil

Enquanto a maioria dos deputados que votaram pelo impeachment e dos senadores que ainda vão se manifestar, mas já existe uma tendência da maior parte pelo afastamento, os dois representantes de Caruaru no Congresso Nacional, Wolney Queiroz (PDT) e Douglas Cintra (PTB), mostram fidelidade ao atual Governo Federal e já se pronunciam a favor da permanência da presidente Dilma Rousseff (PT) no comando do país. Em entrevista à CBN, o senador Douglas foi direto. “Sou contra o afastamento de Dilma. Não existe acusação de corrupção contra a presidente”, afirmou.

O primeiro a se pronunciar foi o deputado Wolney Queiroz, antes e durante a histórica votação que ocorreu no último domingo (17), na Câmara dos Deputados. Mesmo pressionado pela maioria que já havia decidido pelo afastamento, o caruaruense chegou a discursar por alguns segundos e afirmou que a ‘política não é para os fracos’ e, desta forma, votaria contra o afastamento.

Para sustentar sua posição, o deputado afirmou que não ficaram comprovadas as pedaladas fiscais, motivo pelo qual o processo teve abertura na Câmara dos Deputados. “Ficou comprovado que não houve pedaladas e o julgamento aqui (na Câmara de Deputados) está sendo político”, disse Wolney Queiroz.

Além disso, Wolney seguiu a orientação do partido, que foi radicalmente contra o afastamento. Em reunião da executiva nacional do PDT, ficou decidido que quem votasse contra seria expulso da legenda. Cinco deputados desobedeceram às orientações e irão sofrer o processo de expulsão. Em Pernambuco, praticamente toda bancada votou pelo impeachment da presidente, incluindo o deputado Eduardo da Fonte (PP), considerado um dos votos certos do governo.

Como agora a bola é com o Senado e ele já havia se posicionado contra o impedimento de Dilma, o senador Douglas Cintra, que está substituindo o titular Armando Monteiro (atualmente no cargo de ministro da Indústria e Comércio Exterior), falou com o VANGUARDA. Na sua opinião, o clima será tenso. “Será uma excelente oportunidade que terei, mais uma vez, de exercer a responsabilidade que tenho com o meu Estado e o povo pernambucano para me posicionar claramente sobre o grave momento que o Brasil atravessa. Antes de mais nada, estou certo de que compartilho a opinião da esmagadora maioria da população brasileira, segundo a qual a Operação Lava Jato representa um grande e significativo avanço ético na vida pública nacional, impondo novo modelo no trato da coisa pública em geral e nas relações empresas-governo em particular”, disse o petebista.

Ele lembrou que não são apenas ‘governistas’ que estão sendo investigados. “Paralelamente, observo, com pesar, que altos dirigentes de todos os principais partidos políticos – governistas e de oposição – são citados nessa e em outras investigações. Em uma conjuntura tão delicada como a presente, atitudes apaixonadas, não importa de qual quadrante do espectro político-ideológico se originem, não contribuem para que o país supere os impasses que angustiam a consciência nacional”, desabafou o senador.

Douglas ainda deixa no ar dúvidas sobre o futuro do país, caso o afastamento se confirme na Câmara Alta. “À presente altura ninguém, rigorosamente ninguém, é capaz de prever com segurança qual o destino que aguardaria um eventual governo Michel Temer. Ainda que muitos alardeiem a celebração de um ‘acordão’, um grande pacto pela governabilidade, num suposto day-after (expressão para o dia seguinte) de Dilma, não dá para adivinhar os próximos desdobramentos que a Lava-Jato traria para os novos detentores do poder”, observou o senador.

Douglas destacou ainda que muitos indiciados e condenados na Lava Jato foram indicados pelo PMDB. “Afinal, não há como esquecer alguns dos principais ex-dirigentes da Petrobras, sob investigação do Ministério Público e da Polícia Federal, ou já condenados pelo juiz Sérgio Moro, que foram indicados pelo PMDB, partido até há pouco presidido pelo vice-presidente Temer. É evidente que Moro jamais aceitará abrandar, aliviar, o rigor dessas diligências, mesmo porque ele já deu provas sobejas da seriedade do seu compromisso com a verdade e com o Estado democrático de direito”, discursou.

CUNHA ALVO

Ele destacou que não existe envolvimento da presidente Dilma. “Outro ponto para o qual faço questão de chamar atenção é o de que existem provas do envolvimento de pessoas do governo e de alguns parlamentares em todo esse imbróglio, mas não da participação da presidente da República. “Já as provas que pesam contra políticos de grande projeção, como o presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), são públicas, do conhecimento de todos. Mesmo assim, não percebo vigor equivalente nas cobranças pela saída de Cunha da presidência da Câmara, nem pela cassação do seu mandato. Eduardo Cunha seria o sucessor de Temer, no impedimento deste, caso o processo de impeachment avance no Senado”, afirmou o senador caruaruense.

O petebista também falou em mudança e na participação de deputados e senadores para tirar o país da crise. “Se não promovermos, no Congresso Nacional, as mudanças constitucionais e legais indispensáveis para fazer com que o Estado volte a caber dentro do PIB, estaremos negando a este e aos próximos governos a capacidade de atender às necessidades mínimas do povo brasileiro. Por que continuar a se iludir e a mistificar a opinião pública pregando o impeachment como solução para todos os males nacionais? O impeachment não é uma panaceia. Por que não refletir e dizer o que deve ser feito?”, finalizou.

Natural do Rio de Janeiro, é jornalista formado pela Favip. Desde 1990 é repórter do Jornal VANGUARDA, onde atua na editoria de política. Já foi correspondente do Jornal do Commercio, Jornal do Brasil, Folha de S. Paulo e Portal Terra.

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