OPINIÃO: O dia que Pernambuco parou

POR RAFFIÊ DELLON*

Um dos maiores ícones da música brasileira, o saudoso baiano Raul Seixas, na sua canção composta no ano de 1977 junto ao compositor Claudio Humberto, narraria bem às últimas quarta e quinta-feira do solo pernambucano: “Foi assim, No dia em que todas as pessoas, Do planeta inteiro, Resolveram que ninguém ia sair de casa, Como que se fosse combinado e todo o planeta, Naquele dia, ninguém saiu de casa, ninguém”. Resultado de uma Greve da Polícia Militar junto com os Bombeiros, que geraram todos os tipos e níveis de debates, boatos e irresponsabilidades possíveis para o ser humano.

Do ponto de vista Constitucional, uma greve ilegal, a CF é direta no seu artigo 142: “Ao militar são proibidas a sindicalização e a greve”. Em períodos pré-eleitorais, nas vésperas do início de uma campanha que tende a ser uma das mais acirradas possíveis, nas duas esferas, não seria cabível na ótica histórica, que a greve encerrada na última noite, não tivesse “um braço” político-eleitoral, trata-se de Joel da Harpa, suplente de Vereador pelo PP na Câmara Municipal de Jaboatão dos Guararapes.

A greve quando é feita com foco construído na coletividade, com democracia plena, respeitando os princípios da nossa Constituição maior, é o pleno exercício dos valores democráticos, conseguidos depois de muita luta na rua, mas, quando o contexto envolve uma politicagem com finalidades apenas pessoais, resultando num estado de pânico e boataria que percorreu todos os 184 municípios do estado, não tem apoio civil que seja esperado. Perde a economia, perde os princípios humanos, perde a sociedade.

Diante de tudo que ocorreu nesses 2 dias, outro ponto que não podemos deixar de mencionar é a comprovação, de forma literal, da importância da Política (é com P maiúsculo mesmo) para o nosso cotidiano, e que é impossível, mesmo ainda rejeitada por muitos, fugirmos ou nos excluirmos dela. O debate sobre a Segurança Pública no Brasil deve ser um ponto constante, já é de praxe o atual Governo Federal governar nas custas dos estados e municípios, a falta de uma lógica mais sensata no Pacto Federativo, faz com que 87% do que é investido nessa área, venha dos governos estaduais e municipais.

Levantamento da ONG “Contas Abertas” diz que os investimentos na Segurança Pública pelo Governo Federal entre 2011 e 2012, R$ 3,3 bilhões do montante autorizado para as aplicações no setor deixaram de ser investidos, em valores já atualizados pela inflação. Entre 2003 e 2012, R$ 7,5 bilhões deixaram de ser investidos na área. Já no ano passado, os investimentos em segurança pública continuaram em ritmo lento. Dos R$ 2,2 bilhões orçados pelo governo federal, apenas R$ 688,8 milhões foram efetivamente investidos em 2013. O valor representa apenas 30% do total liberado. Será que só devemos nos preocupar com a Segurança Pública em momentos de greve?

*Raffiê Dellon é presidente do PSDB de Caruaru

Artigo: Caruaru, 157 anos! Uma cidade vocacionada para o futuro

Por Adolfo José

O dia hoje é especial para mais de 300 mil habitantes. A cidade de Caruaru festeja o aniversário de 157 anos de emancipação política e tem muito a comemorar. São conquistas e desafios para um promissor futuro.

Nesse contexto a Associação das Empresas de Transportes de Passageiros segue trabalhando em prol da comunidade para levar um transporte público de qualidade a mais de um milhão e meio de usuários que usam o sistema por mês na cidade.

Esse ano em especial tem muito que comemorar. O Sistema de Bilhetagem Eletrônica é um exemplo. Após a efetiva participação da população, cadastramos após a presente data, mais de 40 mil usuários nesse moderno sistema, que chega para atualizar distorções de décadas na cidade. Mais de um milhão de reais foi investido pelas empresas que fazem parte da AETPC nessa tecnologia.

Avançamos ainda no quesito inclusão. Hoje a frota conta com mais de 60 ônibus adequados para as pessoas com necessidades especiais. Num futuro bem próximo, toda a frota será adaptada para atender a esse tipo de usuário.

Houve ainda uma melhora considerável na frota. Hoje os mais de 130 veículos têm uma idade média de até cinco anos, um bom padrão, equivalente a grandes cidades do Brasil.

Esses investimentos diminuíram consideravelmente a quebra dos veículos, com isso, transtornos foram evitados para usuários do sistema e motoristas de outros veículos. As empresas também se orgulham de gerar emprego e renda para a Capital do Forró. São mais de mil famílias que passaram por rigoroso treinamento para oferecer um serviço com qualidade as pessoas que usam o transporte coletivo na cidade.

