SETEMBRO AMARELO E “SOBREVIVENTES ENLUTADOS”

_Como enfrentar o luto pelo suicídio de um ente ou pessoa próxima?_

Desde 2014, no Brasil, o mês de setembro é inteirinho dedicado às discussões e ações relativas à prevenção do suicídio, e é, sobretudo, neste período, que todas as atenções se voltam para este tema ainda considerado tabu na sociedade. Muito se fala sobre o que motiva uma pessoa a tirar a própria vida ou tentar contra ela; os sinais que podem dar antes da fatalidade ocorrer; ainda sobre como ajudar quem tem ideação suicida. Uma temática de igual importância e que precisamos também dar atenção é como os chamados “sobreviventes enlutados pelo suicídio” lidam com a perda e com a culpa. Este assunto é urgente e necessário a fim de evitar que uma tragédia se torne ainda maior ou traga consequências irreparáveis.

Lidar com a morte de um familiar ou amigo é algo muito difícil para boa parte das pessoas, mas quando se trata dessa mesma temática relacionada às pessoas que se suicidaram, a dor do luto parece ser ainda mais pesada, visto que traz consigo uma série de estigmas, preconceitos e, sobretudo, culpa por parte dos mais próximos. De fato, o suicídio ainda é, infelizmente assunto proibido em muitos ambientes e isto precisa mudar para que, cada vez mais, vidas sejam preservadas. É preciso cuidar dos que sofrem e falar sobre o tema não é a única forma de “aliviar” esse peso.

Existem alguns caminhos que podem ser seguidos para tornar essa experiência menos traumática para os entes, como explica a neuropsicóloga Érika Lima: “antes de qualquer coisa, respeitar o seu luto é imprescindível. Escolha um bom profissional para acompanhar esta difícil jornada; busque informações que lhe façam compreender melhor o suicídio e que te ajude a desmistificá-lo, e tente perceber-se diante desse processo de luto. Além disso, faça, se assim julgar importante, rituais de despedida, como maneira de homenagear aquele se foi; procure apoio se sentir que não está conseguindo administrar o luto e, talvez o mais importante, não se isole”.

Aos amigos próximos, vizinhos, colegas de pessoas que se suicidaram, também é possível agir para amparar aos familiares enlutados. “Se a gente não tem uma palavra a dizer, podemos emprestar nossos ouvidos e ser empáticos. Precisamos respeitar a dor do outro e o tempo de luto de cada um. É importante sempre se manter presente e em contato com o outro, pois a dor e o sofrimento podem aumentar com o passar dos dias e meses. Mostre-se disponível e pergunte se a pessoa precisa de ajuda, e, ainda mais, se possível, promova situações de bem-estar, relaxamento e prazer, para ajudar o enlutado a dar continuidade à sua vida”, complementou a neuropsicóloga.

Ainda é também possível contar com o Centro de Valorização da Vida (CVV), um canal importante e necessário, que funciona 24h, todos os dias, e de forma gratuita. Basta ligar 188 e lá, voluntários treinados poderão ajudar as pessoas que procuram apoio emocional. Caso a pessoa não possa ou não queira ligar, ainda é possível o atendimento por chat e e-mail, que podem ser facilmente acessados no site www.cvv.org.br.

*SETEMBRO AMARELO*

Com o objetivo de conscientizar pessoas sobre o suicídio e evitar seu acontecimento, o Setembro Amarelo foi incluído no calendário nacional desde 2014, no Brasil, pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM). Este ano, a campanha tem como tema: “se precisar, peça ajuda!”.

O SUICÍDIO EM NÚMEROS:
Segundo a última pesquisa realizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2019, os números de suicídio estão diminuindo no mundo, mas os países das Américas, o cenário é diferente, e os índices não param de subir. No Brasil, por exemplo, são registrados cerca de 14 mil casos por ano, uma média de 38 pessoas por dia se suicidando.

Ao analisar os números de casos relacionados a crianças e adolescentes de 15 a 19 anos, segundo dados da Secretaria de Vigilância em Saúde, divulgados em 2022, entre os anos de 2016 a 2021, houve aumento de 49,3% nas taxas de mortalidade neste grupo, chegando a 6,6 por 100 mil, e de 45% entre pessoas de 10 a 14 anos, correspondente a 1,33 por 100 mil.

No mundo inteiro, anualmente são mais de 700 mil suicídios, sem levar em conta a subnotificação, estimada em mais de um milhão de casos. Ainda segundo a OMS, em 100% das situações, há relação com doenças mentais não diagnosticadas ou tratadas de forma incorreta, levando à conclusão que: a maior parte dos casos poderia ter sido evitada com acesso adequado à informação e tratamento adequados.

Pedro Augusto é jornalista e repórter do Jornal VANGUARDA.