Vencedor do Prêmio de melhor Direção de Documentário no Rio Festival 2016, o longa-metragem Super Orquestra Arcoverdense de Ritmos Americanos se revela uma surpresa experimental a partir do próprio nome. Parceiros em várias produções – como os elogiados longas “Açúcar” (2017) e “Amor, Plástico e Barulho” (2013) e o premia do curta-metragem “Praça Walt Disney”(2011), os pernambucanos Sergio Oliveira e Renata Pinheiro retomam a parceria, juntamente com o roteirista Leo Pyrata, neste novo documentário, onde apresentam um Sertão globalizado, esteticamente modificado, tendo como premissa o registro, em tom fabular, da sexagenária orquestra de baile Super Oara, de Arcoverde (PE).
O filme chegou às telas de cinemas do país no dia 15 de novembro, e paralelamente, realiza um circuito alternativo pelo interior de Pernambuco, de 25 a 29 de novembro nas cidades de Belo Jardim, Serra Talhada, Triunfo e Arcoverde, locação do longa.
Em contraste absoluto com a paisagem, os ruídos e os habitantes, ouve-se de fundo hits clássicos da música norte-americana. Coabitando simultaneamente, estão jumentos, crianças, feirantes, adolescentes em vestidos de debutante. Em Arcoverde, cidade a 250 km do Recife, o cruzamento de eletrônicos com barulhos de máquinas anunciam um novo Sertão, impulsionado pela promessa do progresso e da modernidade. No entanto, a globalização sertaneja já era uma realidade cultural há pelo menos meio século.
O filme toma como ponto de partida a história e nome da Orquestra Super Oara, fundada em 1958 pelo músico Egerton Verçosa, mais conhecido como o maestro Beto – uma orquestra de baile de repertório internacional, americanizado e de canções românticas.
O que me encantou foi saber o significado por extenso do nome. Conhecia, claro, a Super Oara, de clubes, festas e tal. Mas uma banda de baile chamada orquestra arcoverdense de ritmos americanos?! O nome já passava uma ideia de mistura cultural, já tinha uma potência, ‘Super’, e de quebra num sertão já cosmopolita, ou o que é que isso possa significar. Isso tudo misturado a uma cultura popular onipresente e diversa, explica o diretor Sérgio Oliveira.
Ao longo das filmagens, contudo, o argumento inicial foi tomando outro corpo. O que inicialmente, retrataria a história da orquestra, acabou revelando um contexto mais amplo e peculiar: o de um sertão desmitificado, de um recorte contemporâneo sobre o Sertão nordestino, enfatizando a transformação da paisagem e suas contradições, sendo o contraste social o protagonista. Enquanto a orquestra anima festas de debutantes, a cidade é tomada por jumentos e motos. Assim, o road-movie vai sendo embalado por standards americanos diversos e até por “A Morte do Cisne”, de Tchaikovsky, tudo mesclado a manifestações populares como o bumba-meu-boi e o Reisado.
O sertão é um universo mítico do imaginário brasileiro. A literatura, a poesia e o cinema brasileiro demarcaram a geografia dessa região. Por muito tempo se perpetuou um ideário do sertão como puro, um esquecido rincão, do que era ‘genuinamente’ brasileiro. Entretanto, o Nordeste historicamente foi (e é) território de imigração de vários povos, sua cultura sempre foi mutante e aberta a influências. Os próprios ritmos da região, como o baião tem muito de valsa; o xote, de polka; a quadrilha junina, de danças palacianas etc. Então, entramos abertos naquela região, abertos à sua contemporaneidade, àscontradições e aos acontecimentos, conta Oliveira.
Produzido pela empresa pernambucana Aroma Filmes e distribuído pelaInquieta Cine, o longa conta com os patrocínios do Programa Petrobras Cultural, do BRDE/Fundo Setorial do Audiovisual(FSA)/ANCINE e incentivo do Funcultura/Governo de Pernambuco.
SINOPSE
Uma tradicional orquestra de baile sertaneja, a Super Oara, anima festas de debutantes de vestidos vaporosos e cores vibrantes. Enquanto isso, esse mesmo Sertão, território mítico do imaginário brasileiro, é transformado em sua paisagem por grandes obras, ao ritmo de máquinas e operários. Super Orquestra Arcoverdense de Ritmos Americanos é um documentário em tom fabular que faz um recorte de um sertão contemporâneo onde alguns privilegiados celebram e outros menos afortunados, animais incluídos, dançam, cantam, mas não são convidados para a festa. Strangers in the night…
NAS REDES
TRAILER: https://vimeo.com/296015652
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SÉRGIO OLIVEIRA (Diretor)
Sergio Oliveira é diretor e roteirista. Ganhou prêmio de melhor diretor de Documentário no Rio Festival 2016 com o Super Orquestra Arcoverdense de Ritmos Americanos. Também com Renata Pinheiro, dirigiu Açúcar (2017), ficção ambientada em um engenho de açúcar, com Maeve Jinkings como protagonista, passando pelo Festival do Rio, pelo Festival de Roterdam (2018) e ganhou o prêmio de Melhor Filme pelo júri da crítica, no Festin Lisboa PRT (2018).
Seu primeiro longa documentário Estradeiros, também em parceria com Renata Pinheiro, foi o grande vencedor da Semana dos Realizadores-RJ e melhor filme pela Abracine no Cine PE. Realizou curtas como Praça Walt Disney (Grande Prêmio San Diego Latin Festival-EUA, Prêmio de Juri no Indie Lisboa-PT, etc), O ouvido de Vinicius, Schenberguianas (Melhor Doc. no Cine PE) e Faço de mim o que quero (Grande Prêmio Curta Cinema RJ).
RENATA PINHEIRO (Roteirista e Realizadora)
Graduada em Artes Visuais, Renata tem como característica de suas obras cinematográficas a construção visual como principal elemento da construção da narrativa. Seu primeiro longa-metragem de ficção, Amor, Plástico e Barulho foi selecionado para o Indie Lisboa (2014) é vencedor de mais de 15 prêmios, entre eles Melhor Direção de Arte no Festival de Brasília (2013) e Melhor filme pela ABRACINE e no Festival Brafftv (Canadá).
Superbarroco, seu primeiro curta, foi selecionado para a Quinzaine dês Réalisateurs– de Cannes (2009) e ganhou mais de 30 prêmios. Pinheiro é premiada também por seu destacado trabalho em Direção de Arte, como nos filmes Zama, de Lucrecia Martel, Tatuagem de Hilton Lacerda e A Festa da Menina Morta, de Matheus Nachtergaele.