Temos que melhorar e reconhecemos isso, mas o poder público também precisa fazer a parte que cabe a ele. As vias ainda precisam de um melhor cuidado e infraestrutura, para que assim a mobilidade possa fluir com a eficácia desejada pela população.

Mas temos que olhar para o futuro e ele é promissor. O nosso maior desafio agora é implantar em Caruaru a integração, para que essa fase de melhora no transporte coletivo seja ainda mais consolidada. Esperamos que nos próximos dois anos essa situação vire uma realidade.

Em nome das empresas Bahia, Capital do Agreste, Coletivos e Tabosa, que fazem parte da AETPC, venho expressar a gratidão que temos por Caruaru e desejar um feliz aniversário para essa terra que nos acolheu. Parabéns, Caruaru!

Adolfo José é presidente da AETPC

Artigo: Uma luta em busca do respeito

Por Laura Gomes

Este Dia Internacional Contra a Homofobia, acima de tudo, é uma data para reflexão, que simboliza uma luta em busca do respeito. Respeito pelo amor, pela igualdade e pela vida. Atualmente vivemos um momento muito delicado em relação à preservação dos direitos da população LGBT e precisamos lutar para que as estatísticas sejam revertidas e números positivos se consolidem.

De acordo com pesquisa do CGB (Grupo Gay da Bahia), em 2013 foram documentados 312 assassinatos de gays, travestis e lésbicas no Brasil, incluindo uma transexual brasileira morta no Reino Unido e um gay morto na Espanha. O Brasil continua sendo o campeão mundial de crimes homo-transfóbicos. Segundo agências internacionais, 40% dos assassinatos de transexuais e travestis no ano passado foram cometidos aqui.

Infelizmente, Pernambuco e São Paulo são os estados onde mais LGBT foram assassinados e Roraima e Mato Grosso onde os mais perigosos para o segmento. Manaus e Cuiabá foram as capitais onde se registraram mais crimes homofóbicos, sendo o Nordeste a região mais violenta, com 43% de “homocídios”. Números preocupantes quando se trata de uma região que concentra 28% da população brasileira.

Por isso, tenho lutado em busca de tempos melhores. Tanto enquanto estive à frente da Secretaria de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos de Pernambuco, como agora em meu mandato parlamentar, tenho realizado diálogos com representantes do segmento e propondo ações de valorização, que garantam os direitos da população LGBT.

Precisamos materializar políticas públicas para fortalecer esse enfrentamento contra a homofobia. Isso sempre fez e sempre fará parte da minha trajetória, pois sei que não se trata de uma opção, mas sim uma condição natural. Vamos seguir firmes nesta luta, na esperança de que um dia estaremos celebrando essa data não com índices tão alarmantes, mas com evidências de que viramos o jogo contra o preconceito e o respeito foi colocado em primeiro lugar.

Laura Gomes é Deputada Estadual pelo PSB

Artigo: Emprego e inflação

Por Aldo Amaral

Desemprego e inflação são eventos que interferem negativamente no bem-estar da população. Sociedades com alta taxa de desemprego, como é o caso de diversos países da Comunidade Europeia, têm bem-estar diminuído.

E o convívio humano pautado na paz passa a correr riscos. Economias com alta taxa inflacionária são caracterizadas pelo baixo consumo e com alto desemprego. Neste caso, pessoas se encontram em estado de desconforto.

São variadas as causas do desemprego: ausência de qualificação profissional, inércia do estado no investimento público e inoperância do poder estatal em incentivar a economia.  As causas da inflação são diversas: aumento do gasto público, mais consumo e menor oferta de produto, baixa produtividade da economia e desatenção dos governos com o controle inflacionário.

Desemprego e inflação são males da economia. Portanto, precisam ser combatidos. Causa-me surpresa, entretanto, ouvir de variados economistas de que para a taxa da inflação brasileira ser diminuída é necessário o aumento do porcentual de desempregados.

Tal raciocínio é esdrúxulo e egoísta. Economistas que defendem o aumento do desemprego como instrumento para o combate a inflação mostram ausência de preocupação com o conforto das pessoas.

A pergunta que deve ser feita é: como combater o aumento do custo de vida? O combate ao aumento dos preços através do incentivo do desemprego gerará males econômicos e sociais. Mais desemprego, menor receita para o estado. Mais desemprego, mais despesas do poder público com o seguro-desemprego. Mais desemprego, menor consumo. Mais desemprego, diminuição do bem-estar das pessoas.

O emprego traz dignidade para as pessoas. O emprego gera sorrisos e alegrias. A inflação proporciona perda do poder de compra, diminuição de agrado, tristeza. Emprego, bem-estar e poder de consumo não combinam com inflação. Porém, não se pode combater a inflação incentivando o desemprego.

O estado deve ofertar, em parceria com a iniciativa privada, qualificação profissional. Com isto, mais produção, mais oferta de produtos e serviços. O estado, em parceria com a iniciativa privada, deve investir em infraestrutura. Por consequência, maior produção, mais empregos, mais renda.

O estado deve priorizar os gastos públicos sem desconsiderar, entretanto, a qualificação dos serviços públicos. Governos que cuidam da sua população combatem a inflação com decisões sábias e não com medidas simplistas que retiram a felicidade e a dignidade das pessoas.

Por Aldo Amaral – Presidente da Força Sindical de Pernambuco

Artigo: Porque o P.C.B: Democracia,Pluralidade e Criminalização dos movimentos sociais

No ano de 1095, o Papa Urbano II, em meio a uma multidão, proclama em Roma a primeira cruzada. Como herdeiro de São Pedro e representante de Deus na terra conclama todos os cristãos a lutarem contra um inimigo comum, os hereges, os apócrifas, os infiéis que ameaçavam a Terra Santa e toda a cristandade.

Em uma incrível jogada de marketing político, ele tira o foco dos agudos problemas e crises vivenciadas pela Europa e canaliza em uma direção, o Oriente, o Islã. As chacinas, o genocídio foi um pequeno custo a ser pago em nome da glória de Deus, da Igreja e da redenção da Europa.

No final do século XX e início do século XXI, assistimos mais um movimento cruzadista, desta vez, está em jogo a glória e  a sacralização do capital e do mercado, e o inimigo em comum são os movimentos sociais/populares e em particular o movimento sindical e dos excluídos como um todo.

Esta nova Guerra Santa busca através de vários artifícios e subterfúgios liquidar todas as conquistas sociais, trabalhistas, sindicais e previdenciárias conquistadas pelos trabalhadores ao longo da história recente. Nesse processo, o capital e seus agentes buscam não apenas liquidar, como desqualificar, criminalizar e estigmatizar os sujeitos, suas entidades representativas e os seus movimentos.

A gênese desse fenômeno perverso surge a partir da década de 1970, quando a crise se instalou nos países economicamente hegemônicos. Para os teóricos conservadores e reacionários é chegada a hora da reestruturação produtiva do capitalismo.

O capital necessitava nesse momento recompor sua taxa de lucro, aumentar seu poder e controle sobre o processo de produção e sobre os trabalhadores. Estão assim, lançadas as bases do neoliberalismo.

As teses ultraliberais do austríaco Friedrich Hayek que permaneciam engavetadas, voltaram à tona, tornaram-se a bíblia do neoliberalismo, a Escola de Chicago seu templo e o economista Milton Friedman seu Profeta. Surgem novas frases conceitos e termos: Reforma do Estado, Estado Mínimo, reforma fiscal, flexibilização, requalificação, terceirização, privatização, entre outras.

Um novo modelo requer um novo rosário e um novo credo, e para atingir tais objetivos sacrossantos o Estado tem que se mostrar forte, não na regulamentação da economia e sim para romper com o poder dos sindicatos, na redução dos gastos sociais. Todos essas artimanhas, tratam-se na verdade de um processo de globalização, melhor dizendo de mundialização da economia, o qual, está ancorado nos grupos transnacionais que ordena a geopolítica do capital em escala planetária e a desregulamentação e liberalização da economia.

Na passagem dos anos 1970 aos 1980 ocorre uma radical reviravolta nas relações internacionais, com a passagem da Coexistência Pacífica à Nova Guerra Fria. Os Estados Unidos e o sistema capitalista, que na década de 1970 pareciam enfraquecidos e na defensiva, passaram à ofensiva na década de 1980, enquanto a URSS e os movimentos nacionais e esquerdistas do Terceiro Mundo, que se encontravam em ascensão, bruscamente se retraíram, caindo numa posição defensiva.

Enquanto isso, as estruturas sociais, econômicas e tecnológicas, bem como, os movimentos ideológicos e culturais sofreram alterações profundas, no quadro de uma ampla reação conservadora, da qual Ronald Reagan, Margareth Thartcher e o Papa João Paulo II serão seus expoentes.

O mundo moderno cedia passos ao pós-moderno, gerando a crise da socialdemocracia no primeiro mundo, em seguida a do nacionalismo desenvolvimentista no terceiro mundo, e finalmente do socialismo real soviético no segundo mundo. No quadro de uma acelerada militarização. A URSS tentaria reformar-se e, finalmente, se renderia e desintegraria, ponto fim à Guerra Fria e a um ciclo histórico.

Em um breve espaço de tempo, o neoliberalismo ortodoxo foi ungido em catecismo do capital. A ofensiva adquiriu proporções mundiais. A sacralização do mercado foi acompanhada de privatizações selvagens, que se propagaram dos países industrializados  aos do terceiro mundo, e onde quer que  tenha encontrado resistência, o FMI e o Banco mundial, vigilantes, intervieram no seu estilo, quebrando-os e subjugando-os.

Em pouco tempo assistiu-se a uma concentração violenta e bárbara do capital nas mãos de uma minoria cada vez mais rica, enquanto a situação dos assalariados se degradava e a percentagem de pobres aumentava de maneira alarmante. Ao mesmo tempo, uma poderosa máquina difusora do pensamento único promoveu no mundo uma gigantesca cruzada em nome de um novo projeto “civilizatório”.

Tal empreendimento contou com apoio sacerdotal de intelectuais, jornalistas, homens de negócios, políticos convertidos das mais diversas matrizes ideológicas. A “lógica” e a “razão” pragmáticas deram legitimidade atais propósitos.

Nesse novo cenário global, perante o controle quase absoluto do sistema midiático pelo grande capital, criou-se uma situação aberrante que inverte os papéis. O projeto neoliberal é apresentado como humanista e renovador, e suas teses, profundamente reacionárias, aparecem mascaradas de progressistas.

O opositores são fustigados como gente arcaica, herege, defensores da irracionalidade. Sugere-se que o Estado é vocacionalmente inimigo do homem moderno e que o mercado, sem controle algum, responde às aspirações mais espontâneas e nobres do homem. Pela liturgia do neoliberalismo, o Estado está associado à tirania; o mercado está associado à democracia; a cidadania está associada ao consumo; e os movimentos sociais/populares associados ao atraso e à delinqüência.

É nesse contexto do neoliberalismo, que a emergência do Estado Penal em detrimento do Estado social,  que ocorre  o processo de criminalização dos pobres, da pobreza e dos movimentos sociais/populares, desencadeado pelo capital e suas múltiplas estratégias de ampliação de suas taxas de lucros.

Nesse ambiente o Estado lança mão do aparato policial e do judiciário, no sentido de conter as “classes perigosas”. Na lógica da criminalização, os jovens pobres e negros, a população de rua e os movimentos sociais/ populares são alvos preferenciais.

Seguindo essa trajetória, as políticas sociais sofrem um processo profundo de mercantilização, distanciando-se, portanto, da perspectiva de proteção social. Nesse sentido o que impera é o mérito individual e se destrói a noção de universalidade dos direitos, dando lugar à focalização e a seletividade.

No Brasil, os ideais neoliberais vãos se fundir com uma cultura política centenária, em que a pobreza é vista como sinônimo de vadiagem, amoralidade e delinquência, onde as questões sociais foram e são tratadas como caso de polícia.

Em um país onde os resquícios do patrimonialismo, coronelismo e clientelismo se reciclam ao longo dos tempos sem perder sua essência, a criminalização dos pobres, da pobreza e de qualquer movimento de resistência cai como uma luva nas mãos das nossas elites, até porque da parte delas nunca reconheceram historicamente os indivíduos das camadas populares como portadores de cidadania.

A criminalização dos movimentos sociais/populares é uma dimensão orgânica da política de controle dos Estados, nos mais diferentes recantos do planeta em tempos de crise. Essas ações articulam diferentes planos das estratégias de dominação, que vão desde a criminalização da pobreza e a judicialização dos protestos e das greves até à repressão política aberta e a militarização dos espaços públicos e privados, que têm como o único intuito, reduzir, domesticar ou eliminar as dissidências e a contestação da ordem perversa em que estamos inseridos.

As minúcias do Estado penal se expressam maneira clara em relação a quem ele combate através do estigma e da criminalização de seus opositores. É nessa trajetória de ascensão do neoliberalismo que entendemos a desconstrução do Estado de Proteção Social e do surgimento do Estado Penal, no qual as lutas pelos direitos sociais passam a ser vistas como delitos, e os sujeitos sociais que as promovem, como delinqüentes.

A consolidação do neoliberalismo e a estruturação do Estado Penal não se deveram apenas à eficiência do capital e de seus múltiplos agentes, ocorreram principalmente pela fragilidade de setores de esquerda em todo o mundo, que não quiseram ou não souberam entender a nova realidade que se apresentava: suas contradições, dimensões e suas demandas. Caíram no conto do “pensamento único” e do “fim da história”. Arquivaram seus projetos, renunciaram à luta, esconderam suas bandeiras e se esqueceram de suas palavras de ordem.

Acomodados em gabinetes ou aparelhando entidades e movimentos, pensaram que poderiam modificar a sociedade, servindo aos responsáveis da ordem estabelecida, ou seja, que o avanço se daria pela soma de concessões e favores doados pelos algozes às suas vítimas.

O Partido Comunista Brasileiro (P.C.B) entende, que o capitalismo ao vestir o modelo neoliberal, se despiu ao mesmo tempo de qualquer princípio humanitário. Que a saída à crise mundial está na organização e mobilização social/popular e na construção de novos paradigmas civilizatórios, calcados nas relações solidárias e fraternas entre os homens.

Nesse contexto, ser esquerda no Brasil hoje é estar nas mobilizações populares, é possuir uma agenda centrada na plena defesa dos trabalhadores, é renegar a cooptação política e o servilismo, é nunca trair nossas ideias e ideais, é estar na vanguarda da luta e na sua pluralidade, é ter orgulho das nossas bandeiras e fé no futuro brilhante para humanidade.

Ser esquerda em Caruaru, é nunca trair os trabalhadores e os excluídos, é buscar uma alternativa democrática e popular de poder, é principalmente combater o modelo de gestão municipal que por meio de uma simbiose perversa combina patrimonialismo, coronelismo, clientelismo e o neoliberalismo, que busca através de um populismo personalista e midiático alienar o povo e construir um Estado Penal no “país de Caruaru”.

Ser esquerda em Caruaru é romper com o modelo maniqueísta que tem permitido a alternância dos grupos oligárquicos no poder, responsáveis direto pelo grau de exclusão e segregação social de seus habitantes, no qual se tornou possível falar de democracia sem povo ou participação popular, e de cidade sem cidadãos. Ser de esquerda é combater em seu cotidiano todas as formas de tiranias, de opressões e de preconceitos, é se opor à cruzada neoliberal em sua hegemonia planetária. Ser de esquerda é estar no PARTIDO COMUNISTA DO BRASILEIRO (PCB).

Comissão Provisória de Caruaru – Partido Comunista Brasileiro.

OPINIÃO: O circo da Copa

Por MENELAU JÚNIOR

A Copa do Mundo começa em poucos dias, mas na TV, no rádio, nas revistas e nos jornais ela já começou faz tempo. Nos intervalos comerciais, só se vê Copa do Mundo. Todos querendo obrigar quem pensa e quem não pensa a ser o mais patriótico dos brasileiros. Nesta Copa do Mundo, quem torce contra é traidor da pátria. Felipão e Neymar já ganharam a Copa – e milhões em publicidade ufanistoide. Só para se ter uma ideia, Neymar pede pelo menos 4 milhões de reais só para começar uma conversa com qualquer anunciante que tenha interesse em sua imagem. Um trabalhador que ganha o salário mínimo precisaria trabalhar mais de 400 anos para receber algo próximo.

Não é de hoje que o futebol é usado com fins muito diferentes do que a mera diversão. Durante o período da ditadura militar, os slogans tratavam de ensinar o povo – e a seleção – a ir “pra frente”. “Pra frente, Brasil!”. Agora, o governo torra milhões em propaganda para mostrar ao povo que o investimento valeu a pena, que “muitas obras vão ficar” como “legado” da Copa e que os brasileiros só ganharam com o evento. As TVs usam e abusam de imagens em câmera lenta para prolongar a emoção do gol, do grito dos torcedores e do lucro dos patrocinadores.

A “Copa das Copas”, como quer fazer crer a presidenta Dilma – aliás, a mesma que já declarou que não irá à abertura do torneio (porque sabe que levaria “a maior vaia da história deste país”) – , já é uma grande tragédia brasileira, independentemente do resultado. É uma tragédia para os brasileiros honestos que pagam impostos e não têm saúde, educação e segurança de qualidade. É uma tragédia para os brasileiros honestos que não usam seu dinheiro para pagar multas de mensaleiros. Gastamos quase 30 bilhões de reais, superfaturamos todos – TODOS! – os estádios e não terminamos 40% das obras de infraestrutura prometidas.

Levantamento da Folha de São Paulo mostra que apenas 10% das obras de mobilidade urbana foram concluídas. Ou seja, construímos estádios em lugares sem nenhuma tradição no futebol (Manaus, Cuiabá e Brasília, por exemplo) e deixamos de lado o que poderia ser realmente útil à população. A Arena Pernambuco, por exemplo, só será paga daqui a 35 anos.

Mas a propaganda – privada e pública – está aí para mostrar que todos devemos torcer pelo Brasil. O PT sabe que, se o Brasil perder, a catástrofe eleitoral será iminente. Lula acreditava que, durante a Copa, o PT estaria nos braços do povo, com Dilma prestes a ser reeleita. A realidade é muito diferente. Todos sabem que o quebra-quebra vai acontecer em todas as cidades, que os turistas serão assaltados e sequestrados, que os problemas de mobilidade urbana ficarão escancarados para o mundo inteiro. E Dilma e o PT estão desesperados diante do crescimento de seus adversários. Mas, apesar de tudo isso, a propaganda quer nos ensinar a torcer e morrer pelo Brasil.

Em poucos dias, estaremos lotando restaurantes, bares e todos os lugares em que houver uma TV para exercermos nosso dever patriótico – e quase “divino”! – de torcer pelo Brasil. O país, afinal, será “a pátria de chuteiras”. Minha família e meus amigos torcerão pelo Brasil. Eu também, mas de forma diferente. Não desejo que o Brasil vença a Copa. Perdendo, talvez pensemos de forma séria no que realmente interessa: educação, segurança, saúde. Em ano eleitoral, o circo da Copa do Mundo só interessa a quem quer nos fazer de palhaços.

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Menelau Júnior é professor de língua portuguesa. Escreve para o blog todas as quintas-feiras. E-mail: menelaujr@uol.com.br

OPINIÃO: ‘A Peleja do Diabo com o Dono do Céu’

Por DANIEL FINIZOLA

Vou dar sequência à análise de discos emblemáticos da música brasileira. Anteriormente falamos sobre a famosa “Tábua de Esmeraldas”, do Jorge Ben. Hoje vamos falar de um artista de voz inconfundível que traz “no seu alforge” letras místicas cheias de metáforas e sons sombrios. Ao mesmo tempo mistura frevo, baião e baladas com a singularidade que marcou sua carreia. Ele veio de uma geração que rendeu bons frutos para a música nordestina, notabilizando-se por uma musicalidade que conectou o Nordeste e suas características com o universo musical dos anos 70. Não é à toa que muitos o comparam com figuras como Bob Dylan.

Mas vamos fazer um recorte na carreira de Zé Ramalho com disco que considero fundamental para entender um pouco do universo musical desse paraibano. O nome já intriga: “A Peleja do Diabo com o Dono do Céu” Esse é o título do seu segundo disco. Foi gravado em 1979 no estúdio de 8 canais da C.B.S, na cidade do Rio de Janeiro, lugar que acolheu muitos nordestinos que foram em busca de oportunidades artísticas, como Alceu Valença e Elba Ramalho.

O disco conta com sucessos emblemáticos na carreira do artista, como “Garoto de Aluguel” e “Admirável Gado Novo”, música que, curiosamente, passou pela censura da ditadura militar.

A obra também aponta toda uma interação com a cena política e artística da época. “Falas do Povo”, terceira faixa do disco, foi dedicada a Geraldo Vandré, artista que compôs uma das músicas-símbolo contra a ditadura militar. “Agônico”, música instrumental batizada por Jorge Mautner, onde Zé Ramalho executa todos os instrumentos. “Monte das Amplidões”, baião cheio de cadência e discurso místico.

Participações rechearam o disco de sensibilidade e genialidade. “Beira do Mar”, por exemplo, tem o violão de 12 cordas executado pelo virtuoso Geraldo Azevedo. “Jardim das Acácias”, uma das minhas preferidas, tem a assinatura de Pepeu Gomes nas guitarras. Não podemos deixar de destacar os arranjos de corda e metais de Paulo Machado, algo que fez o trabalho dialogar com o universo erudito sem perder o caráter popular.

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A ideia da capa é do próprio Zé Ramalho, e brinca com o imaginário do título do disco. Tem participação especial de figuras como José Mujica Martins, o famoso Zé do Caixão, e o grande artista plástico Hélio Oiticica, ou seja, só tem fera na concepção da obra.

A última música do disco é um frevo de bloco cheio de metais que acabou virando um clássico da música nordestina. Porém, o arranjo que caiu no gosto popular não foi o que Zé Ramalho fez para esse disco, mas o que Amelinha apresentou em um dos seus trabalhos. A música ganhou velocidade e virou um arrasta-pé que não pode faltar no repertório de nenhuma banda que se dispõe a animar o salão. Quem nunca dançou ou escutou a música “Frevo Mulher” no São João? Aqueles acordes inicias são inconfundíveis, não é mesmo?

A “Peleja do Diabo com o Dono do Céu” é, sem dúvida, um trabalho que deu grandes contribuições para a música nordestina e brasileira. Esse tem lugar especial na minha discoteca.

Até semana que vem.

daniel finizola

 

@DanielFinizola, formado em ciências sociais pela Fafica, é músico, compositor e educador. Escreve todas as quartas-feiras para o blog. Site: www.danielfinizola.com.br

Artigo: Economia Caranguejo

Por Raffiê Dellon

Popularmente, os crustáceos da infraordem Brachyura, conhecidos como “Caranguejos”, são sempre lembrados nas alusões ou comentários que lembrem algo “que anda pra trás”.  Nesta ótica, o comparativo claro com a nossa economia brasileira é algo mais do que oportuno. Estamos perdendo nossa relevância dentro do cenário mundial. Matéria desta semana do Jornal Valor Econômico revela que a fatia do Brasil na economia global deve recuar 4,7% entre 2013 e 2019. Sendo que a expectativa para a evolução econômica da maioria dos outros países é inversa. E aí?

No quadro que demonstra a fraquíssima ou quase nula evolução da economia brasileira, fica evidente que esse resultado é consequência de equívocos internos do governo do PT de Dilma Rousseff e não de uma conjuntura internacional que seria desfavorável ao Brasil. Com isso existe a diminuição da produção industrial nacional, fazendo com que nosso país se configure apenas como vendedor de produtos primários, à mercê dos outros, não conseguindo alcançar um patamar concreto de desenvolvimento sustentável.

A gestão do PT no Governo Federal, que agora se finda com 12 anos, além de não conseguir se portar como facilitadora do desenvolvimento interno, não soube aproveitar o bom momento pelo qual passou a economia internacional. O fracasso na implementação do PAC (Plano de Aceleração do Crescimento), será sem dúvida, um dos vários negativos pontos do legado petista à frente do Palácio do Planalto. A indústria brasileira passa por um momento de desconfiança e o principal resultado desse cenário deve ser a baixa evolução do Produto Interno Bruto em 2014.

Essa falta de tranquilidade do investidor em aplicar, devido saber que as regras do jogo podem mudar de uma hora para outra, caracteriza um intervencionismo excessivo, que não estimula nenhum empresário. Toda essa equação traz a tona, um antigo termo para dentro da casa do cotidiano no Brasil, a chamada “Carestia”, palavra usada para expressar que o preço dos produtos tem subido nos supermercados e bens de consumo. A diminuição de oferta de alguns artigos também é algo que começa a aparecer. Tudo isso é reflexo da falta de crédito, da tal “Economia Caranguejo”, que saí do principal Gabinete do Planalto, direto para a mesa da cozinha do mais necessitado.

Raffiê Dellon é Presidente do PSDB de Caruaru e escreve todas as segundas-feiras sobre Política para o Blog do Wagner Gil.

OPINIÃO: Somos todos macacos?

Por MENELAU JÚNIOR

Semana passada, um gesto do jogador do Barcelona Daniel Alves chamou a atenção do mundo inteiro. Quando ia cobrar um escanteio, o brasileiro foi alvo de uma banana jogada por um torcedor. Associar morenos e negros a macacos é um xingamento em várias partes do mundo. Daniel, ironicamente, pegou a banana, descascou-a e a pôs inteirinha na boca. Em seguida, cobrou o escanteio e o jogo seguiu. Na internet, Neymar tirou uma foto ao lado do filho segurando uma banana e escreveu a hashtag #somostodosmacacos. Pronto: o slogan correu o mundo. O que pouca gente sabia é que o slogan fora criado anos antes por uma agência de publicidade.

É óbvio que a atitude de Daniel Alves ajudou a trazer à tona a sempre atual discussão sobre racismo e preconceito. É também óbvio que a turma do oba-oba – incluindo anônimos e muitos, muitos artistas – aderiu à “campanha”. Não aderi porque não sou macaco, embora creia que todos sejamos uma evolução deles. Questiono o sentido literal da expressão “somos todos macacos”. Ela, ao mesmo tempo em que dá a entender que os seres humanos são iguais, reforça a ideia de que negros são macacos. Ou seja, pode até haver uma boa intenção na mensagem, mas ela não deixa de reforçar preconceitos históricos.

Na internet, cada um escreve o que quer e posta o que quer. Uma amiga postou em seu perfil numa rede social: “Homem é homem, macaco é macaco, e racismo é crime”. Foi a frase mais inteligente que li sobre o assunto. Outro amigo aproveitou a deixa para fazer uma crítica ao sistema de cotas: “Se somos todos macacos, para que o sistema de cotas?”, questionou. Mas a maioria repetiu, como papagaio, o slogan “Somos todos macacos”.

Particularmente, não creio que o Brasil seja um país racista como governantes populistas tentam nos fazer crer. Preconceito há contra gordos, contra gays, contra loiras e contra negros. O problema por aqui é muito mais social que étnico. Por aqui, as pessoas sofrem preconceito porque “têm jeito de pobre”, porque “se vestem como pobres” ou porque são pobres. E aí não adianta ter olhos verdes e cabelos loiros. O nosso preconceito é contra a pobreza. Querer dividir o Brasil em pretos e brancos é só mais um recurso vergonhoso de quem abusa da inocência e da ignorância alheia.

Para terminar, macacos estão entre os animais mais inteligentes da natureza. Mais de 99% do nosso DNA é igual ao deles. As diferenças biológicas, portanto, são mínimas. Mas o suficiente para que macacos não se matem por causa de times de futebol, não sejam hipócritas em seus discursos, não matem seu semelhante por nada. Honestamente, os macacos não merecem a comparação com os seres humanos.

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Menelau Júnior é professor de língua portuguesa. Escreve para o blog todas as quintas-feiras. E-mail: menelaujr@uol.com.br

OPINIÃO: A cultura da bola e o monopólio da Fifa

Por DANIEL FINIZOLA

Estamos a poucos dias de assistir um dos maiores espetáculos do globo, a Copa do Mundo. Em 2007, ano em que o Brasil foi escolhido para sediar o torneio, isso era motivo de orgulho e felicidade para 79% dos brasileiros, segundo o Datafolha. Afinal de contas, somos o país que detém cinco campeonatos mundiais e os maiores craques do mundo, histórico que nos deu o título de “país do futebol”, certo? Mas parece que a população, de uma maneira geral, se cansou de ser apenas o “país do futebol”.

Ano passado, quando estouraram as manifestações de junho, víamos vários cartazes nas ruas com frases do tipo “Queremos saúde e educação padrão Fifa”. Parece que caiu por terra o discurso de que grandes eventos mudam um país. Mais uma falácia do modelo desenvolvimentista, ou seja, crescimento a todo custo, adotado pelos gestores que chegaram ao poder no Brasil. O que de fato muda um país é a interação consciente e qualificada da população junto às esferas de poder, seja privada ou pública.

A Copa é um negócio de muitas cifras. Quem sedia o evento ganha visibilidade internacional, impulsiona a economia, mesmo que de forma sazonal, não há como negar. Muitos se apoiam na retórica de que a Copa deixa um grande legado de infraestrutura que vai beneficiar o país, mas aí eu pergunto: é preciso uma Copa para gerar infraestrutura que atenda às demandas da população? Não deveria ser assim, concordam? É preciso analisar e ver quem de fato mais vai se beneficiar com essas obras. Com certeza, a especulação imobiliária anda ganhado espaço nesse jogo milionário. As arbitrariedades que envolveram as desapropriações para a realização das ações da Copa fizeram o “país do futebol” sentir vergonha. Quem não lembra do triste episódio envolvendo o Museu do Índio no Rio de Janeiro? Esse é apenas um dos vários episódios em torno das desapropriações em nome do evento Fifa.

O BNDES concedeu empréstimos generosos para as empreiteiras que estão à frente da construção dos estádios. Juros baixíssimos, algo em torno de 0,9% ao ano. Bom demais, não? O problema é que o orçamento de todos os estádios estourou, e não foi pouco. As empreiteiras pegaram empréstimos no limite do permitido. Vejamos: supondo que eu seja dono de uma empreiteira e orço o estádio em R$ 745,3 milhões, mas, supostamente, o dinheiro não deu. Então pego mais alguns milhões emprestados com esses juros camaradas. Aplico o dinheiro em uma instituição com juro maior, lucro algumas centenas de reais no mercado financeiro e pago o empréstimo ao BNDES. Alguém duvida que isso esteja acontecendo? A Copa, sem dúvida, é um meganegócio para as empreiteiras. Ainda temos grandes questões a debater, como, por exemplo, qual será a real utilidade dos estádios após o fim da Copa? Vejamos o estádio de Brasília, um dos mais caros construídos para o evento. Custou a bagatela de R$ 1,4 bilhão. Qual a tradição futebolística que a nossa capital tem? Sendo assim, seria bom analisar o custo-benefício de uma obra como essa, não?

A Fifa, instituição que procura monopolizar a cultura do futebol no mundo, é uma empresa constituída de pouca transparência, muita exigência, lobby e corrupção. Nos últimos anos procurou aportar seus eventos e influência em países com instituições democráticas frágeis, impondo um modelo de produção e comercialização do evento que garante a todo custo lucros exorbitantes para ela e seus parceiros. A famigerada Lei da Copa, aclamada pela maioria de oposição e situação, interfere diretamente na Lei de Responsabilidade Fiscal, gerando o endividamento acima do permitido pelos municípios que vão sediar o Mundial. Isenta a Fifa do pagamento de impostos, libera visto de trabalho para os indicados da entidade máxima do futebol e por aí vai.

O Brasil virou rota de vários eventos internacionais, seguindo a lógica da visibilidade e crescimento econômico que o país passou a ter nos últimos dez anos. Eventos como a Copa, que fazem uso de dinheiro público, devem ser envolvidos de uma cultura de transparência, controle social e participação popular, ou seja, valores que passam longe da filosofia da Fifa.

Até semana que vem.

daniel finizola

 

@DanielFinizola, formado em ciências sociais pela Fafica, é músico, compositor e educador. Escreve todas as quartas-feiras para o blog. Site: www.danielfinizola.com.br